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Tensão na África: Após golpe em Níger, países se preparam para o pior

Rhuan C. Soletti · 7 de Agosto de 2023 às 16:13 ·

O Golpe de Estado ocorreu no último dia 26, quando a guarda presidencial do Níger deteve o presidente Mohamed Bazoum e sua família. O evento reflete a expansão da influência política e militar da Rússia na região.

A delegação da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) deixou um aviso decisivo para a milícia que aplicou um golpe de Estado no Níger, em julho deste ano. Eles exigiram, com apoio da França, o retorno da ordem constitucional, sob pena do uso de força militar. Os países de Burkina Faso, Mali e Guiné foram suspensos da Cedeao, por serem co-autores do golpe. Estes disseram que vão defender Níger e o grupo apossado, e o restante da Cedeao disse que acompanhará a Nigéria.

O ultimato dos países da Cedeao teve o prazo encerrado na noite de domingo (6), que expirava à meia-noite local (20H00 de Brasília). No mesmo dia, a cúpula militar que aplicou um golpe de Estado no Níger informou pela televisão que a Nigéria começou a posicionar tropas para invadir o país, visando reposicionar o presidente retirado à força no país. Chefes de defesa da Cedeao elaboraram um plano de ação militar, para o caso de os líderes do golpe não devolverem o presidente eleito ao poder. 

"A França apoia com firmeza e determinação os esforços da Cedeao para derrotar esta tentativa de golpe", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês num comunicado depois de a ministra dos Negócios Estrangeiros, Catherine Colonna, ter-se reunido com o primeiro-ministro do Níger, Ouhoumoudou Mahamadou, em Paris.

O presidente deposto é um aliado da França e dos Estados Unidos da América (EUA), que mantêm no país, respectivamente, 1.500 e 1.100 soldados, para atuar na luta contra os grupos radicais que afetam o Níger e outros países da região. 

Reprodução: Google Earth

No domingo (6), quase 30.000 apoiadores da junta militar se reuniram em um estádio na capital do Níger para expressar apoio ao golpe militar. O grupo também comemorou a decisão de não ceder à pressão externa da Cedeao.

Este quinto golpe militar no Níger contou com apoio da Rússia através do Wagner Group, o país de Mali e de Burkina Fasso, que também contam com governos militares apoiados pela Rússia. Caso ocorra a invasão, eles afirmaram que irão declarar guerra à Nigéria. As Forças Armadas do Mali e de Burkina Faso, que declararam defesa da “decaída” Níger, também chegaram ao poder após golpes de Estado em 2021 e 2022.

Pouco antes do fim do ultimato da Cedeao, o Exército do Níger anunciou o fechamento do espaço aéreo do país “até nova ordem”. Os militares alegaram uma “ameaça de intervenção” e advertiram que “qualquer tentativa de violação do espaço aéreo” resultará em “uma resposta enérgica e imediata”.

O Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP), o órgão dos militares no poder, também citou um “desdobramento anterior para a preparação da intervenção em dois países da África Central”, sem especificar quais. “Qualquer Estado envolvido será considerado cobeligerante”, acrescentou o conselho.

Ex-potência colonial na África ocidental, a França, cada vez mais ofendida pelos militares que tomaram o poder em Niamey, Bamako e Uagadugu, expressou apoio aos esforços da Cedeao para acabar com a “tentativa de golpe” no Níger. No domingo à noite, o governo francês anunciou a suspensão “até nova ordem das ações de ajuda ao desenvolvimento e apoio orçamentário” em Burkina Faso.

Diante da ameaça de intervenção, que se torna mais clara devido à preparação dos países vizinhos, o espaço aéreo nigerino está fechado”, disse um representante da junta em declaração televisionada. “As forças armadas do Níger e todas as nossas forças de defesa e segurança, apoiadas pelo apoio inabalável do nosso povo, estão prontas para defender a integridade do nosso território”, declarou.

Golpe de Estado no Níger

O Golpe de Estado no Níger ocorreu em 26 de julho deste ano, quando a guarda presidencial deteve o presidente Mohamed Bazoum e sua família. O comandante da guarda presidencial, general Abdourahamane Tchiani, proclamou-se líder de uma junta militar. As forças da guarda presidencial fecharam as fronteiras do país, suspenderam as instituições estatais e decretaram toque de recolher.

Na madrugada desse dia, a conta do Twitter (X) da presidência nigerina anunciou que os guardas presidenciais, comandados pelo general Tchiani, se engajaram na "manifestação anti-republicana". A esposa do presidente, Hadiza Bazoum, e seu filho, Salem, foram detidos com ele no palácio presidencial. O ministro do Interior, Hamadou Souley, também foi preso e mantido no palácio, enquanto cerca de vinte membros da Guarda Presidencial foram vistos do lado de fora no final do dia. 


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O golpe foi liderado por Tchiani, a quem alguns analistas disseram que Bazoum planejava se demitir de seu cargo. Fontes próximas ao presidente disseram que ele havia decidido pela demissão do comandante em uma reunião dois dias antes do golpe, já que suas relações estavam “tensas”.

Cedeao

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, cujo acrónimo é Cedeao, é uma organização de integração regional que engloba quinze países da África Ocidental. São eles: 

  • Benim;
  • Cabo Verde;
  • Cabo Verde;
  • Costa do Marfim;
  • Gâmbia;
  • Gana;
  • Guiné-Bissau;
  • Libéria;
  • Níger;
  • Nigéria;
  • Senegal;
  • Serra Leoa;
  • Togo;

Países suspensos, graças ao golpe:

  • Burquina Fasso;
  • Guiné;
  • Mali.

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