Número de invasões despenca após instalação da CPI do MST
O terceiro mandato de Lula já tem o maior índice de ocorrências desde 2016 e acumula, em apenas seis meses, quase a totalidade de invasões durante os quatro anos do governo Bolsonaro
Em comparação ao governo de Jair Bolsonaro (PL), as invasões saltaram para 62 entre janeiro e junho deste ano. Porém, depois da criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Câmara para investigar a fonte de financiamento das invasões, o número despencou.
Apenas uma propriedade foi invadida desde o início dos trabalhos da comissão, que foi proposta por parlamentares da oposição. A comissão foi instalada no dia 17 de maio de 2023.
Após a CPI, a única invasão foi em 10 de junho, numa fazenda produtiva em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), a 350 quilômetros da capital paulista.
Mal o atual presidente empossado, Luis Inácio Lula da Silva, assumiu o governo, o número de invasões de propriedades — fazendas produtivas, áreas de pesquisa e prédios públicos — disparou.
Na série histórica da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA), o terceiro mandato do petista já tem o maior índice de ocorrências desde 2016 e acumulou em apenas seis meses quase a totalidade de invasões durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro (62).
O ápice das invasões terroristas ocorreram durante o chamado “abril vermelho”, mês historicamente caracterizado por uma mobilização mais intensa do MST. Os números relativos às invasões são de um levantamento do jornal O Globo. Neste mesmo mês, o presidente Lula, num sinal de claro apoio ao movimento, levou para a China, na comitiva oficial, o líder nacional do MST, João Pedro Stédile, que declarou que as invasões continuariam pelo ano todo, e não se reduziriam ao Abril Vermelho.
Para parlamentares da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA) e da comissão parlamentar, a CPI do MST teve papel fundamental para frear as invasões.
Segundo seu requerimento original, o objetivo da CPI é investigar o “real propósito” da atuação do movimento, bem como seus possíveis financiadores. Palácio do Planalto e governos estaduais do PT fizeram pouco caso das invasões, e deputados da bancada ruralista mobilizaram assinaturas suficientes sob o discurso deste pouco caso.
“O próprio governo mandou o MST parar [com as invasões]. Estava criando prejuízo [político] para o próprio governo. A gente sabe quem comanda tudo. [O número de invasões] despencou, e o MST conseguiu continuar fazendo suas nomeações no governo”, afirmou para O Globo o presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR).
- Agenda política: Senado analisa projetos de educação, CPMI ouve Mauro Cid e Lula viaja para Europa
- Após se alinhar ao PT pela aprovação da Reforma Tributária, Tarcísio jura lealdade a Bolsonaro
- A Guerra dos Chips: EUA e aliados europeus tentam conter o avanço chinês
"Depois da CPI tivemos, inclusive, o presidente Lula indo a público para se colocar contra as invasões. Então também houve um efeito político”, disse o presidente da comissão, Coronel Zucco (Republicanos-RS).
A CNA compartilha da opinião sobre o papel da CPI. “A CPI coroou o nosso trabalho. Entregamos aos deputados as informações que tínhamos em mãos, e a comissão agora está levantando os financiadores, que não são apenas do MST. Espero que ela chegue a uma conclusão no final dos trabalhos”, disse ao jornal o presidente da comissão de assuntos fundiários da CNA, Marcelo Bertoni.
Integrantes do governo Lula, como o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, não concordam com a tese de que a instalação da CPI freou as invasões pelo MST. Para ele, um acordo do governo com o movimento, firmado antes da criação da comissão, levou à queda das invasões.
"O mês de abril foi o mês das manifestações. Ali, pedimos para que as demandas fossem encaminhadas e que essa seria a melhor forma de tratá-las. O acordo foi anterior (à instalação da CPI). O governo deu o recado antes da CPI”, afirmou o ministro.
Abril Vermelho
Em abril, o grupo deflagrou mais uma etapa do calendádio de invasões. A nova fase foi chamada de "Abril Vermelho" em alusão ao caso de Eldorado dos Carajás.
No dia 17 de abril de 1996, uma ação da Polícia Militar em Eldorado dos Carajás, no Pará, resultou na morte de 21 militantes. Desde este episódio, o MST promove ondas de invasões no mês de abril. No entanto, as invasões diminuíram drasticamente durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).
Em 2023, as ações terroristas foram iniciadas no dia 3 de abril, quando, durante a madrugada, cerca de 250 famílias invadiram uma área supostamente improdutiva do Engenho Cumbe, em Timbaúba (PE). Ao que tudo indica, as invasões continuarão se estendendo por todos os meses do ano.
Na campanha presidencial, Lula afirmou que o MST teria protagonismo em seu governo. De fato, o aumento expressivo do número de invasões em relação ao último governo - no qual, ao longo de quatro anos, houve apenas 14 invasões - comprova o fortalecimento do MST no governo petista.
Veja também:
- Lula ignora ditadura venezuelana e busca centralização de poder através da Reforma Tributária
- Em três dias, duas igrejas históricas são destruídas pelo fogo na França
- Em visita à Colômbia, Lula defende criação de Parlamento Amazônico
- Bispo que é contra a conversão de jovens a Cristo será nomeado cardeal pelo Papa
- Nicarágua: Padres e fontes diplomáticas relatam perseguição, espancamentos e prisões
- Arcebispo anglicano de York diz que começar a oração que Cristo ensinou com “Pai Nosso” pode ser “problemático”
"Por apenas R$ 12/mês você acessa o conteúdo exclusivo do Brasil Sem Medo e financia o jornalismo sério, independente e alinhado com os seus valores. Torne-se membro assinante agora mesmo!"