CRISTOFOBIA

Nicarágua: Padres e fontes diplomáticas relatam perseguição, espancamentos e prisões

Diógenes Freire · 9 de Julho de 2023 às 14:26 ·

Fontes ligadas ao Vaticano disseram que o conflito na Nicarágua é um dos piores desde a Guerra Fria, quando a Igreja foi perseguida por muitos países comunistas da Europa Oriental  

De acordo com reportagem da agência de notícias Reuters, padres ligados ao clero católico na Nicarágua e fontes diplomáticas do Vaticano e de Manágua (capital da Nicarágua) relataram perseguição, espancamentos e prisões executada pela polícia política do ditador e amigo de Lula, Daniel Ortega.

Na última sexta-feira (7), a Reuters disse ter conversado com um padre da Nicarágua e outro que está fora do país na condição de anonimato. Os entrevistados informaram “um forte aumento na vigilância da Igreja por parte da polícia e de informantes cidadãos, além de espancamentos, prisões e expulsões de padres e freiras, bem como apreensões de propriedades pertencentes à Igreja”.

A informação dos padres foi confirmada - também sob condição de sigilo - por um diplomata lotado na Manágua. O diplomata disse à Reuters que está preocupado com o fato de a repressão parecer estar em andamento, com relatos confiáveis ​​de um aumento nas expulsões de ordens religiosas e confiscos de propriedades, além da vigilância.

Ao conversar com fontes ligadas ao Vaticano, a Reuters disse que os clérigos “veem o conflito na Nicarágua como um dos piores desde a Guerra Fria, quando muitos países comunistas da Europa Oriental perseguiram a Igreja”.

Na semana passada, por algumas horas, católicos do mundo inteiro comemoram a notícia de que o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, seria libertado da prisão e seguiria para o exílio. Dom Álvarez foi condenado a 26 anos de prisão por críticas ao regime de Ortega. As críticas do bispo foram consideradas “atos antidemocráticos”.

A soltura do bispo seria resultado de um acordo entre o Vaticano e o regime totalitário comandado por Ortega. Contudo, de modo semelhante ao mártir e beato Aloísio Stepinac, o bispo de Matagalpa recusou a negociação e preferiu ficar com seu povo até o fim

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Em março deste ano, dois dias após o Papa Francisco classificar o regime ditatorial da Nicarágua como uma "ditadura grosseira", o ditador Daniel Ortega decidiu suspender as relações diplomáticas do país com o Vaticano.   

A declaração do Papa aconteceu dias depois que um grupo de especialista da Organização das Nações Unidas (ONU) equiparou o regime da Nicarágua ao regime nazista. De acordo com os especialistas, Ortega e seus agentes “têm cometido e continuam a cometer graves e sistemáticas violações de abusos dos direitos humanos”. 

Esta semana, a polícia política do regime socialista da Nicarágua invadiu a casa das irmãs da Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, em León, e prendeu quatro freiras brasileiras. As irmãs já estavam há sete anos na Nicarágua. Segundo a Fraternidade, as quatro irmãs foram deportadas para missão em El Salvador, do outro lado do Golfo da Fonseca e depois de Honduras, em segurança.

Reprodução

No mês passado, a ditadura comunista comandada Ortega, na Nicarágua, tomou posse de um colégio católico à força, e três freiras estrangeiras, da Congregação que administra o colégio, estão a ponto de serem expulsas do país. 

Segundo os jornais locais e moradores, a polícia do regime ditatorial invadiu o Colégio Santa Luísa de Marillac na madrugada do dia 29 de maio. A insituição é a única escola secundária no município de San Sebastián de Yalí, no departamento de Jinotega.

Em 23 de maio, a ditadura sanguinária de Ortega prendeu o sacerdote Jaime Iván Montesinos Sauceda, da paróquia de San Juan Pablo II, em Villa Chagüitillo, município de Sébaco, na diocese de Matagalpa, um dos departamentos mais afetados pela repressão de Ortega à Igreja Católica. O fato ocorre em um contexto de perseguição e detenção de religiosos no país.

Uma semana antes, alguns dias após a Assembleia Nacional da Nicarágua anunciar a dissolução da Cruz Vermelha, a ditadura de Ortega ordenou o fechamento de duas universidades ligadas à Igreja Católica. O regime da Nicarágua acusou as duas instituições de “descumprimento” das leis. Segundo Ministério do Interior, o fechamento se deu por "dissolução voluntária". Ao todo, Ortega fechou 17 universidades privadas nos últimos 16 meses.

Jaime Iván Montesinos Sauceda ao lado de dom Rolando José Álvarez Lagos, bispo de Matagalpa. Ambos estão presos por críticas ao regime de Daniel Ortega

Da mesma forma, o regime ordenou o encerramento das atividades da Fundação Mariana de Combate ao Câncer no país, também vinculada à Igreja Católica, “por não prestar contas de sua diretoria há mais de quatro anos e de suas demonstrações financeiras por exercícios fiscais há mais de 11 anos”.

As tensões entre a Igreja Católica e o governo aumentaram em 2018, quando vários templos católicos deram abrigo a manifestantes feridos nos protestos históricos contra Ortega. Segundo informações do Vatican News, recentemente, duas freiras costarriquenhas da Congregação Dominicana da Anunciação foram expulsas do país.

Isabel e Cecília trabalhavam em um abrigo para idosos na Fundación Colegio Susana López Carazo e foram forçadas a deixar a Nicarágua na quarta-feira, 12 de abril.

O governo comunista já havia confiscado o mosteiro das monjas trapistas em San Pedro de Lóvago, uma região montanhosa na Nicarágua central. A administração da entidade religiosa foi entregue ao Instituto Nicaraguense de Tecnologia Agrícola. As freiras trapistas já haviam abandonado o mosteiro em 24 de fevereiro. A anulação do status jurídico das Missionárias da Caridade, fundadas por Santa Madre Teresa de Calcutá, permitiu ao governo de Ortega expulsar as religiosas em julho de 2022.

Durante a Semana Santa, o padre Donaciano Alarcón, missionário claretiano panamenho, também foi expulso por rezar pelo bispo da Diocese de Matagalpa, dom Ronaldo Álvarez. Condenado a mais de 26 anos de prisão pela ditadura de Daniel Ortega, dom Ronaldo estava em prisão domiciliar desde 19 de agosto de 2022.

Além das expulsões e confisco de propriedades religiosas, o regime comunista impôs restrições severas às celebrações da Semana Santa. Eventos públicos tradicionais de Páscoa foram proibidos resultando no cancelamento de mais de três mil procissões em todo o país. Aproximadamente 20 cidadãos nicaraguenses foram presos durante o período.

O Monitoreo Azul y Blanco, grupo independente e interdisciplinar que monitora ocorrências de violações dos direitos humanos na Nicarágua, registrou 71 ocorrências durante a Semana Santa, entre os dias 1 e 9 de abril deste ano. Os registros incluem ameaças, coação, detenções, cercos a templos religiosos e repressão migratória.

Os cristãos da Nicarágua foram proibidos de celebrar publicamente a Semana Santa, que termina em 9 de abril. Por ordem o ditador Daniel Ortega, atividades religiosas públicas estão proibidas há meses "por razões de segurança". 

Nesta Páscoa, festas dos santos padroeiros, procissões e a Via Crucis na Sexta-feira Santa só puderam ser realizadas dentro das igrejas e em recintos especiais. Com uma população de 60% de católicos, Ortega proibiu mais de três mil celebrações de rua.

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