OPERAÇÃO TEMPUS VERITATIS

"Não endossei qualquer ato disruptivo da Constituição", diz Padre José Eduardo

João Pedro Magalhães · 8 de Fevereiro de 2024 às 17:32 ·

"[..] não coopei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo", declarou o padre José Eduardo.

O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da diocese de Osasco, na Grande São Paulo, foi alvo de busca e apreensão durante a Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8). Após mobilização de fíeis e apoiadores, o sacerdote emitiu uma nota de esclarecimento sobre o ocorrido.

Relembre: Padre José Eduardo sofre busca e apreensão pela PF nesta quinta-feira

No documento, o religioso refutou veementemente qualquer envolvimento em atividades que atentem contra a Constituição. Ele enfatizou seu compromisso com os preceitos constitucionais e afirmou que sempre defendeu a laicidade do Estado. O padre destacou sua trajetória dedicada ao atendimento espiritual e à orientação dos fiéis, respeitando os limites estabelecidos pela sua função sacerdotal.

"[..] não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo", declarou o padre José Eduardo.

Na íntegra, confira a nota de esclarecimento emitida pelo religioso:

Nota de Esclarecimento

Para tranquilizar os fiéis, os amigos e o público em geral, que demonstrou preocupação pela notícia veiculada no noticiário nacional, indicando ter havido busca e apreensão em minha residência, venho a público esclarecer o que se segue.

Agradeço, primeiramente, pelas diversas manifestações de carinho e preocupação, sobretudo pelas orações.

Na manhã do dia 8 de fevereiro, recebi a visita de agentes da Polícia Federal na Igreja onde resido e celebro diariamente a Santa Missa, apresentando-me mandado de busca e apreensão de meu passaporte, celular e o computador; mandado este expedido nas investigações do “inquérito dos atos antidemocráticos”.

Esclareço que os policiais foram extremamente respeitosos e técnicos, explicando-me que estavam cumprindo ordens. Agradeço à Polícia Federal pelo respeito e decoro com que me trataram e também aos meus pertences.

Como é de conhecimento de todos, sou padre e professor universitário, dedico minha vida ao exercício do sacerdócio e do magistério, especialmente nas áreas de filosofia e teologia, na qual sou doutor.

Como sacerdote católico, tenho a vida voltada para o atendimento ao público em geral. Sou pároco de uma pequena Igreja na periferia de São Paulo, na cidade de Osasco, e, no último dia 4 de fevereiro, completei 18 anos de ministério sacerdotal.

Desde minha ordenação, minha atividade ministerial sempre foi desempenhada dentro dos limites previstos para o exercício do sacerdócio: administração dos sacramentos, pregação, atendimento de confissão e direção espiritual, oração e bênção para aqueles que precisam de auxílio.

Como padre católico, atendo diversas pessoas. Sou chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas. Como é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me apresentam são sempre de foro interno.

Em relação ao referido “inquérito dos atos antidemocráticos”, minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios. Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não coopei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo.

Estou inteiramente à disposição da justiça brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa.

A única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um “tratador” que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os pedidos do Poder Judiciário.

Por isso, constituo meu “tratador” o Dr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos obter nos próximos dias.

Como sacerdote, pretendo continuar meu ofício religioso, portanto, toda e qualquer comunicação sobre o assunto pode ser direcionada diretamente ao meu “tratador”.

Espero que tudo seja esclarecido o mais rápido possível. Estou em oração, especialmente pela justiça brasileira, para que Deus nos conduza sempre. Que Ele abençoe a todos!

Pe. José Eduardo de Oliveira e Silva

Osasco, 8 de fevereiro de 2024, dia de Santa Josefina Bakkhita, padroeira dos escravos e intercessora dos sequestrados.

Entenda

A ação policial, que visava desmantelar um suposto grupo golpista, restringiu as atividades do religioso. Além da busca e apreensão em sua residência, o padre está impedido de se relacionar com os demais investigados, incluindo qualquer contato por meio de seu advogado, e está proibido de deixar o país, tendo sido ordenada a entrega de seu passaporte em 24 horas.

Segundo informações da PF, o padre fazia parte do "núcleo jurídico" desse grupo, cuja suposta função era assessorar e elaborar minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária alinhadas aos interesses golpistas. Esse núcleo era composto por Filipe Garcia Martins Pereira, Anderson Gustavo Torres, Amauri Feres Saad, José Eduardo de Oliveira e Silva e Mauro Cesar Barbosa Cid.

Durante a investigação, constatou-se que o padre participou de uma reunião no Palácio do Planalto, em novembro de 2022, juntamente com Filipe Martins e Amauri Feres Saad.

Acompanhe:

 

 


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