“São usados dois pesos e duas medidas para julgar Israel”, afirma pesquisador
Claudio Dirani conversa com o professor Samuel Feldberg, especialista na relação do povo árabe com a comunidade israelense
Quando o tema é integração da comunidade árabe ao povo israelense, poucos entendem tanto do assunto como o professor e pesquisador Samuel Feldberg. Doutor em Ciências Políticas pela USP e pesquisador no Dayan Center, da Universidade de Tel Aviv, Feldberg é um brasileiro que divide seu tempo entre Israel e Brasil, morando em cada país 6 meses por ano.
Daqui a pouco, inclusive, o professor Samuel Feldberg embarcará para Tel-Aviv, apesar dos horrores causados pela invasão do Hamas no infame massacre de 7 de outubro.
Apesar da pressão dos últimos dias, o professor Feldberg aceitou conversar com o BSM sobre a escalada do terror contra Israel.
BSM: Como o sr. divide seus trabalhos durante o ano? Já tem data para retorno a Israel?
Samuel Feldberg: Sim. Moro em São Paulo e Tel Aviv. Estarei a caminho de Israel no dia 26 de novembro, onde ficarei até junho.
BSM: Não sei se o sr. acompanhou uma reportagem na CNN com um morador de um kibutz em Israel. Ele foi interrompido no meio da entrevista quando relatava os fatos sobre as ações terroristas no país. Em sua opinião, por que muitos veículos da mídia tradicional tentam encobrir os fatos?
Samuel Feldberg: Não acho que seja uma característica somente da grande imprensa, é um sintoma de anti-semitismo. São usados diferentes critérios, dois pesos e duas medidas para julgar o que Israel faz. Condenações na ONU, por exemplo, como na Comissão de Direitos Humanos – que tem entre seus membros o Irã e a Síria.
BSM: Como o sr. analisa a contraofensiva israelense até o momento? Aparentemente, o Hamas tem ainda muitos recursos para atacar Israel, vide as centenas de mísseis disparados contra o país nesta semana.
Samuel Feldberg: Neste momento, eles estão “descascando” a Faixa de Gaza, eliminando o máximo possível da capacidade militar do Hamas, inclusive seus líderes, e, provavelmente, procurando os reféns.
BSM: O serviço de inteligência do Egito chegou a afirmar que havia alertado para a invasão de Gaza há algum tempo. O sr. acredita em algum agente infiltrado que interferiu para que Israel não notasse o plano articulado pelo Hamas?
Samuel Feldberg: Não, absolutamente. Havia a percepção de uma distensão. Amplos recursos irrigando a Faixa de Gaza através do Hamas, uma duplicação do número de trabalhadores palestinos que entravam em Israel todos os dias – e uma flexibilização da entrada de mercadorias. Israel avaliou equivocadamente as intenções genocidas do Hamas.
BSM: Por falar em recursos “irrigando” o Hamas em Gaza, o sr. já alertava para os perigos do Irã e seu poder bélico nuclear desde 2018. O sr. acredita que, caso os EUA não mostrem sua força na região, os iranianos se unam ao Hamas no combate a Israel?
Samuel Feldberg: Eles farão seu próprio cálculo, que envolve também a conveniência de o Hezbollah entrar nesta guerra. Se acreditarem que podem causar um dano significativo, talvez se envolvam. É por isso que os porta-aviões norte-americanos estão lá (no Mediterrâneo) e até já se envolveram na guerra, ao abater mísseis vindos do Iêmen.
BSM: Ainda sobre os Estados Unidos, por que o Partido Democrata não trata o Irã como um patrocinador do terror? Embora tenha oferecido apoio no combate ao terror, o mundo vivia uma relativa paz na presidência do ex-presidente Donald Trump. Foi ele, inclusive, que deu fim ao acordo firmado entre Barack Obama com os iranianos.
Samuel Feldberg: Barack Obama promoveu a ideia da difusão da democracia no Oriente Médio. (também) Provocou a Primavera Árabe, uma enorme onda de repressão e o desmembramento de vários países. Estamos melhor sem ele!
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