“Estamos caminhando para a sovietização do sistema educacional”, diz Hermes Nery
Em entrevista ao BSM, o professor Hermes Rodrigues Nery demonstra que a implantação do Sistema Nacional de Educação será um desastre para o país
Um fantasma paira sobre a educação brasileira — o fantasma da sovietização. Após a desastrosa Conae (Conferência Nacional da Educação), foi enviada ao Congresso Nacional uma proposta que pode piorar ainda mais a situação vexatória da educação brasileira, construída ao longo dos últimos 30 anos. O professor Hermes Rodrigues Nery, especialista em Bioética pela Pontifícia Universidade Católica e Coordenador Nacional do Movimento Legislação e Vida, é umas das vozes que se levantam contra o Sistema Nacional de Educação, cuja implantação fatalmente causaria desde a perda de autonomia curricular até o aumento da burocratização e centralização do setor, com impactos devastadores nas instituições de ensino confessionais e particulares. Hermes Nery alerta para a imposição de ideologias esquerdistas e para a uniformização que minaria o senso crítico e a liberdade de pensamento dos estudantes. Além disso, ele lança luz sobre o alinhamento das propostas do CONAE com a Agenda 2030 e outras pautas globalistas, ressaltando o controle estratégico por trás dessas iniciativas.
Confira a seguir a entrevista que Hermes Rodrigues Nery concedeu a Paulo Briguet, editor-chefe do BSM:
Paulo Briguet: Quais os principais problemas do documento final do CONAE enviado ao Congresso Nacional?
Hermes Rodrigues Nery: O problema maior está na criação do Sistema Nacional de Educação (SNE). Quando Fernando Haddad foi ministro da Educação, preparou o terreno para isso, influenciado pelas ideias do Prof. Demerval Saviani. Infelizmente o governo Bolsonaro perdeu a oportunidade de fazer a mudança de paradigma na Educação brasileira, cujas diretrizes vêm desde o manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Não só não fez as mudanças necessárias, começando por desfazer o que o Haddad havia feito como ministro da Educação, como foi no governo Bolsonaro que aprovou-se o FUNDEB permanente, garantindo dinheiro para um sistema comprovadamente ineficiente (veja os dados do PISA). Agora, se aprovarem o Sistema Nacional de Educação, o lulopetismo imporá as ideologias esquerdistas nas escolas, em todos os níveis, com poder de decisão aos sindicatos, e retirando toda e qualquer autonomia aos Estados e municípios. O sistema estará totalmente engessado ideologicamente, e com dinheiro, para cooptar, doutrinar e perseguir os que não estiverem alinhados com a agenda da esquerda.
Paulo Briguet: O que representaria para o futuro da educação brasileira a implantação do SNE?
Hermes Rodrigues Nery: A uniformização total da educação, com o maior adestramento e controle das mentes, cujas ideologias do internacionalismo de esquerda e do globalismo, estariam minando o senso crítico, a liberdade de pensamento, a criatividade, tornando cada vez mais as pessoas reféns do Estado e dos interesses das grandes fundações e organismos internacionais, que lucram com o controle que fazem, privando as pessoas de sua humanidade. Esse processo de estandardização, em nível global, só pode acontecer com repressão e castração do pensamento, com formas cada vez mais sutis e sofisticadas de totalitarismo.
Paulo Briguet: O que significa exatamente “política de universalização do ensino obrigatório”?
Hermes Rodrigues Nery: Como falei, isso é a extensão do que já estava indicado no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, logo após a criação do Ministério da Educação, defendendo uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. É esse o paradigma que perdemos a oportunidade de mudar e que agora avança mais celeremente. Porque é isso que favorece a “monopolização política e ideológica do poder”, como explica o escritor Fausto Zamboni, no seu livro “Contra a Escola”, mas agora em nível global. E isso não é só aqui no Brasil que está avançando, dessa forma, no campo educacional e em outras áreas, mas no mundo todo, e que os governos de esquerda estão mais comprometidos com a agenda do poder global.
Paulo Briguet: Haverá perda de autonomia curricular nas escolas?
Hermes Rodrigues Nery: Ainda citando Zamboni. Ele diz que “a obrigatoriedade à instrução é uma restrição da liberdade, que poderia ser contrabalançada com a garantia de liberdade no campo educativo. A história da escolarização compulsória sempre foi, de degrau em degrau, rumo à crescente limitação dos direitos: primeiro, a instrução obrigatória; em seguida, a escolarização obrigatória; logo depois o controle e regulamentação das escolas pelo Estado; enfim, a uniformização do currículo, definido desde cima apelo Estado, de modo que já não há nem mesmo a possibilidade de modelos educacionais alternativos”. Com isso, haverá perda da autonomia curricular, e também de autonomia financeira e pedagógica dos estados e municípios, e também das escolas particulares, que estarão cada vez mais reféns da uniformização do currículo imposto pelo Estado. E assim, é o que já estamos vendo, a oposição do governo aos modelos alternativos, como o homeschooling, por exemplo, e outros. Ainda sobre isso, sabemos que as ações políticas para a padronização internacional dos currículos são implementadas há pelo menos algumas décadas. Aqui no Brasil, por exemplo, no período do regime militar, houve o pacto MEC-USAID, sob o patrocínio de David Rockfeller — foram feitos acordos internacionais para a ‘modernização’ da educação, reformando o currículo em nome de uma escola utilitária. Sobre a uniformização dos currículos, já há vários estudos acadêmicos, de tendências diversas, que falam disso. O fato é que, tendo como recorte temporal o período iminente à Segunda Guerra Mundial, destaca-se a mudança de paradigma dos currículos escolares que, neste momento, passaram a ser guiados em direção à construção de uma identidade global.
Paulo Briguet: O sistema educacional pode ser tornar mais burocrático e centralizado?
Hermes Rodrigues Nery: Sim, este é o objetivo, a sovietização do sistema educacional, excessivamente burocrático e centralizado. No Brasil, tivemos, na Lei de Diretrizes e Bases de 1962, um sistema descentralizado, organizado por Anísio Teixeira, com autonomia para os municípios e as escolas. Mas o processo de burocratização crescente e centralização começou com a nova LDB, de 1995, com o Paulo Renato Souza, mas foi na gestão do Fernando Haddad que se intensificou, para chegar ao que estamos hoje, com a iminência de se criar o Sistema Nacional de Educação, com eles quer o lulopetismo. Na verdade, como quer o Demerval Saviani, não é o Ministério da Educação que terá influência direta nas tomadas de decisão, mas sim o Conselho Nacional de Educação e o Fórum Nacional de Educação, que vão dar as diretrizes ao SNE. Como sabemos, o Fórum Nacional de Educação reúne representantes de vários sindicatos, a UNE, a CUT, a ABGLT e outros, com um visão totalmente anticonservadora. Eles passarão a ditar o que os professores devem ou não ensinar em salas de aula.
Paulo Briguet: O SNE poderá impor restrições à seleção de pessoal nas escolas com base em critérios religiosos ou ideológicos? As crianças e os jovens estarão mais expostos a conteúdos curriculares controversos ou francamente nocivos (ideologia de gênero, sexualização, niilismo, hedonismo, ateísmo militante, feminismo, racialismo, etc.)?
Hermes Rodrigues Nery: Durante os debates da Conferência Nacional de Educação (Conae), vimos que o documento discutido estava impregnado do viés ideológico da esquerda, com pautas identitárias, ideologia de gênero e tudo mais, buscando conter a liberdade educacional, o homeschooling, o agronegócio em sala de aula, a desmilitarização das escolas, etc. E também enfatizando a centralização. É óbvio que, se aprovado, haverá restrições à seleção de pessoal nas escolas com base em critérios religiosos ou ideológicos, não apenas restrições que serão como uma camisa-de-força ideológica, mas também a perseguição e penalização daqueles que se oporem ao que estará sendo imposto pelo Estado. A escola fará assim um trabalho de doutrinação ideológica maciça, “transformando as nossas crianças em viciados”, com diz John Taylor Gatto, em seu livro “Armas de Instrução em Massa”. O que eles querem, agora mais radicalmente, é “livrar as mães das responsabilidade por seus filhos e maquinar a revolução sexual através do Estado na cabeça das crianças”, como explica Ana Caroline Campagnolo, em sua obra “Feminismo: perversão e subversão”. Por isso, o nosso Movimento Legislação e Vida, e tantos outros, em todo o País, têm procurado os deputados e senadores para levar informações a eles, para que possam barrar este projeto do Conae, mas a maioria dos parlamentares não tem noção do que se trata, compram gato por lebre, e votam pelo que a propaganda da mídia diz, como fizeram com a aprovação do FUNDEB, em caráter permanente. Mas estamos fazendo a nossa parte de conscientização e mobilização dos pais e da sociedade civil.
Paulo Briguet: De que maneira será afetado o financiamento das instituições de ensino confessionais e particulares?
Hermes Rodrigues Nery: Sim, a repressão chegará às instituições de ensino confessionais e particulares, com corte de verbas, de subvenções, de convênios, e tudo mais, o que já vem acontecendo, dificultando que escolas privadas tenham autonomia financeira e pedagógica. Escolas públicas e privadas serão atingidas e sovietizadas. Por isso temos que barrar aquilo que compromete a liberdade educacional no texto do Conae, é o que estamos procurando fazer, para garantir as nossas escolas a autonomia necessária, sem este tipo de ideologização, com os efeitos danosos já conhecidos.
Paulo Briguet: As propostas do CONAE estão alinhadas com a Agenda 2030 e outras pautas globalistas?
Hermes Rodrigues Nery: O 4º objetivo da Agenda 2030, quando eles falam em educação de qualidade, diz respeito à qualidade técnica, na lógica puramente utilitária, e este objetivo tem a ver com o controle das mentes. Como sabemos, cada um dos 17 objetivos da Agenda 2030 são eufemismos para controles estratégicos. Quando falam em vida saudável, (3º objetivo) tem a ver com o controle dos corpos; ou ainda em igualdade de gênero (5º objetivo), tem a ver com o controle dos sexos, e por aí afora. O fato é que, depois da Segunda Guerra Mundial, principalmente com a criação da ONU (e aí especificamente a UNESCO), a educação passou a instrumentalizada rumo ao controle global. O que foi minuciosamente planejado e apresentado nas grandes conferências internacionais da ONU, nos anos 1990, está sendo agora executado, principalmente pelos governos de esquerda, no mundo todo, mais aceleradamente a partir dos eventos de 2020.
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