Quando fazer oposição vira crime
Em sociedades revolucionárias, escrever um texto (ou gravar um vídeo) contra o partido dominante se torna um crime hediondo. É triste dizer, mas nós chegamos a esse ponto
Não sei se vocês, meus caros sete leitores, conhecem a história do grupo Rosa Branca, formado na Alemanha por um punhado de jovens que denunciaram a terrível ditadura do Terceiro Reich nacional-socialista.
Sophie Scholl (estudante de biologia e filosofia, 21 anos), Hans Scholl (estudante de medicina, 24 anos) Alexander Schmorell (estudante de medicina, 26 anos), Christoph Probst (estudante de medicina, 24 anos), Willi Graf (estudante de medicina, 24 anos), além do professor Kurt Huber (49 anos), foram executados em 1943, após um conduzido pelo juiz Roland Freisler, conhecido por perseguir implacavelmente os opositores do regime nazista.
O crime desses jovens? Fazer circular cópias de um panfleto mimeografado, com críticas ao governo nacional-socialista e convocando a população alemã à resistência contra Hitler. Destaco aqui uma das frases de um panfleto:
“Ofereçam resistência passiva — resistência — onde quer que vocês estejam, impeçam que essa máquina de guerra ateísta continue avançando, antes que seja tarde demais, antes que as últimas cidades se reduzam a montes de escombros, como Colônia, e antes que o último jovem do nosso povo seja imolado (...)”
Se vivessem hoje em dia, os jovens do Rosa Branca não fariam um panfleto: gravariam um vídeo no YouTube ou no Instagram.
Talvez vocês não conheçam a história de Milada Horáková (1901-1950), líder política executada pelo governo comunista da Tchecoslováquia. Sobrevivente dos campos de concentração nazistas, Milada foi presa e condenada à morte por enforcamento pelos comunistas que assumiram o país no final dos anos 40. Seu crime? Expressar opiniões contrárias ao regime socialista e ajudar famílias a fugir para o Ocidente. Essa história está muito bem contada no filme “Milada”, lançado em 2017. Vi e recomendo.
Vocês sete já devem ter ouvido a história de Reinaldo Arenas (1943-1990), escritor cubano, preso, torturado e condenado a trabalhar como escravo nos canaviais cubanos. Durante um tempo, Arenas teve que se refugiar nos bosques do Parque Lênin, até ser encontrado pela polícia política de Fidel Castro. Seu crime? Ser homossexual e escrever obras não engajadas politicamente. Antes de sua trágica morte no exílio, Arenas escreveu:
“Ponho fim à minha vida porque não posso continuar trabalhando. Só há um responsável: Fidel Castro. Os sofrimentos do exílio, a dor de ter sido banido, a solidão e as doenças contraídas no desterro — certamente não teria sofrido isso se pudesse ter vivido livre em meu país”.
Os jovens do Rosa Branca, Milada Horáková e Reinaldo Arenas morreram pelo mesmo motivo: ousaram contrariar grupos de poder totalitário em seus países. Nós vivemos no Brasil uma situação semelhante nos dias de hoje. Os totalitários estão promovendo no Brasil a destruição revolucionária, e não pretendem descansar enquanto não eliminarem todas as vozes e os focos de resistência na sociedade brasileira. Muito mais do que roubar o dinheiro do País — como já fizeram —, os totalitários de hoje planejam roubar a nossa liberdade e a nossa alma.
Pois saibam, meus sete amigos: existem Rosas Brancas, Miladas e Arenas em nosso tempo. E eles estão sendo perseguidos e presos agora.
— Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM. Autor de Nossa Senhora dos Ateus e O Mínimo sobre Distopias.
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