CIENTOMETRIA

Os lugares da USP no ranking da ciência

Especial para o BSM · 20 de Julho de 2020 às 17:13 ·

A USP ocupa três posições distintas no Leiden Ranking da produção científica mundial: 7°, 83° e 915°. Entenda por que essa disparidade

Marcelo Hermes-Lima e Antonio Nunes


A prestigiada Universidade de Leiden, na Holanda, acaba de divulgar a nova versão do igualmente prestigiado Leiden Ranking de universidades e institutos de pesquisa, que utiliza dados quadrienais referentes a publicações e impacto acadêmico. Estabelece ainda uma classificação da importância relativa de cada instituição no cenário científico mundial.

No ranking de 2019 (quadriênio 2014-2017), o Brasil figurava na lista em 23 posições. No atual ranking (com dados de 2015-2018) este número cresceu para 30 instituições (referências 1 e 2). Entretanto, este crescimento do número de instituições brasileiras, a priori, não se deveu a um melhor desempenho da ciência nacional, mas decorreu da mudança de critério para se ter lugar no estudo. Para ser elegível e figurar no ranking, em 2019 era necessário que a universidade, em todas as áreas de conhecimento, tivesse, no mínimo, 1.000 publicações no quadriênio em análise. Na listagem de 2020 este patamar foi reduzido para 800 publicações, o que ampliou a nossa presença no referido ranking.

A interpretação da posição alcançada por cada universidade neste ranking pode se dar segundo três diferentes indicadores de impacto científico (estes estão descritos na referência 3). A partir destes, vejamos as distintas posições da USP no ranking Leiden.

Primeiro: por quantidade total de publicações indexadas no Web of Science. No ranking de 2019 a USP foi a 8ª colocada do mundo, com 16,8 mil artigos, dentre 963 instituições listadas. No novo ranking, a USP aparece em 7º lugar, com 17,8 mil artigos (vide imagem abaixo), dentre as 1176 instituições com, pelo menos, 800 publicações. Essa “melhora da USP no ranking” já está sendo motivo de festejos na comunidade USPiana (festejos virtuais, por causa da pandemia...) e no Jornal da USP (referência 4).

Segundo: no quesito de quantidade total de artigos de alto impacto (aqueles que estão entre os 10% mais citados do mundo), a USP foi novamente a melhor do Brasil, com 1.051 publicações top-10%, 81ª lugar do mundo no ranking Leiden 2019 (5). No ranking deste ano a USP ficou em 83º do mundo, com 1.112 publicações top-10%.

Os dois indicadores acima são “size dependent”, ou seja, não levam em consideração se a universidade é pequena ou grande. Uma instituição pequena certamente produzirá menos artigos que uma grande. É aí que entra o terceiro indicador de impacto científico, que é o indicador “percent top 10%”, que avalia a proporção de artigos top-10% da instituição em relação ao total de artigos da mesma. Assim, os 1.112 artigos top-10% da USP representam apenas 6,2% do total de publicações (17,8 mil artigos).

O 1º lugar mundial nesse indicador “size independent” é a pequena Universidade Rockefeller, no estado de NY, com 33,3% de artigos top-10% (311 de 933 publicações no total). Nessa modalidade, em 2020, a USP ficou em 915º lugar dentre 1176 instituições no mundo, apresentando Rank Score de 2,22 (vide imagem abaixo). Em 2019, a USP tinha ficado em 775º lugar entre 963 instituições – obtendo um Rank Score de 1,95 (6).

A grande novidade em 2020 é a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com 96 publicações top-10% entre 1.116 artigos totais – ou seja 8,6% de artigos top-10%. Mereceu o 1º lugar do Brasil e o 651º do mundo. A UFPel não constou no ranking anterior, pois não alcançara 1.000 publicações. A 2a colocação nacional coube à UFSC, com 7,3% de artigos top-10% e 806º lugar no mundo (vide Tabela 1).

No ranking de 2019, a universidade brasileira melhor posicionada em impacto size independent foi a UFC, com 7,1% de artigos top-10%, e 711º lugar no mundo (Rank score = 2,62). A UFBA ficou em 2º lugar no Brasil, com Rank score de 2,43.

Harvard, neste ranking, tinha 3,53 vezes mais impacto size independent que a USP. No ranking de 2020, a diferença entre as duas universidades foi de 3,48 vezes em termos de impacto (praticamente igual a 2019). O que impressiona mais é a diferença de Harvard com a UFPel, que é de “apenas” 2,51 vezes. Caso a UFPel estivesse no ranking de 2019, a diferença entre as duas seria “por aí” (7).

Moral da história: uma universidade do extremo sul do país (em Pelotas), pode ocupar uma posição de maior relevância científica no cenário mundial do que uma USP. Provando que quantidade não é qualidade e que tamanho não é documento.

Tabela 1 – Comparativos Leiden Ranking 2019-2020

 

Ranking no Brasil

(% top-10%)

Ranking no mundo

(% top-10%)

 

Rank score

 

% de artigos

top-10%

 

Artigos

 top-10%

Ranking 2019

(N=963)

 

 

 

 

UFC

1º lugar

711º lugar

2,62

7,1%

115 artigos

UFBA

2º lugar

729º lugar

2,43

6,7%

78 artigos

USP

9º lugar

775º lugar

1,95

6,2%

1051 artigos

Harvard

--

4º lugar

9,96

21,9%

7275 artigos

 

 

 

 

 

 

Ranking 2020

(N=1176)

 

 

 

 

UFPel

1º lugar

651º lugar

4,46

8,6%

96 artigos

UFSC

2º lugar

806º lugar

3,15

7,3%

212 artigos

USP

10º lugar

915º lugar

2,22

6,2%

1112 artigos

Harvard

--

5º lugar

9,96

21,6%

7268 artigos


Marcelo Hermes (UnB) e Antonio Nunes (UFPE) são professores, pesquisadores e membros do movimento Docentes pela Liberdade (DPL).

Referências:

1: https://www.leidenranking.com/ranking/2020/list

2: https://www.leidenranking.com/ranking/2019/list

3: https://www.leidenranking.com/information/indicators  

4: https://jornal.usp.br/institucional/a-usp-e-a-setima-universidade-que-mais-produz-pesquisa-no-mundo/

5: https://olivre.com.br/qual-o-impacto-cientifico-internacional-da-maior-universidade-do-brasil

6: O Rank score usa pontuação de 0 a 10, sendo zero para o último lugar e dez para o 1º - isso significa que a USP melhorou um pouquinho em impacto de 2019 para 2020, apesar de cair 140 posições no ranking.

7: De fato, a comparação das duas instituições no quadriênio 2014-2017 do ranking de 2020 foi 22,1% para Harvard e 8,4% para UFPel - ou seja, uma diferença de 2,63 vezes.

 


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