Oração do milagre
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Não importa se você acredita no milagre, mas se o milagre acredita em você
Não é o mundo que explica o milagre, é o milagre que explica o mundo. Não é a ciência que explica o milagre, é o milagre que explica a ciência. Não somos nós que explicamos o milagre, é o milagre que nos explica. O milagre não é algo que se fundamenta na realidade, ele é o fundamento da própria realidade. O milagre não rompe as leis naturais, são as leis naturais que irrompem do milagre. O milagre é a alma da alma.
Não tenho nenhuma expectativa em relação ao destino do mundo, mas tenho toda esperança do mundo em relação ao destino do milagre. O milagre, em si, é o próprio destino da existência. A história do mundo não passa de um pequeno episódio na história do milagre.
Não importa se você acredita no milagre, mas se o milagre acredita em você. O fato de que alguém possa não acreditar em milagre é uma consequência do milagre. O milagre não faz sentido, ele é o sentido. O milagre não tem limite, ele é o limite. O milagre não tem definição, ele é a definição. O milagre é aquilo que miraculosamente parece não ser um milagre.
Não espanta que o milagre aconteça, espantaria se ele deixasse de acontecer. O milagre é o perdão, ou seja, o presente infinito. Não há milagre no universo, há um universo no milagre. Mesmo assim, o milagre consegue ser ao mesmo tempo continente e conteúdo. O milagre é simultaneamente metáfora, metonímia e a própria coisa. Significado e significante, em um matrimônio eterno, significam o milagre.
Uma Essência em Três Pessoas, eis o que o milagre é. Mas também é preciso dizer o que ele não é. O milagre não é a solidão, não é o desespero, não é a morte. O milagre não é a Queda, pois a Queda consiste em não ser o milagre.
O milagre, como prefere São João, é o sinal — um sinal que aponta para as duas árvores no centro do Jardim: a árvore do conhecimento do bem e do mal, cujo fruto é a morte, e a árvore da vida, cujo fruto é a ressurreição. Quando a serpente ofereceu a Eva o fruto da árvore errada, seu objetivo era desviar o olhar humano da árvore certa.
E aqui lhes dou a grande notícia, a única notícia importante que um velho jornalista poderia dar: — Todos os dias a árvore da vida oferece seus frutos. Todos os dias Longinus fere o lado do Crucificado com a lança, e da ferida jorram sangue e água. Todos os dias são o Dia do Sagrado Coração.
Quem tem olhos para ver, veja. E será um milagre, por todos os séculos dos séculos. Amém.
— Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM. Autor de Nossa Senhora dos Ateus.
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