DIÁRIO DE UM CRONISTA

Musk na sopa

Paulo Briguet · 8 de Abril de 2024 às 16:04 ·

O regime PT-STF não sobrevive sem censura. Isso explica tanto ódio contra o dono do Twitter/X

Há 51 anos, o cantor e compositor baiano Raul Seixas (1944-1989) lançou a música “Mosca na sopa”, segunda faixa de seu primeiro disco solo, “Krig-ha, bandolo!”, que traz outros sucessos inesquecíveis do autor, como “Metamorfose ambulante”, “Al Capone” e “Ouro de tolo”. Estávamos no auge da ditadura militar, Raul não era muito bem-visto pelos milicos e todas as músicas tiveram que passar pelo crivo da Censura Federal. Recentemente, foi descoberto nos arquivos da PF um documento em que dois censores fazem observações sobre “Mosca na Sopa”. No item boa qualidade, os censores escrevem: não. No item mensagem: inexistente. No item tema: indefinido. No item personagens: o autor e a música. No item cenas: das inconveniências de u’a mosca. (Notem o apóstrofo no lugar da letra m para evitar cacófato).

Os censores, na verdade, não deram muita importância a “Mosca na sopa”. No seu parecer final, escreveram: “Em que pese a estupidez e o mau gosto [da música], somos pela liberação, já que não atinamos a comprometimentos outros”. Ficaram muito mais preocupados com o título do álbum, “Krig-há, bandolo”, que não passava do grito de guerra do personagem Tarzan, significando “Cuidado, lá vem o inimigo!”. Chegaram a perguntar a Raul se aquele “inimigo” era o governo, e o cantor muito naturalmente respondeu que não.

A letra de “Mosca na sopa” é bem simples:

Eu sou a mosca que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar
Eu sou a mosca que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar

Eu sou a mosca que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar
Eu sou a mosca que perturba o seu sono
Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar

E não adianta vir me detetizar
Pois nem o DDT pode assim me exterminar
Porque você mata uma e vem outra em meu lugar

Como sempre, a censura dos milicos foi burra. “Mosca na sopa” era uma canção de protesto contra a ditadura, onde a mosca era o artista que revela a verdade, a sopa era o regime e o DDT era a arma utilizada inutilmente para silenciar a verdade: a própria ditadura.

Todo regime autoritário promove a censura. Isso não é novidade. A ditadura dos milicos, porém, não era do tipo totalitário: era apenas estúpida. As ditaduras totalitárias usam o veneno da censura contra a conjunto da sociedade. É inevitável que isso aconteça: tendo a mentalidade esquerdista por cerne a criação de narrativas e negação da estrutura da realidade, ela precisa proibir que a verdade seja dita.

O Brasil está sendo destruído pelo regime PT-STF. É um processo de destruição que vem sendo realizado nos últimos 40 anos, com breves períodos de recuo, mas nunca interrompido. O objetivo do patronato político é sugar as forças vitais da sociedade até colocá-la de joelhos diante dos controladores do Estado. Obviamente, nenhum país aceitaria passivamente ser destruído por uma casta criminosa; portanto, é necessário ocultar essa realidade com narrativas mentirosas e proibir a divulgação da realidade, contando com os bons serviços da assessoria de imprensa colaboracionista. Todo regime golpista e revolucionário tem seus Pravdas.

Sem a censura, o regime PT-STF não sobreviverá. Isso explica tanto ódio contra Elon Musk. Se ele simplesmente tivesse dito que os donos do poder são ladrões e corruptos, haveria alguma gritaria, mas logo tudo seria esquecido. O dono do Twitter/X, no entanto, foi além. Musk sabe que o maior crime de uma ditadura não é roubar dinheiro, mas matar a liberdade.

Elon é o Musk na sopa do regime.
 

Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM. Autor de Nossa Senhora dos Ateus e O Mínimo sobre Distopias.

 


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