Henry Kissinger, ícone da diplomacia, morre aos 100 anos
Nascido em Furth, Alemanha, em 27 de maio de 1923, Kissinger e sua família imigraram para os Estados Unidos em 1938, para fugir do nazismo. Saltou para o status de celebridade global, com frases famosas como "o poder é o melhor afrodisíaco"
O renomado Henry Kissinger, uma das figuras mais conhecidas da diplomacia na segunda metade do século 20, ex-secretário de Estado de Richard Nixon e Gerald Ford, faleceu em sua residência no estado americano de Connecticut. A notícia do falecimento foi anunciada pela Kissinger Associates Inc, sua empresa de consultoria. A causa da morte não foi revelada, e o sepultamento, marcado para quinta-feira (30), será restrito à família, seguido por uma cerimônia aberta em Nova York.
A trajetória de Heinz Alfred Kissinger – seu nome de nascimento – é marcada por alguns feitos notáveis. Mesmo nascido em outro país, com um forte sotaque estrangeiro que jamais dissipou, ele alcançou a posição de principal representante dos Estados Unidos, uma nação muitas vezes caracterizada pelo chauvinismo. Além disso, sendo de origem judaica, tornou-se uma figura proeminente no governo de Richard Nixon, apesar das nuances antissemitas presentes na época.
Suas posições políticas são contraditórias, e é reconhecido como um grande globalista. Ele sempre demonstrou intimidade e concordância política com o presidente russo Vladimir Putin, por exemplo. Kissinger afirmou, por exemplo, que a Ucrânia deve abdicar de seu território para satisfazer os interesses russos e encerrar a guerra. Assim como Putin, Kissinger defendia uma Ucrânia neutra e não integrada à Europa. A fala do ex-secretário de Estado aconteceu durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, em 2022.
Pequena biografia
Nascido em Furth, Alemanha, em 27 de maio de 1923, Kissinger e sua família imigraram para os Estados Unidos em 1938, para fugir do nazismo. Em 1943, ele se naturalizou americano e serviu no Exército do país durante a Segunda Guerra Mundial, desempenhando um papel crucial no setor de inteligência devido à sua fluência em alemão.
Após os combates da Segunda Guerra Mundial, Kissinger deu início a uma carreira acadêmica que se tornaria o trampolim para sua incursão na arena política. Em 1950, ele obteve seu bacharelado em ciência política pela Universidade Harvard, onde prosseguiu para completar o mestrado em 1952 e o doutorado em 1954, com uma tese abordando os temas de "Paz, Legitimidade e Equilíbrio".
A sua ascendência nos principais círculos intelectuais de Nova York durante a década de 1950, enquaento lecionava em Harvard, proporcionou a Kissinger a oportunidade de prestar consultoria a várias entidades governamentais durante a administração Eisenhower – o 34º presidente norte-americano. Além disso, colaborou estreitamente com Nelson Rockefeller.
Rockefeller, candidato prévio à Presidência pelo Partido Republicano em 1960, 1964 e 1968, enfrentou derrotas para Richard Nixon nas duas primeiras tentativas. Surpreendentemente, Nixon, seu adversário, o convocou como assessor assim que assumiu a Casa Branca em janeiro de 1969.
A ambição de Kissinger pela política era tão assustadora que até mesmo o candidato derrotado por Nixon em 1968, o democrata Hubert Humphrey, expressou que teria chamado Kissinger para trabalhar consigo caso tivesse saído vitorioso. A impressão à época era de uma influência gigante de Kissinger, capaz de transcender fronteiras partidárias.
Formalmente assumindo a posição de principal condutor das relações internacionais dos Estados Unidos, Henry Kissinger foi nomeado secretário de Estado por Richard Nixon em 1973, sendo o primeiro a ocupar esse cargo nascido fora do país. Sua permanência na função continuou sob o sucessor, Gerald Ford, após o escândalo Watergate levar Nixon à renúncia.
Durante o período em que desempenhou papel crucial na administração, Henry Kissinger consolidou conquistas notáveis, incluindo a assinatura dos acordos de limitação de armas nucleares (SALT) com a União Soviética. Sua contribuição para o processo de paz no Vietnã, que resultou no Prêmio Nobel compartilhado com o principal diplomata norte-vietnamita, foi outro ponto alto de sua atuação.
Por diversos outros fatores, ele ascendeu ao status de celebridade global. Seu casamento com Nancy Maginess, em 1974, recebeu cobertura de imprensa comparável à de astros de cinema ou monarcas britânicos. Frases atribuídas a ele nesse período, como "o poder é o melhor afrodisíaco", contribuíram para ampliar sua fama.
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