ELEIÇÕES AMERICANAS

Como o debate pode ter sido pior para Trump do que para Biden?

Especial para o BSM · 28 de Junho de 2024 às 17:06 ·

Paulo Henrique Araujo analisa o confronto entre os dois candidatos presidenciais e alerta para uma possível armadilha montada pelo Partido Democrata

Por Paulo Henrique Araujo

O debate presidencial na CNN levantou a poeira do marasmo eleitoral nos Estados Unidos. Ficou claro e evidente que Donald Trump saiu-se melhor do que Joe Biden no certame. Porém, este cenário esconde problemas muito maiores. Vamos compreender?

O debate presidencial tão adiantado foi um tempero novo neste cenário eleitoral, primeiro por nenhum dos dois políticos serem oficialmente os candidatos por seus partidos, afinal, as convenções acontecerão em julho e agosto.

O segundo ponto é justamente por ser Joe Biden, o atual presidente, a ter desafiado Trump para um debate tão cedo.

Na abertura do programa na CNN, a âncora Dana Bash deixou claro: “Este debate será entre os prováveis candidatos por seus partidos".

OK, mas qual a importância? Como esperado, o desempenho de Joe Biden foi abaixo da média, com seus congelamentos típicos, dificuldade na fala, confusão mental entre outros pontos. Biden chegou a afirmar que seu filho, Beau, faleceu servindo o exército no Iraque, o que não é fato.

No clima de torcida e tensão eleitoral, uma festa e prato cheio para os apoiadores e eleitores de Donald Trump. Porém, precisamos de um olha bem mais profundo sobre a situação. Separarei em tópicos:

 

O desempenho de Donald Trump no debate

Obviamente, comparado a Biden, Donald Trump foi bem no debate, mas analisando friamente sua apresentação, foi um desempenho no máximo nota 6.

Trump administrou mal o tempo de resposta para suas perguntas, perguntas importantes com um peso narrativo contra ele foram simplesmente ignoradas, fazendo com que os apresentadores o pressionassem por duas ou três vezes para responder às perguntas.

Em temas importantes, como a epidemia de Fentanil, ele simplesmente ignorou a pergunta, preferindo focar no tema anterior do debate. Com o tema do Fentanil Trump poderia em uma tacada só mostrar a falência do Partido Democrata em tratar da questão em nível federal e estadual, pois os estados controlados por democratas são os que mais sofrem com a droga.

Ele poderia inclusive ter apontado os canhões para a China, sendo o maior exportador de Fentanil para os Estados Unidos, e com isso teria um ganho futuro explicada mais a frente.

 

Trump pode ter caído em uma armadilha democrata

O Partido Democrata, já há bastante tempo, está trabalhando em uma possibilidade de substituir Joe Biden da corrida presidencial, mas qual o grande problema? Isso só aconteceria se o próprio Joe desistir da campanha. O Partido tomar esta decisão, seria desastroso para o futuro da corrida eleitoral.

Desta forma, Biden foi convencido a desafiar Trump para este debate, em que ele poderia provar para o próprio partido que tem condições de concorrer ou afundar sua campanha. Já o partido só tinha a ganhar com a situação, afinal se Biden fosse bem, passaria a confiança para o eleitorado, se fosse mal, teria a chancela pública para trocar de candidato.

 

O problema hoje é muito maior para Trump do que para os democratas

O tema central do debate político americano é: não há condições de Biden concorrer. Com isto, inicia-se uma verdadeira arrancada pelo futuro da nomeação democrata. Existem duas possibilidades na mesa:

a) Encontrar um novo Vice que inspire confiança para assumir o cargo, tão rápido quanto necessário.

b) Substituir Biden por um novo candidato.

No primeiro cenário, o nome favorito internamente no Partido Democrata é o de Hillary Clinton, que ainda não deu indicativos de que aceitaria.

No segundo cenário, a probabilidade é de que a disputa ficaria entre Michelle Obama (ex-primeira-dama) e Gavin Newsom (governador da Califórnia).

O caro leitor deve estar se perguntando agora: “certo, mas o que significa isso?”. Vamos lá, focarei somente na hipótese de um novo candidato:

Michelle Obama, psicologicamente, causaria um efeito Lula em boa parte do eleitorado americano: as pessoas esqueceriam os problemas da administração de seu marido, focariam simplesmente nas boas lembranças que o seu sobrenome aspira na mídia.

Michelle ainda contaria com o apoio das pautas identitárias por ser mulher, negra, enfrentando um “bilionário branco, supremacista e racista”. A narrativa está pronta.

Haveria uma verdadeira frente ampla entre os democratas em torno de seu nome, Obama estaria o tempo todo ao seu lado. Diversas mensagens de um futuro pujante vindouro estariam prontas. Os eleitores democratas estariam animados e prontos para sair de casa para votar.

Gavin Newsom, por sua vez, conta com uma popularidade entre o eleitorado jovem, progressista e feminino. Segue o padrão da fotografia do político americano com a família de classe média.

Newsom é articulado e possui uma boa aceitação nos setores clássicos do partido democrata. Além de tudo, possui um endosso internacional importante e perigoso para os EUA: Xi JinPing, ao qual ele visitou recentemente em Pequim em viagem oficial — e aqui voltamos à questão do Fentanil, governo democrata e China que comentei acima. Eis a chave da oportunidade perdida por Trump.

Mesmo ele dizendo que não concorrerá, como dito na mídia hoje, basta Biden anunciar que está desistindo que ele pula na frente como candidato viável. Com Newsom, os eleitores democratas também estariam animados e prontos para sair de casa para votar.

O grande desafio de Trump, porém, com ambos os candidatos é: ele perder a sua argumentação retórica de campanha.

O mote de campanha de Trump é: “comparem o meu governo com o de Biden”, “no meu tempo era melhor do que o dele”, “eu jogo golfe, ele cai da escada”, “eu tenho condições de discutir e defender o país, Biden não consegue falar”.

Com a troca do candidato, Trump deixa de ser pedra e vira vidraça, ele estará frente a frente com um candidato que não tem um passado comparativo com o dele como presidente. Acima de tudo, aqueles que votariam em Trump, por não querer um senhor senil no comando do país, agora possuem opção.

Agora, acredito que o cenário é o seguinte nos comitês partidários:

Democratas: animação. A possibilidade de virarem o jogo, trazer um fato novo para a campanha e continuarem na casa Branca.

Republicanos: Preocupação. A possibilidade de perderem toda a estrutura da campanha e passarem de um jogo ofensivo para um perigoso defensivo.

O saldo final deste debate é que apesar de ter vencido o debate com um magro 1 a 0, Trump pode perder o campeonato por conta disso.

Paulo Henrique Araujo é jornalista, analista político, escritor e palestrante. Editor do Portal PHVox.

 


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