Casa a esquecer
O escritor Domingos Pellegrini critica a proposta de mudar o nome da Casa do Pioneiro em Londrina
Por Domingos Pellegrini
A Universidade de Londrina quer mudar o nome da Casa do Pioneiro para Casa da Memória, porque a palavra Pioneiro “remete àquele que primeiramente abre ou descobre regiões desconhecidas e nelas tenta estabelecer uma colonização”, conforme os motivos alegados. Além disso, o pioneirismo seria “uma estratégia social euro-centrada, que contribui para proporcionar um aspecto de naturalidade à usurpação de territórios e dominação dos povos originários”.
Assim se esquece ou ignora-se que, na colonização, já quase não havia indígenas por aqui, há muito alocados em reservas depois de perseguidos ou massacrados pelos bandeirantes paulistas. Esquece-se também que nossos pioneiros não “tentaram” uma colonização mas efetivamente colonizaram esta terra-vermelha, com dinheiro “do cabo da enxada” comprando datas urbanas ou pequenos lotes rurais de uma empresa confiável, a Companhia de Terras, para se tornarem empreendedores.
Pode-se presumir que a fonte dessa visão anti-pioneiros é outra ignorância, a de que o socialismo anti-empreendedor faliu em todas as quinze repúblicas da URSS, mantendo-se ainda apenas na idolatrada Cuba e na enganosa China que misturou socialismo autoritário com capitalismo irresponsável.
Tal ignorância também se opõe à democracia, pois foram muitos milhares de pequenos empreendedores os compradores de terras da Companhia desde Londrina até Cianorte, implantando uma fieira de cidades em constante progresso graças justamente à colonização democratizante.
Os professores que votaram por mudar o nome da Casa do Pioneiro certamente são na maioria da categoria “tempo integral e dedicação exclusiva”, ou seja, não podem ter outros trabalhos. Decerto por isso desconhecem o que é abrir terra ou negócio, como fizeram em massa nossos pioneiros, como parecem desconhecer também que são as pequenas e micro empresas que geram 80% dos empregos.
Assim desconhecem ainda que seus custos e salários são pagos por dinheiro público oriundo não só da imensa massa de impostos diretos, gerados pelos pequenos, médios e grandes empreendedores e suas empresas, mas também pela massa de impostos indiretos, gerados pelo consumo dos assalariados dessas empresas, com 40% de impostos embutidos no preço de todos os produtos.
Além disso, parecem pretender que os pioneiros de origem europeia esqueçam ou reneguem suas origens, o que seria o mesmo que os indígenas ou afro-descendentes renegassem suas origens e sua herança cultural, em detrimento da riqueza cultural brasileira.
A mudança para Casa da Memória parece portanto coisa a melhormente esquecer.
— Domingos Pellegrini é escritor e mora em Londrina. Autor de Terra-Vermelha, O Caso da Chácara Chão, O Tempo do Seo Celso, O Homem Vermelho e vários outros livros.
(O texto acima foi publicado originalmente na Folha de Londrina.)
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