A declinação moral carioca: dos presídios da Ilha Grande até a cúpula do poder
Uma história de terror que começou quando do contato entre presos de extrema-esquerda e criminosos comuns se formou o Comando Vermelho
Por Marcus Tavares
A decadência moral do Rio de Janeiro, uma cidade conhecida mundialmente por suas belezas naturais e festas vibrantes, tem raízes profundas nos sombrios dias dos presídios da Ilha Grande durante o período militar. O que começou como um encontro de presos políticos, intelectuais de esquerda e guerrilheiros dedicados à causa operária, junto a criminosos comuns, deu origem à facção criminosa mais poderosa do estado, o Comando Vermelho (CV).
A Ilha Grande, outrora um símbolo de repressão e resistência, tornou-se um terreno fértil para a fusão de ideologias políticas e práticas criminosas. Os presos, unidos por um inimigo comum, o Estado, criaram uma aliança que transcendeu as grades e se espalhou pelas ruas do Rio de Janeiro. Essa união estratégica deu início a uma das organizações criminosas mais temidas, cruéis e influentes do país.
O Comando Vermelho não apenas sobreviveu, mas prosperou, expandindo sua influência de dentro dos presídios para as favelas e, eventualmente, para as altas esferas do poder. A facção se sofisticou a tal ponto que se tornou comum a visita de figuras de alto escalão do governo e do judiciário em territórios sob seu domínio. Em um episódio que chocou o país, até o presidente posou para fotos com um boné que fazia apologia a regiões controladas pelo CV, indicando uma aceitação tácita ou, no mínimo, uma desconcertante familiaridade com a facção.
A corrupção no Rio de Janeiro atingiu níveis alarmantes. Não é apenas a criminalidade nas ruas que preocupa, mas a infiltração das facções no coração do poder. Políticos de destaque foram vinculados a facções criminosas, e as suspeitas de cooperação entre as autoridades e o crime organizado mancham a reputação do estado.
O atual governador Cláudio Castro enfrenta um cenário de constante ameaça, não apenas pela criminalidade comum, mas pelo potencial de ser engolfado pelo mesmo turbilhão de suspeitas e processos que derrubaram seus predecessores. A aliança entre crime e política no Rio de Janeiro é uma sombra que não se dissipa facilmente. No mês de março, os irmãos Brazão foram presos após investigações apontá-los como suspeitos do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, um crime que chocou todo o estado.
O desfecho deste caso é ainda mais surpreendente que as prisões de homens que ocupam o poder há anos no Rio de Janeiro. Como se não bastasse a notícia em si para chocar, o delegado que deveria investigar o caso também é suspeito de envolvimento no crime, notícia que levou a irmã de Marielle, Ministra Anielle Franco, a gravar um vídeo em suas redes sociais relatando que, na ocasião do crime, o delegado confortou a família e prometeu prender os criminosos. O cidadão carioca deve olhar tudo isso e se perguntar: a quem recorrerei? Talvez o Chapolin Colorado, penso eu.
Dando seguimento aos casos, o atual prefeito Eduardo Paes responde a dezenas de processos, que por obra “divina” não são apreciados pela justiça. Isso exemplifica e aumenta a desconfiança pública em relação às lideranças cariocas. As acusações não resultam em condenações, e o volume de processos contra estes só aumenta, refletindo um sistema reconhecido por sua inércia infinita.
Essas más escolhas e as circunstâncias evidenciam a profunda degradação moral do Rio de Janeiro. A cidade, que deveria ser um farol de cultura e progresso, encontra-se sufocada por uma teia de corrupção e criminalidade que se estende desde seus mais humildes cidadãos até os corredores do poder.
— Marcus Tavares é empresário e cidadão carioca. Foi colunista da Tribuna Diária.
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