5 coisas que o Vaticano disse (e não disse) sobre a benção para homossexuais e casais irregulares
Muitas vezes, aos olhos dos irmãos que buscam acolhimento, sendo pecadores como todos nós, uma "simples benção" pode impedir ou proibir a proximidade do irmão na Igreja, justamente quando ele busca ajuda. Este é o sentido do documento Fiducia Supplicans, ou Solicitando Confiança. Entenda abaixo
O Dicastério para a Doutrina da Fé do Vaticano aprovou uma bênção para pessoas em relação homoafetiva num documento intitulado “Fiducia Supplicans” ou “Solicitando Confiança”, na segunda-feira (18). Enquanto os sacerdotes já abençoam, naturalmente, todos os pecadores, o documento abre espaço para abençoar aqueles em qualquer união em situação irregular. O ato de abençoar é o simples desejar o bem do que é abençoado diante de Deus, invocando o Espírito Santo.
O Papa Francisco aprovou o documento, formalmente chamado de declaração – um termo que sinaliza que o seu conteúdo tem importância doutrinária e foi escrito em consulta com especialistas e teólogos. Mas o documento, tal como muitos dos pronunciamentos ambíguos de Francisco sobre temas onde a doutrina entra em conflito com questões de guerra cultural, dá um salto – aparentemente progressivo – garantindo que nada realmente mudou.
O que está claro é que os casais homossexuais, ou seja, todos aqueles que vivem fora da compreensão tradicional do casamento na fé católica – “casais em situação irregular” – podem agora ser abençoados por um padre, como indivíduos em busca de benção; não necessariamente enquanto casal, por mais que a benção se dirija a regularização da situação. Contudo, existem algumas ressalvas: aqui estão algumas conclusões principais do documento.
A doutrina sobre o casamento e a homossexualidade não mudou
A declaração afirma em vários pontos que a bênção de casais irregulares ou do mesmo sexo não constitui um casamento e que não “legitima nada”. Quaisquer orações que possam criar confusão a esse respeito, diz, “são inadmissíveis”. O objetivo da bênção, afirma o documento, é invocar o Espírito Santo para interceder ajudando os indivíduos a viverem com mais fidelidade e graça, e não aprovar a união em si.
O documento reafirma também que o casamento é a “união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos”, e só no casamento “as relações sexuais encontram o seu significado natural, próprio e plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme”.
As bênçãos do mesmo sexo não devem ser ritualizadas
Para evitar confusão entre os fiéis, o departamento doutrinário do Vaticano afirmou que as bênçãos deveriam ser realizadas “espontaneamente” e não a partir do Livro das Bênçãos, uma coleção de orações litúrgicas para diversas ocasiões e pessoas, especialmente para eventos centrados na vida paroquial. Ou seja, é como ir pedir "sua benção, padre", espontaneamente e simplesmente.
Não pode haver também orações estabelecidas com o propósito dessas bênçãos. Elas “não devem ser fixadas ritualmente pelas autoridades eclesiais para evitar confusão com a bênção própria do Sacramento do Matrimônio”, diz o documento.
“Numa breve oração que precede esta bênção espontânea, o ministro ordenado poderia pedir que os indivíduos tenham paz, saúde, espírito de paciência, diálogo e assistência mútua – mas também a luz e a força de Deus para poder cumprir plenamente a Sua Vontade [isto é, que a situação se regularize]”, o documento diz.
A simplicidade da benção deve ser observada
Para garantir que a bênção não assuma a aparência de um sacramento, as bênçãos não devem se tornar um espetáculo, adverte o documento, “nem podem ser realizadas com roupas, gestos ou palavras próprias de um casamento”.
As bênçãos nem devem fazer parte de uma celebração de união civil
A bênção não pode ser realizada ao mesmo tempo ou em conexão com uma união civil, afirma o documento. Em vez disso, o documento sugere que a bênção seja realizada “em outros contextos, como uma visita a um santuário, um encontro com um sacerdote, uma oração recitada em grupo ou durante uma peregrinação”. Ou seja, não se deve estar em parte de cerimônias e ritos nem da união perante o estado etc. É apenas o famoso "Deus abençoe".
Padre não pode recrutar casais para uma bênção
Embora alguns padres possam desejar conceder esta bênção aos casais homossexuais na sua paróquia, o documento afirma que os próprios casais devem solicitá-la. “Por esta razão, não se deve prever nem promover um ritual de bênção dos casais em situação irregular”, afirma o documento. Ou seja, se eles aparecerem espontâneamente ao sacerdote e pedirem a benção, receberão.
“Ao mesmo tempo, não se deve impedir ou proibir a proximidade da Igreja às pessoas em todas as situações em que possam procurar a ajuda de Deus através de uma simples bênção”, acrescentou.
Com informações da Religion News Service
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