DIÁRIO DE UM CRONISTA

S. Maximiliano Kolbe: amor maior que a morte

Paulo Briguet · 14 de Agosto de 2024 às 16:08 ·

Hoje é dia de São Maximiliano Maria Kolbe, herói da Igreja e padroeiro do jornal Brasil Sem Medo

“Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis...”
(Canto de S. Maximiliano Kolbe em Auschwitz)

O homem, como dizia Chesterton, é o único animal capaz de se comportar como um santo ou como um demônio — como São Maximiliano Kolbe, que deu a própria vida para salvar um pai de família em Auschwitz, ou como Rudolf Höss, que comandou a morte de 1 milhão de judeus no mesmo campo.

No campo de extermínio de Auschwitz, em 1941, a escuridão e a morte pareciam imperar. Entre o aço das cercas e o uivo dos ventos frios, um homem se destacou por uma coragem que transcendia a compreensão humana. Maximiliano Maria Kolbe, um franciscano polonês, escolheu oferecer sua vida em troca da de um pai de família, tornando-se um símbolo de amor e sacrifício inigualável. Este ato de heroísmo não apenas desafiou o horror do nazismo, mas também deixou uma marca indelével na memória coletiva da humanidade.

Kolbe, nascido Raimundo Kolbe, era um jovem inquieto que, aos 12 anos, teve uma visão mística da Virgem Maria, que lhe ofereceu duas coroas: uma branca de pureza e uma vermelha de martírio. O jovem Raimundo escolheu ambas, e assim começou uma trajetória marcada pela devoção e pela luta incansável em favor da fé. Fundador da Milícia da Imaculada e criador do "Cavaleiro da Imaculada", Kolbe não apenas evangelizou com palavras, mas também com ações concretas, estabelecendo uma rede de comunicação e apoio para a causa católica.

Seu trabalho o levou ao Japão, onde construiu o Mugenzai-no-sono, um refúgio espiritual que sobreviveu ao bombardeio atômico de Nagasaki. Contudo, a verdadeira prova de sua fé e coragem surgiu em Auschwitz. Quando a Gestapo, em um ato de crueldade exemplar, decidiu punir a fuga de um prisioneiro escolhendo dez homens para morrer de fome, Kolbe, sem hesitar, ofereceu-se para morrer no lugar de um homem com esposa e filhos. Sua decisão foi uma encarnação do amor cristão descrito no Evangelho: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos”.

Esse ato de amor e sacrifício ressoou através das décadas, inspirando não apenas católicos, mas também aqueles fora da esfera religiosa. Eugène Ionesco, um dramaturgo romeno, foi um exemplo notável. Apesar de ser um agnóstico que, ao longo de sua vida, procurou respostas sobre o eterno, Ionesco encontrou em Kolbe uma fonte de inspiração que transcendeu sua própria crença. Ele escreveu o libreto para a ópera Maximilien Kolbe, uma obra musical que explora a profundidade espiritual e o sacrifício do santo.

A ópera de Ionesco, composta por Dominique Probst, é uma reflexão dramática e musical sobre os eventos finais de Kolbe em Auschwitz. A peça é dividida em três atos, que capturam desde a captura do prisioneiro fugitivo até a agonia final de Kolbe no bunker da morte. A música mistura estilos para refletir a intensidade da situação, e o libreto, apesar das dúvidas de Ionesco sobre sua capacidade de capturar o espírito do santo, revela uma profunda reverência pela vida e sacrifício de Kolbe.

No segundo ato da ópera, Kolbe conforta seus companheiros prisioneiros com palavras de esperança e fé, mesmo enquanto enfrentam a morte iminente. Seu monólogo é um hino à esperança e à certeza de uma vida eterna, uma mensagem que não apenas consolou seus companheiros, mas também continua a inspirar aqueles que conhecem sua história. No terceiro ato, quando Kolbe finalmente sucumbe à morte, sua influência persiste. O coral infantil canta as bem-aventuranças, enquanto o mundo ao seu redor permanece indiferente ao sacrifício que se desenrolava.

São Maximiliano Kolbe é mais do que um mártir; ele é um farol de esperança e um exemplo de amor incondicional. Sua história, imortalizada na ópera de Ionesco, continua a lembrar-nos que, mesmo nas horas mais sombrias, o amor e a fé podem brilhar intensamente. E assim, enquanto a luz da vida eterna irrompe por trás das portas da morte, Kolbe permanece como um testemunho do poder redentor do amor.

São Maximiliano Kolbe, padroeiro do BSM, rogai por nós!
 

 


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