IGREJA

Não julgueis e mesmo assim sereis julgados

Especial para o BSM · 4 de Abril de 2024 às 16:25 ·

Um padre nega a Comunhão na boca aos que se ajoelham para recebê-La e um bispo não toma nenhuma atitude para corrigir o erro. Até quando os fiéis terão que suportar esse tipo de afronta? Artigo de Renã Pozza para o BSM
 

Por Renã Pozza

Já não impressiona mais a incapacidade do brasileiro de perceber que não está entendendo nada. É assaz corriqueiro, ao nos depararmos com escândalos notórios e expressarmos nossa indignação, alguma alminha piedosíssima apelar para o versículo transformado em clichê: “Não julgueis e não sereis julgados” (Mt 7,1). Quando se trata de ministros sagrados, aí os advogados se multiplicam feito coelhos. Geralmente dão um carteiraço, como “somos ativos na paróquia” ou “freqüentamos a comunidade há décadas”.

Algumas semanas atrás, Padre Hélio da Cunha, novo pároco da Igreja São João Batista, Itajaí, Santa Catarina, causou reboliço nas redes sociais ao ser flagrado neste vídeo:

Foi a última vez que fui julgado por criticar uma figura pública e eclesiástica.

O dito padre nega a Comunhão na boca aos coroinhas que se ajoelham para recebê-La. Trata-se do maior tesouro entre tudo o que é visível e palpável no catolicismo: o Corpo de Cristo. Além de constranger crianças inocentes, Pe. Hélio profana, desdenha e pisoteia aquilo que, de material (sem deixar de ser, por óbvio, espiritual), existe de mais sagrado e divino na fé que alega professar.

A quem vier, caso o leitor seja católico, com a conversa de “não julgueis”, mostre ao santo-do-pau-oco Jo 7,24: “Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça”.

Jesus é esquizofrênico, por acaso? O Mestre fala uma coisa aqui e outra acolá? Não! É mais fácil que um analfabeto funcional e metido a bom-moço tenha interpretado errado. Cristo pede para que não saiamos julgando vidas pessoais, apontando dedos, condenando corações aos quais não temos acesso. É claro que a Sabedoria Encarnada, o Filho de Deus, não está nos ordenando o impossível: não julgar atos públicos que influenciam diretamente a nós e a terceiros.

Na crise universal da inteligência, onde fulanos não conseguem e sequer se esforçam para ter senso de proporções e hierarquia de valores, não espanta que o politicamente correto e o respeito humano tenham alcançado números inimagináveis.

Se o católico crê na Presença Real de Jesus na Eucaristia (hóstia consagrada), nada pode ofender mais Nosso Senhor do que a irreverência e o escárnio com seus Preciosíssimos Corpo e Sangue, evidentemente.

Não é um caso isolado. Aqui, o jornalista católico Tiago Bruno, do canal Católicos de VERDADE, mostra como pensa o Sr. Pe. Hélio da Cunha. A parte em que o famigerado padre fala é por volta dos 2 minutos aos 4 minutos e 30 segundos.
 


Será que Padre Hélio fala a verdade? O Concílio Vaticano II e os Papas pós-conciliares aprovaram a abolição da Comunhão na boca? O que esperar de um sacerdote que se orgulha de queimar casulas? Um novo Concílio Ecumênico ou um novo Papa teriam autoridade para ignorar dezenas de Concílios e centenas de Papas anteriores? A Missa, Santo Sacrifício de Cristo atualizado, é lugar para fazer bagunça e agir como alguns protestantes em algumas denominações?

São muitas perguntas e não cabem, agora, todas as respostas. Há dezenas de documentos do Concílio e pós-conciliares; se procurarmos ao longo dos dois mil anos de Igreja, encontraremos centenas. Podemos, todavia, utilizando uns poucos trechos dos documentos mencionados, verificar se as falas do Reverendíssimo Hélio da Cunha condizem com o Credo que os católicos professam.

Sacrossanctum Concilium (Concílio Vaticano II, sobre a Liturgia):
“Cristo está sempre presente na Igreja. Está presente no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois aquele é o mesmo que, outrora, se ofereceu na cruz, como sobretudo nas espécies eucarísticas.” (grifo meu)

“Salvo o direito particular, seja conservado o uso da língua latina nos ritos latinos.” (grifo meu)

“A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana, o canto gregoriano; portanto, na ação litúrgica, ocupa o primeiro lugar entre seus similares.” (grifo meu)

Instrução Geral do Missal Romano

A natureza sacrifical da Missa, que o Concílio de Trento solenemente afirmou, em concordância com a tradição da Igreja, foi de novo proclamada pelo Concílio Vaticano II.” (grifo meu)

“O sacerdote deve estar lembrado de que ele é servidor da sagrada Liturgia e que não lhe é permitido, por própria conta, acrescentar, tirar ou mesmo mudar qualquer coisa na celebração da Missa.” (grifo meu)

Profissão de fé do Papa Paulo VI

“Cremos que a Missa, celebrada pelo sacerdote, que representa a pessoa de Cristo, em virtude do poder recebido pelo sacramento da Ordem, e oferecida por ele em nome de Cristo e do seu Corpo Místico, é realmente o Sacrifício do Calvário, que se torna sacramentalmente presente em nossos altares.” (grifo meu)

Redemptionis Sacramentum (São João Paulo II)

“Os ministros sagrados não podem negar os sacramentos a quem os pedem de modo oportuno, e estejam bem dispostos e que lhes seja proibido o direito de receber. Por conseguinte, qualquer batizado católico, a quem o direito não o proíba, deve ser admitido à sagrada Comunhão. Assim pois, não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé.” (grifo meu)

“Se existe perigo de profanação, não se distribua aos fiéis a Comunhão na mão.”

Sofrerá Padre Hélio da Cunha de má formação ou ignorância invencível? Não percebe Sua Reverendíssima agir como inimigo de Cristo e da Igreja? Não há para onde correr. Padre Hélio da Cunha mente e, com sua mentira perniciosa, arrasta fiéis ao erro.

Dom Wilson, Arcebispo da Arquidiocese de Florianópolis, precisa botar ordem na casa!

Sua Excelência, Wilson Tadeu Jönck, sabe que o caso de Padre Hélio não é caso de um lobo solitário. É só mais um. Muitos fiéis mal instruídos, além de pegarem a Hóstia Santíssima com a mão sem a mínima preocupação de que partículas escaparão e serão varridas para o lixo, ainda pegam no Corpo gloriosíssimo de Nosso Senhor em forma de pinça.

Todo batizado deve buscar uma formação católica mais sólida e uma compreensão maior dos santos mistérios. Eu não abordei Catecismos, Doutores e mais Papas por uma questão de tempo e espaço; mas que Dom Wilson lembre-se de que será cobrado pelo Supremo Juiz a responsabilidade sobre milhões de almas cujo território sua jurisdição abarca. Escrevo amparado pelo Código de Direito Canônico 212, nº 2 e 3:

Os fiéis têm o direito de manifestar aos Pastores da Igreja as próprias necessidades, principalmente espirituais, e os próprios anseios. () De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam têm o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos Pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os Pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, dêem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis.

Espero e rezo, como filho e ovelha, que meu Pastor demonstre zelo pelo rebanho.

Renã Pozza é vendedor, esposo, pai, aluno do Seminário de Filosofia Olavo de Carvalho e do Padre Paulo Ricardo, apologista da Igreja Católica e idealizador de projetos voltados à cultura e entretenimento. Nascido e criado na periferia de Porto Alegre, acostumado a torcer para o Grêmio e freqüentar estádios de futebol, foi por anos camelô e mora no litoral catarinense desde 2011.

 


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