LAVA-TOGA

Moraes usou órgão do TSE para perseguir brasileiros que protestaram contra ministros em NY

Redação BSM · 19 de Agosto de 2024 às 15:38 ·

Em nova reportagem da série assinada por Gleen Greenwald e Fábio Serapião, Folha de S. Paulo revela que então presidente do TSE usou Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação para produzir relatórios contra bolsonaristas fora do período eleitoral


Em nova reportagem da série Vaza-Toga, publicada hoje, a Folha de S. Paulo revela que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, usou o órgão de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para produzir relatórios sobre manifestantes que protestaram contra ministros do Supremo em Nova York, em novembro de 2022, fora do período eleitoral.

O gabinete de Moraes afirmou que “todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com a participação integral da Procuradoria-Geral da República”.

Na semana passada, a Folha revelou que o gabinete de Moraes tentou informalmente obter relatórios do TSE para embasar decisões contra bolsonaristas no inquérito ilegal das fake news no STF em 2022. Assessores sabiam que esse procedimento poderia parecer inadequado, como expressou o juiz instrutor Airton Vieira: “Formalmente, se alguém for questionar, vai ficar uma coisa muito descarada”.

O mesmo expediente foi usado no caso de Nova York. Entre os dias 14 e 15 de novembro de 2022, duas semanas após o segundo turno das eleições, Moraes e outros ministros do STF participaram da Lide Brazil Conference na cidade. Vídeos e mensagens nas redes sociais mostraram bolsonaristas protestando contra os ministros.

O monitoramento começou antes da chegada de Moraes aos EUA. Após publicações sobre o evento e convocações para manifestações, Moraes acionou o juiz Marco Antônio Vargas, que estava no gabinete da presidência do TSE, presidido por Moraes na época. Vargas pediu ao chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) do TSE, Eduardo Tagliaferro, a produção de um relatório.

Tagliaferro enviou uma primeira versão do relatório no dia 11 de novembro, que detalhava mensagens sobre uma manifestação programada para o dia 15 de novembro em Nova York contra os ministros do STF. O relatório listava ameaças e convocações de outras cidades americanas.

O gabinete de Moraes também direcionou a investigação para a deputada bolsonarista Carla Zambelli e o jornalista Allan dos Santos, atualmente exilado nos EUA. O envolvimento de Allan dos Santos nas manifestações foi monitorado com o apoio da Interpol e do governo americano.

Em mensagens, Airton Vieira, do gabinete de Moraes, solicitou a coleta de informações sobre Zambelli e Allan dos Santos. Tagliaferro respondeu que procuraria essas publicações, destacando que as decisões sobre quem monitorar vinham diretamente de Moraes.

Um dos pedidos de Airton Vieira refere-se ao cantor gospel Davi Sacer, que retuítava postagens para incentivos aos manifestantes contra os ministros em Nova York. “Eduardo, esses aí também, por favor coloque no relatório também. Para fins de bloqueio.”

Tagliaferro faz uma ponderação sobre o alvo. “Dr, Airton, não sei sei se é uma boa ir para cima do Davi Sacer, esse cara é o cantor gospel mais famoso é influente, vai revelar católicos e evangélicos, como também outros cantores, não seria melhor esperar um pouco? A bruxa não tem esse bom senso, é totalmente partidária sem pensar nas consequências”, afirmou ele. Como resposta, Airton Vieira informou que o pedido tinha partido do próprio Alexandre de Moraes. “O problema é que foi o Ministro quem passou. Depois recebeu pelo Deputado Frota... Paciência. Vamos em frente", disse o juiz instrutor.

Pelo visto, Moraes não era o único Alexandre envolvido na perseguição aos bolsonaristas.

 


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