General Heleno diz que delação de Cid sobre tentativa de golpe é "fantasia"
A ala governista tentou rebater o general mostrando uma foto de Cid participando de uma reunião em fevereiro de 2019, início do governo Bolsonaro, quando nem fazia sentido discutir um suposto "golpe de Estado"
O general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República no governo Bolsonaro, chamou de "fantasia" a declaração do tenente-coronel Mauro Cid de que teria havido reuniões no Palácio do Planalto para tratar de um suposto golpe de Estado. Heleno depôs nesta terça-feira (26), na condição de testemunha, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.
"Eu quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões, ele era o ajudante de ordens do presidente da República. Não existe essa figura do ajudante de ordens sentar numa reunião dos comandantes de Força e participar da reunião. Isso é fantasia", disse.
No entanto, deputados e senadores governistas rapidamente apresentaram uma imagem publicada pela Presidência da República em 25 de fevereiro de 2019, na qual Cid aparece em uma reunião com Bolsonaro e os então comandantes Ilques Barbosa Júnior (Marinha), Edson Pujol (Exército) e Carlos Bermudéz (Aeronáutica).
"Não vi, não lembro, não participei, não estava e não li". O depoente de hoje demonstra que estava a passeio na chefia do GSI. Mas os fatos e dados mostram o contrário. Gen. Heleno bem posicionado numa reunião do PR com cúpula militar e com Mauro Cid. pic.twitter.com/tE8mJycpiI
— Eliziane Gama (@elizianegama) September 26, 2023
A foto, no entanto, é de 25 de fevereiro de 2019, bem no início do governo de Jair Bolsonaro e não havia motivo para que se tratasse de um "golpe de Estado". Lula não havia sequer sido solto da prisão e muito menos era candidato à eleição. Heleno, no entanto, parece não ter se atentado a isso e tentou justificar a presença de Cid: "[Ele] estava sentado atrás, esperando, inclusive, se houvesse alguma necessidade do presidente. Essa é a missão do ajudante de ordens. Ele não dá palpite em uma reunião dessa, ele não levanta o braço [...] As pessoas aqui estão querendo me comprometer. Vão perder tempo."
Parlamentares governistas alegaram que o general mentiu, questionando o compromisso de dizer apenas a verdade na CPMI. No entanto, o presidente do colegiado, Arthur Maia (União-BA), não levou a acusação adiante.
Bate boca com a relatora
A tensão aumentou durante o depoimento quando a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) perguntou a Heleno se ele acreditava que houve fraude nas eleições de 2022, insinuando que ele havia mudado de opinião sobre o tema. O general respondeu: "Já tem o resultado das eleições. Já tem um novo presidente da República. Não posso dizer que [as eleições] foram fraudadas. Foram examinadas..."
Diante dessa resposta, Eliziane comentou: "Certo. O senhor mudou de ideia, né?" e encerrou suas perguntas.
Heleno se irritou com a insinuação. "Ela fala as coisas que ela acha que tá na minha cabeça. Porra, é para ficar puto. Puta que pariu", esbravejou o general da reserva, dirigindo-se ao advogado que o acompanhava.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) interveio, pedindo respeito à relatora.
Durante o depoimento, Heleno negou seu envolvimento no planejamento dos atos do 8 de janeiro que antecederam a posse do presidente empossado Luis Inácio Lula da Silva (PT). Ele afirmou que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não tinha missões nessa data, além de atuar na proteção de Bolsonaro e do vice-presidente, Hamilton Mourão.
O militar também negou participação nas ações de 12 de dezembro, quando ocorreram depredações em Brasília, e na articulação do atentado a um aeroporto da capital federal em 24 de dezembro.
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