Como derrotar a Cidade Comunista
Nowa Huta foi concebida para ser uma cidade sem Deus. Hoje a principal avenida do lugar se chama João Paulo II
Em minha recente entrevista com Allan de Santos, o jornalista exilado mencionou o exemplo de S. João Paulo II como um modelo de ação para o enfrentamento de ditaduras como a que vemos instalada no Brasil hoje. A citação do grande papa polonês me fez lembrar a história de Nowa Huta, a Cidade sem Deus.
Nowa Huta (em polonês, Nova Siderúrgica) era uma cidade industrial construída nos arredores de Cracóvia, no final dos anos 40. O objetivo do regime comunista polonês era criar ali uma espécie de cidade comunista ideal, com imensas moradias padronizadas e instalações siderúrgicas modernas — uma espécie de joia da coroa do socialismo. Naturalmente, na visão dos dirigentes comunistas, não havia espaço para a religião neste lugar. Deus não era bem-vindo em Nowa Huta.
Mas faltou combinar com os operários poloneses. Vindo aos milhares de outras regiões do país, os trabalhadores recrutados para o novo polo industrial eram católicos em sua esmagadora maioria. Certa manhã, um elemento inesperado surgiu na paisagem sombria de Nowa Huta: era uma imensa cruz de madeira, erguida clandestinamente durante a madrugada pelos operários católicos.
O governo comunista não podia tolerar semelhante afronta. Imediatamente, agentes policiais trataram de retirar a cruz do local. Mas os operários eram teimosos e, passados alguns dias, lá estava uma nova cruz de madeira. Por vários anos, a situação se repetiu: a polícia tirava a cruz, os operários a colocavam de volta. Houve diversos choques entre operários e policiais — e também algumas prisões.
Em 1958, um padre chamado Karol Wojtyla foi nomeado Arcebispo-Auxiliar de Cracóvia. O novo prelado enviou inúmeras petições para a construção de uma igreja em Nowa Huta. Em certo momento, a autorização foi concedida, mas tempos depois os comunistas voltaram atrás e decidiram construir uma escola no lugar da igreja. Karol não desistiu. Mesmo naquele tempo em que muitos padres estavam presos — e as missas eram celebradas no silêncio dos lares, com uma lacuna no momento da consagração do pão e do vinho — o combativo arcebispo continuou enviando petições para a construção de uma igreja na Cidade Sem Deus. Em 1977, a obra finalmente foi autorizada. Construiu-se, finalmente, uma igreja em Nowa Huta — naquele abominável estilo de arquitetura socialista, mas uma igreja.
No ano seguinte, um milagre aconteceu: Karol foi eleito Bispo de uma outra cidade: Roma. De volta a seu país natal com o nome de João Paulo II, ele discursou a uma multidão de fiéis poloneses:
“Da cruz em Nowa Huta começou a nova evangelização: a evangelização do novo milênio. Esta igreja testemunha-o e confirma-o. Ela nasceu de uma fé consciente e viva e é necessário que continue a servi-la. Construístes a igreja; edificai a vossa vida com o Evangelho!”
Hoje a principal avenida de Nowa Huta se chama João Paulo II. É assim que se derrota o comunismo, meus amigos.
— Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM. Autor de Nossa Senhora dos Ateus e O Mínimo sobre Distopias.
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