A LENDA

Brasil dá adeus a Silvio Santos, o Rei da TV

Paulo Briguet · 17 de Agosto de 2024 às 11:16 ·

Maior comunicador da história do país morre em São Paulo aos 93 anos. Obrigado, Silvio, por fazer parte de nossas vidas

Na manhã deste sábado, 17 de agosto, escrevo uma das notícias mais tristes de meus 32 anos de jornalismo: Silvio Santos, o maior nome da televisão brasileira, morreu aos 93 anos. O comunicador estava internado há semanas no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e não resistiu a uma infecção bacteriana. Sua partida marca o fim de uma era, e a tristeza se espalha por todos aqueles que, como eu, cresceram ao som do seu inconfundível “Vem pra cá!”

Lembro-me de um domingo em que a casa da minha avó Maria Costa Briguet, na Rua Castro Alves, em Araçatuba, era uma pequena festa. Depois da missa da manhã e do almoço preparado por Maria, o cheiro de café recém-passado misturava-se com as risadas e conversas animadas que enchiam o ambiente. A tarde começava com a certeza de que a televisão nos transportaria para um universo de alegria e simplicidade. Era dia de Programa Silvio Santos.

Minha avó, com seus olhos verdes brilhantes e uma simpatia que só as grandes avós possuem, era uma devota fiel do Silvio. Ela não perdia um programa sequer. Para Maria, aquele homem de sorriso largo e bordões cativantes era quase um membro da família. Era como se o “Quem quer dinheiro?” e o “Vem pra cá!” fossem convites para momentos de felicidade compartilhada.

Maria tinha um sonho peculiar, algo que ela compartilhava sempre com uma mistura de humor e seriedade: participar do programa “As Portas da Esperança” com um pedido inusitado. Minha avó queria usar a fama do programa para construir um túmulo bem bonito para seus pais, Antônio (Pai Costa) e Ambrosina (Mãe Mulata). Era uma maneira de expressar seu carinho e seu desejo de que a memória da família fosse preservada com a mesma atenção e cuidado que ela dedicava àqueles momentos de alegria e descontração proporcionados por Silvio.

Meu pai, Paulo Lourenço, também tinha uma relação especial com Silvio Santos. Como escritor e advogado, ele admirava a trajetória do apresentador, que começara como camelô e chegou ao auge da comunicação brasileira. Paulo tinha também um sonho um pouco peculiar: participar do “Show do Milhão”. Ele imaginava-se lá, respondendo perguntas e talvez, quem sabe, levando um prêmio para casa. Mas mesmo sem ter sido convidado para o programa, ele sempre dizia que Silvio era uma inspiração para todos que lutavam para alcançar seus próprios sonhos.

Eu, por minha vez, cresci com a companhia da televisão ligada aos domingos. O “Show de Calouros” era um ritual familiar. Aquele palco iluminado e o show à parte dos jurados, especialmente a presenças inesquecíveis de Aracy de Almeida e Pedro de Lara, eram como uma janela para um mundo onde todos podiam se destacar, e onde a criatividade e o talento eram celebrados. Aracy, a antiga diva do rádio, era xará de minha mãe, e Pedro, com seu humor ácido e olhar feroz, era xará do meu filho. Eles tornavam o programa não apenas uma competição, mas uma festa de talentos e emoções. Quem não se lembra do jingle de entrada dos jurados?

“Aracy de Almeida... é coisa nossa! Aracy de Almeida... é coisa nossa! Mas que vai, vai, mas que vai, vem...”

Havia algo de mágico naquilo tudo. Cada domingo, ao ligar a TV, era como se entrássemos em uma celebração nacional. Foi a partir dessa época que eu comecei a imitar Silvio Santos — e talvez não exista na história do país alguém que tenha sido tão imitado, bem ou mal.

A morte de Silvio Santos deixa um vazio imenso no coração dos brasileiros. Ele não foi apenas um apresentador; foi um ícone que acompanhou gerações e criou memórias que agora se tornam ainda mais preciosas. Sua trajetória, desde os dias humildes de camelô até a construção do SBT, é um testemunho de persistência e criatividade.

Naqueles domingos que passamos juntos, entre risos e imitações, não era apenas o entretenimento que estava em jogo. Era a celebração da vida, das pequenas alegrias e das grandes conquistas. Silvio Santo fez com que cada um de nós se sentisse parte de algo maior, algo que transcendia as limitações do dia a dia.

Enquanto nos despedimos dele, lembramos de cada sorriso, cada brincadeira e cada momento de felicidade que ele trouxe para nossas vidas. Espero que agora o Silvio possa apresentar seu programa lá no Céu, para uma plateia composta por nossos entes queridos. Agora ele vai abrir as Portas da Esperança para Maria. Agora ele vai fazer a pergunta decisiva para Paulo Lourenço. Agora é o Grande Domingo.

Silvio, que seu descanso seja tão bom quanto a alegria que você nos proporcionou. E para nós, que ficamos aqui, seu legado será sempre lembrado com carinho e gratidão. Ma oeee...

Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM.

 


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