Bolsonaro afirma estar tranquilo sobre delação de Mauro Cid; é um "supersecretário", disse
Bolsonaro demonstrou não temer a delação de Cid, enfatizando que o ex-auxiliar não estava envolvido em decisões políticas ou governamentais, e que era alguém em quem confiava para cuidar de suas contas bancárias e atender demandas de sua esposa
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) revelou estar "tranquilo" em relação ao acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid com a Polícia Federal (PF), durante uma entrevista exclusiva concedida à Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (13). Bolsonaro elogiou o trabalho de seu ex-ajudante, a quem se referiu como um "supersecretário". A delação premiada de Mauro Cid foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no sábado (9).
"Ele foi de minha confiança ao longo dos 4 anos. Fez um bom trabalho. E tinha aquela vontade de resolver as coisas. O telefone dele, por exemplo, eu chamava de muro das lamentações. Não só militares, mas civis que queriam chegar a mim, vinham através dele", afirmou Bolsonaro.
A delação premiada também concedeu liberdade provisória ao militar, que estava preso desde maio, acusado de envolvimento em suposto esquema de fraudes de cartões de vacinação. Em liberdade, Cid terá de usar tornozeleira eletrônica, não poderá sair de casa em determinados horários e será afastado de suas funções no Exército. Vale lembrar que a prisão de Cid foi efetuada à revelia do Ministério Público.
O Exército Brasileiro divulgou no domingo (10) que deve cumprir a decisão do ministro e afastar o tenente-coronel Mauro Cid de suas funções. “O Tenente-Coronel Mauro César Barbosa Cid ficará agregado ao Departamento-Geral do Pessoal (DGP) sem ocupar cargo e exercer função”, disse o Exército por meio de nota.
Bolsonaro demonstrou não temer a delação de Cid, enfatizando que o ex-auxiliar não estava envolvido em decisões políticas ou governamentais. O ex-presidente afirmou que Cid era alguém em quem confiava para cuidar de suas contas bancárias e atender algumas demandas de sua esposa, Michelle Bolsonaro.
"Não tenho [medo]. Ele não participava de nada. Eu estive com o [Vladimir] Putin, por exemplo. Estive com o [Donald] Trump. Éramos eu e o intérprete. Cid nunca estava. Ele agendava, ali, os horários de encontros com chefes de Estado, com ministros, com autoridades, com comandantes de força. Mas nunca participou dessas reuniões", explicou Bolsonaro.
A entrevista com Bolsonaro foi realizada na suíte do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde o ex-presidente estava internado para passar por cirurgias na terça-feira (12). Ele estava acompanhado de seus advogados Fabio Wajngarten e Paulo Cunha Bueno, além de um assessor pessoal.
Durante a entrevista, um dos advogados de Bolsonaro ressaltou o impacto emocional sofrido por Mauro Cid durante os quatro meses em que ficou detido sem acusações formais e sem a oportunidade de se defender. Bolsonaro concordou com essa avaliação, afirmando que não estava preocupado com sua vida pessoal.
"Eu vejo da mesma forma que o advogado fala aí. Não tenho nenhuma preocupação com a minha vida particular. Falam muito das contas da Michelle. Ela está tentando pegar o extrato na Caixa, e a Caixa não dá. Eu até perguntei a ela agora há pouco, quanto dava, em média [os gastos dela], por mês. Não chegava a R$ 3.000. É ridículo", declarou Bolsonaro.
"O Cid é uma pessoa decente. É bom caráter. Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar. Há uma intenção de nos ligar ao 8/1 de qualquer forma. E o Cid não tem o que falar no tocante a isso porque não existe ligação nossa com o 8/1. Eu me retraí [depois da derrota para Lula], fiquei no Palácio da Alvorada 2 meses, fui poucas vezes na Presidência. Recebi poucas pessoas", concluiu Bolsonaro na entrevista.
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