AMÉRICA LATINA

Áudios explosivos de Benedetti revelam supostos financiamentos ilegais e compra de votos para Gustavo Petro

Lucas Ribeiro · 6 de Junho de 2023 às 15:20 ·

Gravações mostram ameaça do ex-chefe de campanha do atual presidente colombiano e compra de votos na última eleição


A Revista Semana divulgou com exclusividade uma série de áudios explosivos que revelam a ameaça feita por Armando Benedetti (ex-embaixador da Colômbia na Venezuela e ex-chefe de campanha de Gustavo Petro) a Laura Sarabia, ex-chefe de gabinete do governo colombiano. Nos áudios vazados, Benedetti confessa ter conseguido 15 bilhões de pesos para a campanha e os votos decisivos da região da Costa. O ex-embaixador ressalta que sabe como o dinheiro foi arrecadado nessa área do país. “Com tanta coisa suja que eu sei, todos nós estamos ferrados”, diz ele.

O escândalo que envolve Armando Benedetti e Laura Sarabia atinge diretamente o presidente Gustavo Petro. A Semana revelou os áudios que mostram Benedetti como uma peça-chave para esclarecer o financiamento da campanha presidencial de Petro em 2022.

As provas divulgadas divergem do que o político garantiu ao portal Cambio, ao dizer que não havia "nada de irregular" durante a disputa eleitoral. Armando Benedetti é uma raposa política que já transitou por todos os espectros políticos da Colômbia e sempre orbitou ao redor do poder no cenário político colombiano.

Nos áudios, Benedetti está ciente de tudo o que sabe e constantemente confronta Sarabia, que foi sua aliada, subordinada e, no final, tornou-se a sua pior inimiga. A discussão se intensificou quando Benedetti pediu uma reunião com o presidente Petro no Palácio de Nariño e foi deixado esperando por três horas. Sentindo-se humilhado, ele repreendeu Sarabia com dureza.

Em um dos trechos mais fortes dos áudios vazados, Benedettu diz à ex-chefe de gabinete de Petro:

Na hora que eu falar quem deu o dinheiro aqui na Costa (região da Colômbia), eu sei o que é aquele caralho, você não sabe porra nenhuma de história, leia como começou o filho da puta [processo] 8.000 e por que começou, aí está a chave para tudo que vai acontecer com você, e se você acha que é chantagem, você acha que é chantagem, é uma resposta a uma forma de filho da puta sua, é uma resposta a uma filho da putice, ainda não é chantagem”.

O processo 8000 é um escândalo ocorrido no governo do presidente Ernesto Samper, acusado de receber financiamento do narcotráfico em 1995. Esse trecho leva a crer que Gustavo Petro teria recebido financiamento de traficantes de drogas. É importante lembrar que o filho do presidente foi acusado pelo Ministério Público da Colômbia de ter lavado dinheiro de traficantes.

Nas conversas, Benedetti revela sua frustração e ameaça Sarabia. Ele afirma que está disposto a contar tudo o que sabe, incluindo a identidade das pessoas que financiaram a campanha na região da Costa. Benedetti adverte que isso pode causar um grande escândalo e derrubar todos eles. Os áudios também trazem acusações graves contra outros políticos, como o ex-ministro de Interior Alfonso Prada e o senador Roy Barreiras, ambos da coalisão governista: “O senhor Prada roubou todo o ministério com a mulher, o senhor Roy... tudo, tudo”. Benedetti deixa claro que não está apenas ameaçando, mas disposto a revelar tudo o que sabe. Ele afirma que tem informações suficientes para “acabar com tudo”.

Benedetti afirmou ter conseguido 15 bilhões de pesos (equivalente a 17 milhões de reais) para a campanha presidencial de Petro.  Uma reportagem do Panam Post revela que esses números não se encaixam com declaração de campanha do presidente socialista. Dos 31 bilhões de pesos declarados na campanha, 30,5 bilhões teriam vindo de créditos em bancos; e fica a dúvida se um montante que foi a metade de toda a campanha não foi declarado, ou se o ex-chefe de campanha de Gustavo Petro está mentindo.

Na conversa revelada pela Revista Semana, Benedetti expressa sua indignação e afirma que o presidente Petro deve seu triunfo nas urnas a ele. Durante a campanha, Benedetti era a sombra do candidato Petro, organizando sua agenda, garantindo suas aparições na mídia e até gerenciando sua vida para garantir o cumprimento de todos os compromissos.

Esses áudios explosivos representam um escândalo que pode ter grandes consequências para a política colombiana, especialmente para Gustavo Petro e seus aliados. A insatisfação de Benedetti que esperava mais poder dentro do governo e acaba revelando supostos financiamentos ilegais de campanhas pode ser uma enorme dor de cabeça para os interesses do mandatário colombiano e a sua governabilidade. ‘

O ex-candidato a presidente Fico Gutierrez se manifestou sobre o escândalo: “Rumo a Bogotá para apresentar uma denúncia à Comissão de Acusações da Câmara dos Deputados para investigar possível cometimento de crimes relacionados ao financiamento ilegal da campanha presidencial de Petro (possivelmente dinheiro do tráfico de drogas).”

A ex-candidata presidencial Ingrid Bettancourt foi ainda mais enfática: “Agora descobrimos que quem financiou a campanha do Petro foi Maduro. Os recursos passaram pelo clã Torres próximo a Benedetti. Laura Sarabia está prestes a ir para a cadeia. E a Colômbia controlada pela Narco-Venezuela”.

Até o senador oficialista Ariel Ávila disse: “Isso não é um tema apenas político, é um tema judicial”.

O presidente colombiano Gustavo Petro se pronunciou sobre o escândalo:

“Ninguém do gabinete do governo, nem diretores ou comandantes da força pública, nem diretores de aparatos de inteligência ordenaram interceptações telefônicas ou batidas ilegais, nem foram aceitas chantagens sobre cargos ou contratos públicos, nem dinheiro recebido na campanha de pessoas ligadas ao narcotráfico, muito menos cifras como 15 bilhões foram movimentadas fora de nossa contabilidade”.

Petro afirmou que seu ex-coordenador de campanha que deve explicações ao Ministério Público e ao país. 

Esse novo escândalo se soma às denúncias do Ministério Público de lavagem de dinheiro do narcotráfico do filho do presidente e ao chamado “Pacto da Picota”, pelo qual o irmão de Petro visitou cadeias na Colômbia em busca de apoios e financiamentos.

 


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