CULTURA

Sétimo Selo, uma editora para tempos apocalípticos

Fábio Gonçalves · 20 de Dezembro de 2020 às 13:57 ·

Nosso repórter-escritor Fábio Gonçalves entrevista Thomaz Perroni e Ulisses Trevisan, os criadores da editora Sétimo Selo 

Nestes tempos atribulados, tempos em que, acossados por potestades apocalípticas, só restam ao indivíduo os recantos de sua consciência, eis que surge no mercado livresco brasileiro a Sétimo Selo, editora cujo objetivo é dar ao grande público o melhor da literatura de ficção e da crítica literária mundiais — subsídios para a vida interior nesses tempos em que o mundo se faz cativeiro.

Para saber um pouco mais sobre o que a Sétimo Selo tem a oferecer aos leitores, o BSM foi conversar com Thomaz Perroni e Ulisses Trevisan, responsáveis pela editora.   

Brasil Sem Medo: Bom, a primeira curiosidade é com relação ao nome: por que Sétimo Selo?
Sétimo Selo: Foram vários os motivos que nos levaram a escolhê-lo. O primeiro é literal, porque se trata do sétimo selo do nosso grupo editorial (que já conta com Vide, Ecclesiae, Kírion, Auster, Livre e CEDET). O segundo motivo é o simbolismo envolvido no nome, que tem claras ressonâncias bíblicas (os sete selos proféticos do Apocalipse, os sete dias da Criação etc.). Além disso, o nome apresenta, naturalmente, ligações mais imediatas e populares, como à obra-prima de Ingmar Bergman.

BSM: E que tipo de livros vocês vão publicar?
Sétimo Selo: Fundamentalmente, literatura de ficção e crítica literária. A Sétimo Selo tem como objetivo publicar os grandes escritores e críticos da literatura mundial, e também trazer de volta ao mercado brasileiro autores estrangeiros e brasileiros de grande envergadura que caíram no esquecimento por não atenderem às exigências do gosto atual. A idéia central é primar pela qualidade literária e universalidade das obras.

BSM: Por que começar com o Orwell?
Sétimo Selo: Bem, primeiro porque houve uma feliz coincidência. Calhou de, bem na época do lançamento da editora, as obras do George Orwell caírem em domínio público. Então, como ele é um autor muito bem aceito no Brasil, não podíamos perder a oportunidade de dar aos leitores uma edição nova, com tradução inédita, das suas maiores obras. Porém, mais do que isso, sabemos da força poética e da importância circunstancial dos clássicos orwellianos. Ainda que se diga que a arte em geral, e a literatura em particular, não tenham função prática alguma, se tivéssemos de indicar uma possível função seria a de abrir o nosso espírito para o vasto horizonte das possibilidades humanas. E, para o momento em que vivemos, não há obras mais claras e didáticas do que os dois clássicos de Orwell. Com sua prosa simples e direta, Orwell consegue resumir toda uma situação complexa em um lema, como o sétimo mandamento de A revolução dos bichos, “Todos os bichos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”, ou os lemas do Grande Irmão em 1984, como “Guerra é paz; liberdade é escravidão; ignorância é força”, “O passado fora anulado, o ato da anulação fora esquecido, a mentira se tornara verdade” e “Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado”.  

BSM: E já tem mais coisa no prelo?
Sétimo Selo: Sim. Além dos clássicos de Orwell, logo no começo de janeiro sairá, como já dissemos, O grande código de Northrop Frye, em nova tradução. Neste livro, rejeitando as interpretações dogmáticas e literais, Northrop Frye mostra que a Bíblia é o mito fundador da civilização ocidental e está no fundo de toda a nossa compreensão de nós mesmos e de todas as nossas possibilidades de ação. Ou seja, para Frye, todos os esquemas narrativos que conhecemos e que são explorados na literatura e na arte ocidental não são senão variações de enredos bíblicos. Mas temos ainda outra surpresa para o fim de janeiro, dentro da linha da literatura brasileira.

BSM: E podem adiantar quais serão os próximos títulos ou autores?

Sétimo Selo: Entre os autores que serão publicados em 2021 estão José Geraldo Vieira, Octávio de Faria, Otto Maria Carpeaux, Fiódor Dostoiévski, Georges Bernanos, Victor Hugo, G. K. Chesterton, Jakob Wassermann e muitos outros. A ideia é lançar pelo menos dois livros por mês. Para saber mais, o leitor pode acompanhar as redes sociais da editora (https://www.instagram.com/7seloeditora/?hl=pt-br e https://www.facebook.com/7seloeditora)

BSM: E falando sobre o mercado editorial, ele melhorou ou piorou durante a pandemia?
Sétimo Selo: Pode ser que estejamos enganados, afinal as coisas ainda estão se desenrolando, mas, por incrível que pareça, o mercado editorial parece ter tido êxito nesse período; em meio a toda essa confusão, o leitor parece ter optado por deixar os eletrônicos de lado e retomar o livro. Mas vale notar que alguns nichos estão indo melhor do que outros. Apesar de termos sofrido um baque no início da confusão toda, não passamos mal por esses últimos meses, e o mercado de livros com temáticas liberais ou conservadoras expandiu bastante. Quer dizer, o sujeito aproveita que está em casa e compra livros para poder entender a situação, para fazer a sua crítica etc.

BSM: E a falência de grandes livrarias, acham que esse fenômeno representa uma crise dos livros impressos? É uma vitória da tecnologia?
Sétimo Selo: Não há crise de livros impressos. A Amazon está aí para comprovar isso. O mercado se tornou mais dinâmico e o espaço é muito amplo no Brasil, mas já havia certa demanda reprimida no mercado editorial, que aos poucos vem sendo suprida. Talvez a falência das grandes livrarias tenha se dado por certa falta de tino, seja com as novas características da demanda editorial, seja com a demanda prática e logística desse novo mercado. Mas uma coisa que sem dúvidas fracassou, pelo menos do ponto de vista da venda de livros, foi o modelo da “megastore”, como as da Saraiva, da Cultura. A aposta ali era a tal “experiência do livro”, o espaço, o cafezinho etc. Mas não se notava uma preocupação especial, por exemplo, com o preço. Aliás, a própria estrutura da livraria encarece o produto. Daí que é mais fácil alguém, sentado num cafezinho de uma dessas megastores, comprar pelo celular um livro na Amazon.

BSM: Que posição vocês pretendem assumir nesse mercado? A editora trará algum diferencial?
Sétimo Selo: O diferencial será a união entre o preço de mercado e a qualidade literária e editorial dos livros. Buscaremos diferenciar as edições com conteúdos exclusivos e inéditos, traduções sólidas e acabamento de qualidade, sem que isso implique em um aumento significativo no preço final. Além disso, o CEDET pôde construir ao longo desses anos uma ótima rede de distribuição, de modo que os livros certamente estarão presentes no país inteiro e serão entregues de forma rápida e segura. Queremos participar do mercado das grandes editoras de literatura de ficção: a Cia das Letras, a LeYa, a LP & M. Este é o primeiro selo da empresa que abre mais o leque, que tenta sair do alinhamento mais típico da Vide, da Ecclesiae, e que tenta falar com o público geral. Queremos produzir livros que se possam achar nas bancas de jornal, nos aeroportos. Uma coisa mais abrangente, fugindo um pouco das questões ideológicas. Ou seja, nosso compromisso é levar ao leitor — qualquer leitor — o melhor da literatura universal.

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