CONSCIÊNCIA NEGRA

O Brasil tem dívida histórica com os negros graças à "supremacia branca", diz Lula

Rhuan C. Soletti · 20 de Novembro de 2023 às 16:46 ·

Durante o evento, o governo anunciou uma política nacional para os quilombolas, com previsão orçamentária de mais de R$ 20 milhões

O atual ocupante da presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou nesta segunda-feira (20) que o Brasil carrega uma dívida histórica com a população negra, decorrente da "supremacia branca" desde os "primórdios da colonização portuguesa". A declaração foi feita durante um evento realizado no Palácio do Planalto em celebração ao "Dia da Consciência Negra".

Proclamando a necessidade de reconhecimento e enfrentamento dessa "dívida", o petista ressaltou a importância de abordar as raízes históricas que "moldaram as desigualdades presentes na sociedade brasileira".

O evento carrega o suposto compromisso do governo em promover a "conscientização sobre questões raciais" e trabalhar para "construir um país mais igualitário e justo para todos os cidadãos", independentemente de sua origem étnica.

Veja o trecho transcrito:

"Deixa eu dizer para vocês: tudo isso que nós assinamos agora, é como se a gente tivesse plantando uma árvore. Essa árvore para dar certo, ela tem que ser semeada. Tem que colocar água, tem que ter sol. Até adubo. E você sabe que adubo para uma política pública funcionar, são vocês.

Eu estava cobrando do INCA ali, uma coisa que me incomoda: Em 2005, eu legalizei um território quilombola em Contagem, Minas Gerais. Passado 13 anos, eu votei no Quilombo e ainda não tinha sido dado a escritura definitiva pro Quilombo. Então essas coisas às vezes demora, às vezes tem empecilho, às vezes tem vírgulas a mais, vírgulas a menos, às vezes tem muita burocracia.

Então, é o seguinte: essas coisas que nós assinamos aqui, para elas andarem vocês não podem deixar de cobrar o funcionamento das coisas.

Porque se não, daqui a pouco alguém me encontra na rua e fala 'presidente, você assinou o decreto de não sei das contas lá e não aconteceu nada, presidente'. E pode ser verdade. Então por favor, o que nós fizemos aqui hoje é o pagamento de uma dívida histórica que a supremacia branca construiu neste país desde que esse país foi descoberto. E que nós queremos apenas recompor aquilo que é a realidade de uma sociedade democrática.

Nós não somos diferente pela pele, pelo cabelo, pela roupa, porque nós somos irmãos, viemos do mesmo pai, moramos no mesmo planeta e temos o sangue da mesma cor. Então tudo o que a gente está fazendo é a tentativa de recompor coisas que foram destruídas e recolocar no lugar coisas que foram tiradas. 

Vocês não têm noção de como é que nós encontramos esse país. Vocês estão vendo o furacão no Rio Grande do Sul enchendo dágua, vocês estão vendo Santa Catarina. Mas aqui teve um furacão para destruir tudo o que é política de inclusão social que a gente se matou para fazer em 13 anos; se destruiu em um dia. É como a Faixa de Gaza.

Vocês estão vendo aqueles prédios que são destruídos? Levaram décadas para ter construídos. Mas um foguete destrói aquilo em um segundo. E aqui destruíram políticas públicas que nós estamos tentando reconstruir.

Eu digo que esse ano foi o ano da reconstrução, de colocar a casa em pé. Ainda muito dos meus ministérios, Benedita, não tem a quantidade de funcionários hoje que tinha no tempo que eu fui presidente de 2013 e 2010. E é preciso recompor para que a sociedade brasileira tenha competência para ajudar a fiscalizar aquilo que nós fazemos."

Uma das medidas adotadas “se propõe a promover práticas de gestão territorial e ambiental desenvolvidas pelas comunidades quilombolas”, de acordo com o Planalto. Além disso, o Executivo também anunciou medidas para a Cultura, titulação de terras e políticas afirmativas. Abaixo a lista com alguns pontos:

Títulos de terra: a ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) entregou títulos de posse definitiva de terras para mais de 300 famílias quilombolas;

Ações afirmativas: Programa Federal de Ações Afirmativas tem investimento de R$ 9 milhões para desenvolver mecanismos que garantam o controle social, acompanhamento e a avaliação de políticas afirmativas;

Brasil Sem Fome: Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério da Igualdade Racial e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome sobre o combate à fome, à insegurança alimentar e à pobreza;

Hip Hop: decreto presidencial de reconhecimento do gênero como referência Cultural Brasileira, estabelecendo as diretrizes nacionais de valorização da cultura Hip-Hop;

Caminhos amefricanos: investimento de R$ 4,5 milhões por ano, e R$22.5 milhões no total, o programa de intercâmbios Sul-Sul pretende alcançar 15 países ao longo dos próximos 5 anos;

Edital: Anielle Franco anunciou investimento de R$ 4,4 milhões em uma chamada pública de incentivo à produção cultural, economia de axé e agroecologia;

Atendimento psicossocial: o governo investirá R$ 8 milhões em formação especializada para quem trabalha no atendimento psicossocial de mães e familiares vítimas de violência.

No mesmo evento, Lula chamou a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) para cantar a música “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, acompanhada da plateia do evento. Cá entre nós, ela destruiu a música. Eis o evento completo:



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