Lula defende eleições na Venezuela e pede "presunção de inocência" de Maduro
O petista só "se esqueceu" de mencionar que não há candidatos de oposição na Venezuela, pois o Supremo Tribunal de Justiça do país, totalmente aparelhado por Maduro, inviabilizou a candidatura de uma e prendeu a outra opositora
O presidente Lula afirmou nesta quarta-feira (6), em conversa com jornalistas em Brasília, que as eleições precisam ser feitas na Venezuela e pediu a "presunção de inocência" para o ditador daquele país, Nicolás Maduro. O pleito venezuelano está marcado para o dia 28 de julho.
"Acho que a comunidade internacional certamente tem todo o interesse em acompanhar pra saber se vai ser a mais democrática eleição da Venezuela. E eu espero que seja, porque eu acho que a Venezuela precisa disso, o Maduro precisa disso e a humanidade precisa disso. Agora, a gente não pode já começar a jogar dúvida antes das eleiçoes acontecerem porque aí começa a ter um discurso de prever antecipadamente que vai ter problema. Nós temos que garantir a presunção de inocência até que haja as eleições para que a gente possa julgar se ela (sic) foi democrática, se ela foi decente"
As declarações de Lula em defesa de ditadores e/ou regimes ditatoriais não são novidade. No caso de Maduro, ambos são aliados de longa data e trocam afagos frequentemente. Historicamente, o PT sempre aceitou as eleições venezuelanas, mesmo quando há claros indícios de fraude.
Na última sexta-feira (1), ambos se encontraram no Caribe, durante a Celac. Maduro busca a reeleição e, na ocasião, prometeu "eleições justas" ao aliado. "Segundo o que o Maduro me disse na reunião em São Vicente e Granadinas, ele vai convocar todos os olheiros do mundo que quiserem assistir ao processo eleitoral na Venezuela", continuou.
Oposição
Ainda nesta quarta-feira, Lula aproveitou para alfinetar seu adversário, Jair Bolsonaro, e fez referência à oposição venezuelana, afirmando que é importante que saiba aceitar o resultado eleitoral, mesmo que seja uma derrota. "Se candidato da oposição tiver mesmo comportamento da oposição aqui, nada vale", disse.
O petista só se "esqueceu" de mencionar que Maduro busca uma segunda reeleição e que não há candidatos de oposição porque o Supremo Tribunal de Justiça do país, totalmente aparelhado pelo ditador, inviabilizou a candidatura da líder da oposição, Maria Corina Machado, e prendeu a ativista Rocío San Miguel, que também era cotada para a disputa, por "terrorismo e traição à pátria".
Questionado por uma jornalista, o petista negou que sua intenção era fazer um paralelo entre a situação venezuelana e brasileira, mas citou seu caso em 2018: "Eu só disse a vocês [jornalistas] o que houve aqui nesse país. Eu fui impedido de concorrer às eleições de 2018 e, ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato que disputou as eleições", afirmou. Vale destacar que Lula não foi impedido de concorrer às eleições — ele estava preso após ser condenado por corrupção e, por isso, não pode se candidatar, como prevê a Lei da Ficha Limpa.
Lula, no entanto, não perdeu a chance de fazer ironia com Bolsonaro e de se autopromover:
"Obviamente que nem todo candidato que perde a eleição aceita o resultado. Só eu, que perdi três eleições neste país e, todas as que eu perdi, eu aceitei o resultado tranquilamente, voltei pra casa, me preparei, perdi outra vez, até que um dia eu ganhei. Então, quando eu perdi, eu aceitei", continuou o petista.
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