Freiras brasileiras são presas e deportadas na Nicarágua
Apesar de a perseguição política, ideológica e religiosa na Nicarágua ser explícita, Lula tem se esforçado para demonstrar sua boa relação com o ditador Daniel Ortega
Comandada pelo ditador e amigo de Lula, Daniel Ortega, a polícia política do regime socialista da Nicarágua invadiu a casa das irmãs da Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, em León, e prendeu quatro freiras brasileiras. As irmãs já estavam há sete anos na Nicarágua. Segundo a Fraternidade, as quatro irmãs foram deportadas para missão em El Salvador, do outro lado do Golfo da Fonseca e depois de Honduras, em segurança.
A ordem religiosa faz parte da fraternidade O Caminho, formada por consagrados, sacerdotes e leigos, fundada em 2001 pelo padre Gilson Sobreiro, pela irmã Serva das Chagas Ocultas do Crucificado, e pela leiga Márcia Oliveira Maia Prates.
Diz uma nota oficial publicada pela fraternidade nas redes sociais:
“Queremos por este meio manifestar nossa gratidão pelos sete anos de missão nas terras da Nicarágua, agradecemos a acolhida da Igreja e do povo durante esse tempo que nosso carisma permaneceu no país servindo os pobres nos seus múltiplos rostos. Como cita nossas fontes: ‘Antes de oferecermos qualquer outra coisa, oferecemos primeiro a nós mesmos: oferecemos-lhe Cristo em nós.’
Com isso queremos agradecer a todas as consagradas, leigos, jovens, benfeitores e amigos que construíram com nós a missão e fizeram possível levar Cristo aos pobres, com esses sentimentos informamos que nossas irmãs foram enviadas à missão de El Salvador. Deus abençoe a todos!”.
Ditadura amiga
Em julho, o Exército brasileiro realizará um treinamento militar com a participação de representantes das Forças Armadas da Nicarágua, país que se notabilizou pela perseguição a cristãos nos últimos anos.
A “Operação Paraná III” foi criada e é organizada pela Conferência dos Exércitos Americanos (CEA), órgão internacional que visa aumentar a cooperação entre as forças dos países do continente na repressão à "instabilidade política". O Exército, em resumo, se preparará para conter um hipotético "novo 8 de janeiro" ou semelhante.
Apesar de a perseguição política, ideológica e religiosa na Nicarágua ser explícita, o presidente empossado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem se esforçado para demonstrar sua boa relação com Ortega.
Perseguição
No mês passado, a ditadura comunista comandada Ortega, na Nicarágua, tomou posse de um colégio católico à força, e três freiras estrangeiras, da Congregação que administra o colégio, estão a ponto de serem expulsas do país.
Segundo os jornais locais e moradores, a polícia do regime ditatorial invadiu o Colégio Santa Luísa de Marillac na madrugada do dia 29 de maio. A insituição é a única escola secundária no município de San Sebastián de Yalí, no departamento de Jinotega.
Em 23 de maio, a ditadura sanguinária de Ortega prendeu o sacerdote Jaime Iván Montesinos Sauceda, da paróquia de San Juan Pablo II, em Villa Chagüitillo, município de Sébaco, na diocese de Matagalpa, um dos departamentos mais afetados pela repressão de Ortega à Igreja Católica. O fato ocorre em um contexto de perseguição e detenção de religiosos no país.
Uma semana antes, alguns dias após a Assembleia Nacional da Nicarágua anunciar a dissolução da Cruz Vermelha, a ditadura de Ortega ordenou o fechamento de duas universidades ligadas à Igreja Católica. O regime da Nicarágua acusou as duas instituições de “descumprimento” das leis. Segundo Ministério do Interior, o fechamento se deu por "dissolução voluntária". Ao todo, Ortega fechou 17 universidades privadas nos últimos 16 meses.
Da mesma forma, o regime ordenou o encerramento das atividades da Fundação Mariana de Combate ao Câncer no país, também vinculada à Igreja Católica, “por não prestar contas de sua diretoria há mais de quatro anos e de suas demonstrações financeiras por exercícios fiscais há mais de 11 anos”.
As tensões entre a Igreja Católica e o governo aumentaram em 2018, quando vários templos católicos deram abrigo a manifestantes feridos nos protestos históricos contra Ortega. Segundo informações do Vatican News, recentemente, duas freiras costarriquenhas da Congregação Dominicana da Anunciação foram expulsas do país.
Isabel e Cecília trabalhavam em um abrigo para idosos na Fundación Colegio Susana López Carazo e foram forçadas a deixar a Nicarágua na quarta-feira, 12 de abril.
O governo comunista já havia confiscado o mosteiro das monjas trapistas em San Pedro de Lóvago, uma região montanhosa na Nicarágua central. A administração da entidade religiosa foi entregue ao Instituto Nicaraguense de Tecnologia Agrícola. As freiras trapistas já haviam abandonado o mosteiro em 24 de fevereiro. A anulação do status jurídico das Missionárias da Caridade, fundadas por Santa Madre Teresa de Calcutá, permitiu ao governo de Ortega expulsar as religiosas em julho de 2022.
Durante a Semana Santa, o padre Donaciano Alarcón, missionário claretiano panamenho, também foi expulso por rezar pelo bispo da Diocese de Matagalpa, dom Ronaldo Álvarez. Condenado a mais de 26 anos de prisão pela ditadura de Daniel Ortega, dom Ronaldo estava em prisão domiciliar desde 19 de agosto de 2022.
Além das expulsões e confisco de propriedades religiosas, o regime comunista impôs restrições severas às celebrações da Semana Santa. Eventos públicos tradicionais de Páscoa foram proibidos resultando no cancelamento de mais de três mil procissões em todo o país. Aproximadamente 20 cidadãos nicaraguenses foram presos durante o período.
O Monitoreo Azul y Blanco, grupo independente e interdisciplinar que monitora ocorrências de violações dos direitos humanos na Nicarágua, registrou 71 ocorrências durante a Semana Santa, entre os dias 1 e 9 de abril deste ano. Os registros incluem ameaças, coação, detenções, cercos a templos religiosos e repressão migratória.
Os cristãos da Nicarágua foram proibidos de celebrar publicamente a Semana Santa, que termina em 9 de abril. Por ordem o ditador Daniel Ortega, atividades religiosas públicas estão proibidas há meses "por razões de segurança".
Nesta Páscoa, festas dos santos padroeiros, procissões e a Via Crucis na Sexta-feira Santa só puderam ser realizadas dentro das igrejas e em recintos especiais. Com uma população de 60% de católicos, Ortega proibiu mais de três mil celebrações de rua.
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