TRUMP

Estado do Colorado nos EUA proíbe Trump de concorrer eleições de 2024

Rhuan C. Soletti · 20 de Dezembro de 2023 às 11:58 ·

E pode piorar: a conclusão da decisão provavelmente também afetaria o status do ex-presidente para a eleição geral de 5 de novembro. Entenda

A Suprema Corte do estado norte-americano do Colorado desqualificou o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump para a eleição presidencial no estado em 2024, graças às acusações contra ele em relação ao ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021. Trump é o primeiro candidato para a presidência na história dos EUA a ser considerado inelegível para a Casa Branca com base em lei raramente usada da Constituição: a proibição do exercício do cargo por autoridades que tenham se envolvido em “insurreição ou rebelião”.

Colorado é um estado majoritariamente democrata, ou seja, o presidente norte-americano, Joe Biden, provavelmente vencerá no estado independentemente do destino de Trump. E pode piorar: a conclusão da decisão provavelmente também afetaria o status do ex-presidente para a eleição geral de 5 de novembro. Mas, por enquanto, a decisão se aplica somente às primárias republicanas de 5 de março no Colorado. 

Naturalmente, a equipe de campanha de Trump considerou a decisão do tribunal antidemocrática, e disse que ela seria objeto de recurso.

“A Suprema Corte do Colorado emitiu uma decisão completamente falha hoje à noite e nós entraremos rapidamente com um recurso na Suprema Corte dos Estados Unidos e um pedido simultâneo de suspensão dessa decisão profundamente antidemocrática”, disse um porta-voz da campanha.

Auxiliados pelo grupo Cidadãos pela Responsabilidade e Ética em Washington, o caso foi apresentado por um grupo de eleitores do Colorado. Ele argumentou que Trump deveria ser desqualificado por "incitar seus partidários a atacar o Capitólio" em uma tentativa fracassada de realizar um supsoto golpe.


As invasões do capitólio

Reprodução: Agência Brasil

Após a derrota do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nas eleições presidenciais de 2020, uma multidão de seus supostos apoiadores – e, segundo republicanos, alguns infiltrados – atacou o Capitólio dos EUA em Washington (DC), onde abriga a sede do Senado Americano e a Casa dos Representantes, em 6 de janeiro de 2021. 

Com a manifestação, tentou-se impedir que ocorresse uma sessão conjunta do Congresso que iria contar os votos do colégio eleitoral, formalizando a “vitória” do presidente Biden. A invasão ocorreu após discurso de Trump. A sessão conjunta do Senado e da Casa dos Representantes foi interrompida após a ocupação dos manifestantes no local. Os congressistas foram evacuados do local e a polícia tentou conter a manifestação.

Diferentemente da “invasão do Capitólio” brasileira, em 8 de janeiro de 2023, a norte-americana foi, sem dúvida, mais trágica. A morte de cinco pessoas é associada à invasão, mas não necessariamente ocorreram durante o evento. As associações causam estranheza entre muitos, além de que várias mortes ocorridas depois da data também são associadas. Por exemplo:

Uma vítima foi baleada pela polícia, outra morreu de overdose de drogas e três morreram de “causas naturais”. Muitas pessoas ficaram feridas, incluindo 138 policiais. Quatro policiais que responderam ao ataque se suicidaram num período de sete meses depois. A única morte diretamente relacionada à invasão foi de uma manifestante republicana baleada por um guarda que nunca respondeu a processo pelo crime.

Aparentemente, os danos monetários causados ​​pelos invasores excedem US$ 2,7 milhões. Mais de 2.000 manifestantes entraram no prédio, muitos dos quais vandalizaram e saquearam partes das instalações.

Uma semana após o motim, a Câmara dos Representantes solicitou o impeachment de Trump por incitação à insurreição, tornando-o o único candidato dos EUA presidente ter sofrido tentativa de impeachment duas vezes. Em fevereiro, depois que Trump deixou o cargo, o Senado votou por 57 a 43 a favor da condenação, mas como o resultado ficou aquém da maioria de dois terços, ele foi absolvido. Nesta segunda tentativa de impeachment, o motivo foi Trump ter acusado Biden justamente pelo crime que agora está vindo à tona.

Os republicanos no Senado bloquearam um projeto de lei para criar uma comissão bipartidária independente para investigar o ataque, então, em vez disso, a Câmara aprovou um comitê seleto com sete democratas e dois republicanos para investigar o caso. O comitê realizou nove audiências públicas televisionadas sobre o ataque em 2022 e, posteriormente, votou pela intimação de Trump.

Em março de 2022, as investigações do Departamento de Justiça (DoJ) se expandiram para incluir as atividades de outras pessoas que levaram ao ataque. Por fim, o Comitê recomendou ao DoJ que Trump fosse processado por obstruir um processo oficial, incitação, conspiração para fraudar os Estados Unidos e fazer declarações falsas. Isso culminou, após uma investigação do conselho especial, no indiciamento em tela, por quatro acusações.

Quase 1.100 pessoas foram acusadas de crimes federais decorrentes do ataque. Em julho de 2023, 629 réus se declararam culpados, enquanto outros 127 réus foram condenados no julgamento. No total, 586 réus foram condenados.


Outras acusações

O republicano já tornou-se réu em um caso que corre na Justiça de Nova York que investiga a compra do silêncio de Stormy Daniels, uma ex-atriz pornô, na campanha de 2016. Em junho, houve a segunda acusação, pela Justiça federal, por ter supostamente guardado consigo documentos secretos após deixar a Casa Branca. Ele nega ser culpado nos dois casos.

O indiciamento ocorreu por ele supostamente ter mantido documentos confidenciais do governo após deixar a Casa Branca. Cerca de 13 mil documentos foram apreendidos no ano passado na propriedade do ex-presidente em Mar-a-Lago, e aproximadamente 100 eram sigilosos. O ex-presidente pode ter quebrado mais de uma lei, caso proceda. Teria quebrado a lei 18 USC 793, que faz parte da Lei de Espionagem, a 18 USC 2071, que trata da remoção ilegal de registros governamentais da custódia dos EUA, e a 18 USC 1519, que é sobre obstrução da justiça. Como ex-presidente, Trump tem o direito de guardar os arquivos relativos à sua gestão, mesmo os classificados.

"A administração corrupta de Biden informou os meus advogados de que fui acusado, presumivelmente no falso caso das caixas", escreveu Trump na sua rede social Truth Social. "Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer com um ex-presidente dos Estados Unidos que recebeu mais votos do que qualquer outro presidente na história do nosso país", disse.

A primeira acusação contra o republicano estimulou milhões de dólares em contribuições de apoiadores furiosos e não afetou significativamente Trump nas pesquisas. Após o primeiro indiciamento, ele angariou ainda mais apoio e arrecadou US$ 10 milhões em menos de uma semana. Hoje, tem 53,8% das intenções de voto entre os republicanos, segundo o portal FiveThirtyEight, um agregador de pesquisas. Em segundo lugar, está o governador da Flórida Ron DeSantis, com menos da metade: 21,3%.

Trump já foi acusado de sete crimes, incluindo retenção ilegal de segredos do governo, obstrução de Justiça e conspiração, segundo pessoas familiarizadas com o caso. É a primeira vez na história americana que um ex-presidente enfrenta acusações federais. Mas Trump, antifrágil por natureza, parece seguir confiante na sua luta para voltar à Casa Branca. Nesta semana, antes de ser indiciado, ele declarou em sua rede social:

Entenda as semelhanças com o Brasil:

 


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