Bispo Rolando Alvarez recusa negociação e decide continuar preso na Nicarágua
A liberdade do bispo seria resultado de um acordo entre o Vaticano e o regime totalitário comandado por Ortega. Contudo, Rolando recusou a negociação e preferiu ficar com seu povo até o fim
Condenado a 26 anos de prisão por críticas ao amigo de Lula e ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, poderia ter sido libertado e seguir para o exílio. Contudo, o bispo recusou o acordo para permanecer com seu povo. De acordo com fontes ligadas aos Direitos Humanos na Nicarágua, Álvarez foi retirado da prisão na última terça-feira (4), mas isso foi desmentido pelo arcebispo de Manágua.
A soltura do bispo seria resultado de um acordo entre o Vaticano e o regime totalitário comandado por Ortega. Contudo, de modo semelhante ao mártir e beato Aloísio Stepinac, Rolando recusou a negociação e preferiu ficar com seu povo até o fim.
O bispo Álvarez, condenado em 10 de fevereiro deste ano por "traição" e privado de seus direitos, foi levado à sede da Conferência Episcopal da Nicarágua em Manágua, capital do o país, enquanto o Vaticano e a ditadura nicaraguense negociavam pela sua liberdade, segundo a agência Reuters.
Em 5 de julho, o arcebispo de Manágua e vice-presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua, cardeal Leopoldo Brenes, negou que o bispo tivesse sido libertado e disse que tudo foi "especulação". O regime liderado por Ortega faz campanha de assédio e perseguição ditatorial contra o bispo nicaraguense por vários anos, e contra os cristãos em geral.
Seu caso se parece com o do beato Stepinac, que foi prisioneiro político do governo comunista. Stepinac, posto na mesma situação de negociação de soltura, recusou o pedido para que ficasse e sofresse com seu povo. E, mais ainda: defender sua fé e a honra da unidade do Espírito Santo.
Sobre o beato, disse São João Paulo II: "Um exemplo extraordinário de testemunho cristão foi oferecido pelo Beato Alojzije Stepinac. Ele cumpriu a missão de evangelizador sobretudo sofrendo pela Igreja, e selou a sua mensagem de fé com a morte. Preferiu o cárcere à liberdade, para defender a liberdade da Igreja e a sua unidade. Não teve medo das cadeias, para que não fosse acorrentada a palavra do Evangelho".
Álvarez estava preso na penitenciária Jorge Navarro, conhecida como "La Modelo", uma das prisões mais superlotadas do país, para onde são enviados os presos políticos do regime.
Em agosto de 2022, o bispo ficou duas semanas preso dentro da casa episcopal em Matagalpa, junto com padres e leigos, por causa de um cerco policial. No dia 19 de agosto, a polícia política de Ortega invadiu a casa do bispo e o levou para Manágua, onde foi colocado em prisão domiciliar.
Em fevereiro deste ano, dom Álvarez foi condenado a 26 anos de prisão por “atos antidemocráticos”. O clérigo é acusado de atentar contra o regime de Ortega ao criticar publicamente o regime socialista do amigo de Lula.
No mesmo mês, o bispo se negou a abandonar a Nicarágua junto com outros exilados políticos. O nome de dom Álvarez constava na lista dos 222 presos políticos banidos da Nicarágua por Ortega, porém, o bispo não embarcou junto com os outros exilados.
Dom José Antonio Canales Motiño, bispo de Danlí, na vizinha Honduras, garantiu em sua página no Facebook que Dom Álvarez “não quer deixar a Nicarágua. Quer ser livre, sem limites, em seu país”.
Consultado pelo jornal El País, Monsenhor Canales explicou: “Conheço pessoalmente Monsenhor Rolando Álvarez; já me encontrei com ele tanto em Honduras quanto na Nicarágua, é um homem de temperamento firme e seguro; ele sabe onde está e não desiste facilmente".
Cristofobia
Em março deste ano, dois dias após o Papa Francisco classificar o regime ditatorial da Nicarágua como uma "ditadura grosseira", o ditador Daniel Ortega decidiu suspender as relações diplomáticas do país com o Vaticano.
A declaração do Papa aconteceu dias depois que um grupo de especialista da Organização das Nações Unidas (ONU) equiparou o regime da Nicarágua ao regime nazista. De acordo com os especialistas, Ortega e seus agentes “têm cometido e continuam a cometer graves e sistemáticas violações de abusos dos direitos humanos”.
Esta semana, a polícia política do regime socialista da Nicarágua invadiu a casa das irmãs da Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, em León, e prendeu quatro freiras brasileiras. As irmãs já estavam há sete anos na Nicarágua. Segundo a Fraternidade, as quatro irmãs foram deportadas para missão em El Salvador, do outro lado do Golfo da Fonseca e depois de Honduras, em segurança.
No mês passado, a ditadura comunista comandada Ortega, na Nicarágua, tomou posse de um colégio católico à força, e três freiras estrangeiras, da Congregação que administra o colégio, estão a ponto de serem expulsas do país.
Segundo os jornais locais e moradores, a polícia do regime ditatorial invadiu o Colégio Santa Luísa de Marillac na madrugada do dia 29 de maio. A insituição é a única escola secundária no município de San Sebastián de Yalí, no departamento de Jinotega.
Em 23 de maio, a ditadura sanguinária de Ortega prendeu o sacerdote Jaime Iván Montesinos Sauceda, da paróquia de San Juan Pablo II, em Villa Chagüitillo, município de Sébaco, na diocese de Matagalpa, um dos departamentos mais afetados pela repressão de Ortega à Igreja Católica. O fato ocorre em um contexto de perseguição e detenção de religiosos no país.
Uma semana antes, alguns dias após a Assembleia Nacional da Nicarágua anunciar a dissolução da Cruz Vermelha, a ditadura de Ortega ordenou o fechamento de duas universidades ligadas à Igreja Católica. O regime da Nicarágua acusou as duas instituições de “descumprimento” das leis. Segundo Ministério do Interior, o fechamento se deu por "dissolução voluntária". Ao todo, Ortega fechou 17 universidades privadas nos últimos 16 meses.
Da mesma forma, o regime ordenou o encerramento das atividades da Fundação Mariana de Combate ao Câncer no país, também vinculada à Igreja Católica, “por não prestar contas de sua diretoria há mais de quatro anos e de suas demonstrações financeiras por exercícios fiscais há mais de 11 anos”.
As tensões entre a Igreja Católica e o governo aumentaram em 2018, quando vários templos católicos deram abrigo a manifestantes feridos nos protestos históricos contra Ortega. Segundo informações do Vatican News, recentemente, duas freiras costarriquenhas da Congregação Dominicana da Anunciação foram expulsas do país.
Isabel e Cecília trabalhavam em um abrigo para idosos na Fundación Colegio Susana López Carazo e foram forçadas a deixar a Nicarágua na quarta-feira, 12 de abril.
O governo comunista já havia confiscado o mosteiro das monjas trapistas em San Pedro de Lóvago, uma região montanhosa na Nicarágua central. A administração da entidade religiosa foi entregue ao Instituto Nicaraguense de Tecnologia Agrícola. As freiras trapistas já haviam abandonado o mosteiro em 24 de fevereiro. A anulação do status jurídico das Missionárias da Caridade, fundadas por Santa Madre Teresa de Calcutá, permitiu ao governo de Ortega expulsar as religiosas em julho de 2022.
Durante a Semana Santa, o padre Donaciano Alarcón, missionário claretiano panamenho, também foi expulso por rezar pelo bispo da Diocese de Matagalpa, dom Ronaldo Álvarez. Condenado a mais de 26 anos de prisão pela ditadura de Daniel Ortega, dom Ronaldo estava em prisão domiciliar desde 19 de agosto de 2022.
Além das expulsões e confisco de propriedades religiosas, o regime comunista impôs restrições severas às celebrações da Semana Santa. Eventos públicos tradicionais de Páscoa foram proibidos resultando no cancelamento de mais de três mil procissões em todo o país. Aproximadamente 20 cidadãos nicaraguenses foram presos durante o período.
O Monitoreo Azul y Blanco, grupo independente e interdisciplinar que monitora ocorrências de violações dos direitos humanos na Nicarágua, registrou 71 ocorrências durante a Semana Santa, entre os dias 1 e 9 de abril deste ano. Os registros incluem ameaças, coação, detenções, cercos a templos religiosos e repressão migratória.
Os cristãos da Nicarágua foram proibidos de celebrar publicamente a Semana Santa, que termina em 9 de abril. Por ordem o ditador Daniel Ortega, atividades religiosas públicas estão proibidas há meses "por razões de segurança".
Nesta Páscoa, festas dos santos padroeiros, procissões e a Via Crucis na Sexta-feira Santa só puderam ser realizadas dentro das igrejas e em recintos especiais. Com uma população de 60% de católicos, Ortega proibiu mais de três mil celebrações de rua.
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