ECONOMIA

BC faz primeira intervenção no câmbio sob governo Lula após salto para R$ 5,05 no dólar

Luís Batistela · 3 de Abril de 2024 às 13:24 ·

"Se não começamos a ter responsabilidade fiscal, se o governo gastar sem planos definidos na economia, se pretender fazer intervenções políticas em matéria de economia, nós precisaremos de quem entenda do assunto e não daqueles que são amigos do ‘rei’", destacou Ives Grandra. 

 

O Banco Central (BC) anunciou nesta segunda-feira (1º) sua primeira intervenção no câmbio sob o governo Lula após um salto de R$ 5,05 no dólar. A medida envolve a realização de um leilão adicional de até 20 mil contratos de swap cambial, uma troca de moedas promovida pelo BC, totalizando US$ 1 bilhão, com o objetivo de salvaguardar o dólar de variações exacerbadas em relação ao real, garantido um controle no mercado nacional. Para o jurista e escritor Ives Gandra Martins, a medida tomada pelo BC “demonstra que há necessidade de responsabilidade dos dirigentes da política econômica do governo de controlar a política fiscal, mas fundamentalmente não pela coluna da receita, e sim pelo desgaste das despesas”.

A iniciativa busca assegurar a regularidade das operações no mercado de câmbio diante das possíveis repercussões decorrentes do vencimento do título NTN-A3 (Nota do Tesouro Nacional), agendado para o dia 15 de abril. Os contratos disponíveis vencerão em 2 de janeiro de 2025 e 1º de abril de 2025, totalizando cerca de US$ 3,7 bilhões em termos atuais. O Banco Central receberá propostas das instituições financeiras no período das 12h30 às 12h40; os resultados serão divulgados posteriormente. Outros 16 contratos de US$ 800 milhões também serão leiloados com as instrumentalizações existentes no mercado.

Nesta quarta-feira (03), por meio de sua conta no Instagram, o jurista e escritor Ives Gandra Martins ressaltou a necessidade da retomada da “responsabilidade fiscal” do governo Lula por profissionais que realmente entendam o “assunto” e não sejam apenas “amigos do rei”.  Veja seu discurso na íntegra:

“Eu tenho criticado nos últimos tempos, e não diria desde o ano passado, que essa política de gastar sem ter receitas garantidas iria trazer um descompasso para a economia brasileira. Os dados foram extremamente negativos, como eu tenho mostrado no Instagram, aumentando de 23 para 38 ministérios recentemente. Houve também um aumento na administração, tentando colocar amigos políticos na administração técnica das empresas, levando a uma queda de lucros no ano passado; um déficit de R$ 270 e poucos bilhões de reais contra um superávit de R$ 50 e poucos milhões do governo Bolsonaro.”

“Ao mesmo tempo, apesar do aumento da carga tributária em determinados segmentos, é incapaz de cobrir a gastança da maior parte do governo. Nós iremos ter, primeiro, uma saída de recursos. Tivemos em torno de R$ 21 bilhões de reais que saíram das bolsas. Nossa bolsa segue em torno 4,5%, enquanto a bolsa mundial aumentou em média de 7,7% no mesmo período desse primeiro trimestre. Os dados são preocupantes. E o preocupante foi na segunda-feira, quando o Banco Central, pela primeira vez desde o início do governo Lula, fez uma intervenção no mercado para segurar o aumento do dólar, colocando R$ 1 bilhão de dólares em operações futuras, em que o governo garante que, se houver uma desvalorização maior, os títulos lançados serão assegurados e o Banco Central cobrirá essa desvalorização do real.”

“Isso demonstra a necessidade do governo Lula em controlar despesas. O problema é que todos os analistas e economistas de responsabilidade nesse país têm procurado alertar o governo Lula que programar despesas sem ter receitas sólidas, receitas que possam garantir o equilíbrio das contas públicas, cria uma insegurança na economia. E os investidores, muitos deles estão aqui, o que é normal se é investidor e está querendo ganhar dinheiro, percebe que a economia corre risco. O Brasil ainda está em grau de especulação e não de investimento – conforme as agências de rating no mundo inteiro noticiam. O dólar chegou a US$ 5,06 e não conseguiram controlar pelos mecanismos normais; o Banco Central foi obrigado a intervir no mercado, colocando um bilhão de dólares, segundo os jornais, para não permitir que saísse do controle o dólar nesse aumento que tem tido gradativamente nesses últimos tempos.”

“Se não começamos a ter responsabilidade fiscal, se o governo gastar sem planos definidos na economia, se pretender fazer intervenções políticas em matéria de economia, nós precisaremos de quem entenda do assunto e não daqueles que são amigos do ‘rei’. Nós corremos o risco de ter um ano, que já está sendo previsto, com PIB crescendo maior do que o ano passado, de 2,9%, por uma razão muito simples: a agropecuária cresceu extraordinariamente. Isso auxiliou a esse PIB. Esse ano se calcula entre 1,7% e 1,9%. O governo disse que vai ser 2,2%, porém menor do que no ano passado. Isso porque ainda não temos um programa que possa definir um controle das contas públicas, sem o qual há insegurança na economia, e quando há insegurança, a taxa de risco é maior; quando se aplicam os juros, tem que ser elevados para que não haja um descontrole.”

“A política monetária substitui a política fiscal e vive-se num ambiente em que se patina na economia. Esse episódio ocorrido na segunda-feira, de intervenção direta do Banco Central para não haver um descompasso do dólar, demonstra que há necessidade de responsabilidade dos dirigentes da política econômica do governo de controlar a política fiscal, mas fundamentalmente não pela coluna da receita, e sim naquilo que o presidente Lula não controlou desde o início desse terceiro mandato: o desgaste das despesas. Gastar sem ter consciência, sem ter segurança daquilo que vai receber, gera essa insegurança e essa intranquilidade. A intranquilidade no mercado faz com que o país não cresça (...) e dificilmente se reduz na política de juros, sempre elevados, o que é muito ruim para a economia.”

“A única forma de combater a inflação fica sendo a cargo do Banco Central, porque a política fiscal deixa de existir. É algo que nós precisamos pensar seriamente. Temos que pensar não nos amigos que quer colocar nas empresas estatais, mas como fazer o país progredir do ponto de vista econômico.”

 


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