GEOPOLÍTICA

As principais pautas da 15ª Cúpula do Brics: inclusão de ditaduras e oposição aos EUA

João Pedro Magalhães · 21 de Agosto de 2023 às 17:11 ·

Lula possui boas relações com as ditaduras da Rússia e China e poderá favorecer o ingresso de ditaduras latino americanas no grupo em oposição às democracias lideradas pelos EUA

O presidente empossado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou nesta segunda-feira (21) na África do Sul para a 15ª Cúpula do Brics — grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O encontro entre os chefes de governo das nações será realizado do dia 22 a 24 de agosto, em Joanesburgo (África do Sul).

A primeira-dama Janja e a ex-presidente impedida e agora presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BND), o banco do Brics, Dilma Rouseff, acompanham Lula na viagem.

As principais pautas previstas para o encontro são a inclusão de mais países no bloco e o posicionamento oficial dos países-membros sobre a guerra na Ucrância. Ainda, o fortalecimento do Banco dos Brics e das relações econômicas entre as nações também serão temas de destaque.

Os fortes aliados, Rússia e China, estão pressionando os demais membros para que novas nações integrem o grupo. Entre os principais candidatos estão a Indonésia, a Argentina, o Egito, a Etiópia e a ditadura venezuelana de Nicolás Maduro.

A pauta faz parte de um plano do bloco ditatorial russo-chinês para fortalecer os Brics em oposição ao bloco G7, liderado pelos Estados Unidos da América. Diante da ambição, buscam transformar o grupo em uma aliança política e ideológica e superar o caráter meramente econômico da colaboração.

Esse contexto de atrito entre os EUA e o G7 contra Pequim e Moscou é apelidado de "Guerra Fria 2.0". Neste conflito, porém, o Brasil, sob liderança do comunista Luiz Inácio Lula da Silva, está se unindo com as maiores ditaduras do mundo para se opor aos Estados Unidos e nações democráticas ocidentais

Por sua forte relação com demais ditaduras da América Latina, o petista também poderá facilitar a aderência dos demais membros do Foro de São Paulo ao Brics.

Vladmir Putin

O presidente da Rússia, Vladmir Putin, não comparecerá ao evento, por correr risco de ser detido e enviado para julgamento no ICC (Tribunal Penal Internacional, na sigla em inglês). Segundo o governo sul-africano, o país sede do encontro teria a obrigação de prender Putin caso desembarcasse em seu território, pois é signatário do Estatuto de Roma, que estabeleceu a referida corte internacional.

Putin é procurado pelo ICC por acusações de, juntamente com aria Alekseyevna Lvova-Belova, comissária dos Direitos da Criança no Gabinete Presidencial russo, ter cometido crimes de guerra por terem deportado ilegalmente crianças ucranianas.

O ditador russo também é acuso pelo excesso cometido por seus subordinados civis e militares durante as extradições. Entre esses, estão acusações de estupro, tortura e assassinatos.

Sendo assim, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, representará o país durante o encontro.

“Por mútuo acordo, o presidente Vladimir Putin da Federação Russa não participará da Cúpula, mas a Federação Russa será representada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sr. Sergey Lavrov”, afirmou a África do Sul em comunicado assinado pelo presidente Cyril Ramaphosa

Antes de confirmar a ausência de Putin, porém, o governo sul-africano havia solicitado ao ICC que suspendesse a solicitação de prisão do ditador russo, mas teve o requerimento negado.

Investimento Chinês

A ditadura Chinesa é a nação com o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo e, naturalmente, a maior economia do Brics. Por isso, o país é o principal financiador do Banco Nacional de Desenvolvimento (BND), o banco do Brics — utilizado para o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países integrantes.

O Banco nasceu com o intuito de se opor aos organismos financeiros ocidentais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), e a China utiliza dele para promover investimentos nas nações em desenovilmento e aumentar sua ocupação nas demais nações. Vale destacar que Dilma Rousseff, aliada de Lula, ocupa a presidência do BND.

Como forma de atrair mais aliados, a China, por meio do BND, promete menores burocracias na concessão de empréstimentos aos países mais pobres. A estratégia, contudo, vem acompanhado de um alinhamento ideológico entre as naçoes, como forma de expandir o domínio chinês no ocidente em oposição a forte influência americana nos países da região.

Moeda Única

Uma questão frequentemente levantada a respeito do Brics é a ambição dos países-membros de criarem uma moeda única do bloco, para se opor ao dólar. Lula, inclusive, é um grande defensor da pauta em forma de se opor ao comércio mundial lastreado no dólar.

"Toda noite me pergunto por que é que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que é que nós não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que é que nós não temos o compromisso de inovar?", afirmou o petista em discurso durante sua visita em Xangai neste ano.

Apesar da relevância da pauta, a África do Sul, atual presidente do grupo, já confirmou que o tema não será discutido no encontro deste ano.

 


"Por apenas R$ 12/mês você acessa o conteúdo exclusivo do Brasil Sem Medo e financia o jornalismo sério, independente e alinhado com os seus valores. Torne-se membro assinante agora mesmo!"



ARTIGOS RELACIONADOS