Moro e a democracia sem povo
Figuras como o ex-ministro da Justiça estão na linha de frente de uma batalha ferrenha contra o conservadorismo — tão ferrenha, aliás, que passaram a considerar a própria democracia como uma baixa aceitável nessa guerra
A saída de Moro do governo me motivou a escrever uma série de artigos examinando um problema que há muito me inquietava: a existência de elementos ideológicos profundamente divergentes dentro da nova direita brasileira.
No entanto, que a velocidade com que esses elementos entraram em colisão surpreendeu a mim mesmo. Já não é possível negar que figuras como Moro estão na linha de frente de uma batalha ferrenha contra o conservadorismo — tão ferrenha, aliás, que passaram a considerar a própria democracia como uma baixa aceitável nessa guerra.
Embora seja chocante ver Moro reduzido a uma coadjuvante em uma série de jogadas antidemocráticas, isso é uma consequência direta das características do próprio lavajatismo — uma ideologia formada a partir de uma visão de mundo extremamente limitada e com forte potencial autoritário.
Eu sei que a afirmação anterior parecerá exagerada para alguns. Porém, acredito que quem acompanhar os argumentos seguintes chegará à mesma conclusão.
As virtudes e os vícios do lavajatismo
Como defini em um artigo anterior, o lavajatismo é a confusão entre o processo legítimo de investigar políticos corruptos e a crença utópica na possibilidade de substituir a política pela técnica. Obviamente, não há nada de errado em colocar corruptos na cadeia — o problema está na segunda parte dessa equação. O lavajatismo é apenas a encarnação mais recente da tecnocracia, a tendência autoritária em sufocar a democracia sob o argumento de que os especialistas sabem o que é melhor para o povo...