CAFFÉ COM TEXTO

Seja bem-vindo aos Gulags virtuais

Alessandra Barbieri · 23 de Janeiro de 2021 às 09:14 ·

A população mundial hoje é controlada pelas grandes empresas que têm o poder de criar campos de concentração para não-pessoas

Aproveitando o período de recesso, resolvi reler algumas obras que já tinha lido há muitos anos. Reler os livros é um exercício muito interessante porque te dá a sensação de que o livro é vivo e que, a cada leitura, ele te oferece uma mensagem diferente.

Comecei pelas obras de George Orwell. Quando li “1984” e a “Revolução dos Bichos” pela primeira vez, lembro-me de que a leitura foi até difícil porque eram obras de um gênero do qual eu não sou muito adepta: a ficção. Bom, pelo menos, assim me foram apresentados. Desta feita, porém, a leitura me chocou profundamente por ser o mais fiel retrato da nossa realidade.

Na sequência, reli o “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, outro romance distópico que eu achava “meio chato”. Na releitura de hoje, percebi que nenhum Nostradamus teria sido mais visionário do que os autores de ficção do século passado.

Acho, até mesmo, que eles inauguraram um gênero literário que ainda não foi identificado pelos acadêmicos. Se, na prática, não se pode dizer que são obras de ficção, também não vamos encontrá-los na prateleira de não-ficção das livrarias.

A última releitura que fiz foi do “Arquipélago Gulag”, de Aleksandr Soljenitsyn.

Não é o propósito deste texto fazer uma resenha dos livros, mas, apenas contextualizar as reflexões que pude fazer durante esse período.

Enquanto eu me dedicava a essas releituras, os fatos das últimas semanas iam se sucedendo como verdadeiras ilustrações das linhas que eu relia. Em certos momentos, foi tão bizarro que eu já não sabia mais se era a História se repetindo ou a ficção se transformando em realidade. Ou eram as duas coisas juntas, acontecendo ao mesmo tempo? Sei lá.

Para quem não sabe, o nome Gulag é um acrônimo em russo que significa “Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional”. “Campos de Trabalho” é, obviamente, um eufemismo para campos de concentração. Já a palavra “correcional” é autoexplicativa...

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