ROGER SCRUTON E A ESPERANÇA DA ETERNIDADE
Tanto a visão de Beleza quanto a de conservadorismo partem, em Scruton, da perspectiva da transcendência — isto é, o Belo só se nos mostra através da imortalização, no tempo, de um valor eterno que não se encontra no tempo, mas que o transcende.
Justamente por o homem ser o homem todo, corpo mortal e alma imortal — voltada para o Alto — é que também a atividade política “não pode ser independente da crença em Deus. É o fato de possuírem essa crença o que permite às pessoas desviarem seus mais poderosos descontentamentos da perniciosa esperança de mudar as coisas para uma esperança mais pacífica de serem um dia redimidas da necessidade de fazê-lo” [1]. Quer dizer, é a fé em Deus que preserva o homem da tentação de retornar ao Éden proibido, de atravessar à força o umbral protegido pelos querubins de espada flamejante (Gn 3,24): o homem caído, porém crente, reconhece sua imperfeição perante Deus, reconhece sua dívida impagável, não tem pretensão de burlá-la ou renegá-la; mas sabe-se, ao mesmo tempo, “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,26), portanto, vocacionado a Ele.
O mundo tem um significado para nós, diz o filósofo, quando aprendemos a apreciar coisas que têm valor por si, intrinsecamente, não pelo seu uso — isto é, não por aquilo que podemos fazer delas para nós, mas por aquilo que elas podem fazer por nós: nos abrir ao Ser, nos abrir ao Eterno, nos elevar a Deus.