GUERRA DA INFORMAÇÃO

Por que ainda não temos um conservadorismo político

Cristian Derosa · 19 de Julho de 2020 às 14:12 ·

Se a esquerda perdeu o contato com a sociedade, os conservadores perdem diariamente o contato consigo mesmos graças à fragilidade do seu ainda recente repertório imaginativo. Como resolver este problema?

Hoje todos podem observar facilmente o quanto a eleição de Jair Bolsonaro foi, nas palavras de Olavo de Carvalho, uma ejaculação precoce. Não há mais como negar essa realidade. Estamos diante de um governo que é atacado de todos os lados, inclusive de dentro, cuja única defesa é feita por uma militância perseguida e calada de todas as formas. Mas qual o erro substancial cometido pela direita e como repará-lo? Esta é uma pergunta que demanda uma difícil, mas necessária reflexão.

Um dos traços mais característicos do movimento político é a coesão ideológica e hierarquia de comando. Iniciemos por eles. Afinal, sem isso estaríamos diante de uma multidão dispersa, refém das paixões momentâneas e incapaz de identificar seus próprios membros, ações e reações. Ora, mas não é este o ponto em que estamos? Então, cabe-nos refletir ainda mais profundamente o que significam essas peças faltantes para que os conservadores no Brasil possam compor um verdadeiro movimento político digno deste nome.

As condições para a existência de coesão ideológica e hierarquia de comando estão no aspecto da comunicação: uma comunicação efetiva entre os atores envolvidos e membros de um pretenso movimento servem para que uma orientação, diagnóstico ou hipótese chegue intacto, sem alterações semânticas ou distorções de situação, ao destino desejado, incumbido de cumpri-lo ou dar sequência às ações. Ocorre que está aí mesmo o problema.

Não é à toa que Olavo de Carvalho define um movimento político como o resultado de etapas fixas e objetivas para a construção de um repertório comum de palavras, significados e símbolos, culminando em sentimentos compartilhados por um número suficiente de intelectuais influenciadores. A formação desta classe de intelectuais, porém, é difícil, lenta e trabalhosa, demandando tempo (Olavo fala em cerca de 30 anos para todo o processo). Basta isso para compreender o tamanho da besteira dita por quem considera o conservadorismo, no Brasil, como uma ideologia. Isso não quer dizer que não existam termos, ideias e expressões que evoquem sentimentos. O problema é que em geral eles vão na contramão de uma construção ideológica unívoca e coletivamente compreensível para a formação de um movimento político...

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