Pai, estes são meus amigos

Os sete leitores que encontrei no lançamento de Nossa Senhora dos Ateus em São Paulo
Oi, pai. Tudo bem?
É impossível vir para São Paulo e não me lembrar de você. Nem todos os meus sete leitores sabem que eu sou paulistano e vivi praticamente a infância toda na cidade. No dia em que nasci, você foi sorteado no consórcio e me buscou na maternidade com um Fusca 1970 zerinho. Morávamos ― eu, você e mãe; a Fernanda ainda não tinha nascido ― em um minúsculo apartamento na Alameda Barão de Limeira. O apartamento ficava no primeiro andar, em cima de uma lavanderia. Durante o dia, era impossível ficar em casa, pelo barulho enlouquecedor das máquinas de lavar; eu ia para a casa da Vó Maria e do Vô Briguet, na Brigadeiro Galvão. À noite era mais sossegado, a lavanderia não funcionava e você podia ler o seu Tolstói ou Henry Miller na sala, enquanto a mãe preparava aulas na mesa da cozinha.
Desde pequeno você me levava à livraria e ao cinema. Uma das nossas livrarias favoritas era a Cultura, no Conjunto Nacional da Paulista (lembra que o CN pegou fogo nos anos 70?). No começo era só uma portinha, depois foi crescendo. Há alguns anos a livraria incorporou o antigo Cine Astor (onde assistimos vários filmes) e se tornou o que chamam de mega store. Pois é, pai. Ontem eu lancei um livro na Cultura. Você já está sabendo, né? Nossa Senhora dos Ateus.
Engraçado: a Livraria Cultura é de 1969; eu, de 1970. Ali eu encontrei muitos e muitos autores que fazem parte da minha vida: meu António Machado, meu Herberto Helder, meu Voegelin, meu Turguêniev, meu Steinhardt, meu Bruno Tolentino... Poderia preencher páginas e páginas só dos livros e escritores que descobri naquela loja, desde os tempos em que era um adolescente bobalhão trotskista. Mas nem nos meus melhores sonhos imaginei que um dia iria encontrar meu livro em destaque na prateleira da Cultura. E muito menos que iria lançar um livro naquele lugar.
Queria te apresentar alguns amigos, pai.
Esta é a Tereza Mainardi, a mãe dos conservadores de São Paulo e do Brasil. Não só me deu a honra de estar em meu lançamento, como me presenteou com dois livros de poesia do seu amado e saudoso Enio.
Este aqui é o Paulo Kogos, meu mais novo amigo de infância. Um dos caras mais inteligentes e cultos que conheço; assista aos vídeos dele, pai, tenho certeza de que você vai adorar.
Este aqui é o Alexandre Costa, meu amigo e companheiro de ofício, autor de livros fundamentais para entendermos aquilo que o mundo está vivendo hoje. A especialidade do Alexandre é tirar as escamas dos olhos da gente.
Esta é aqui a Bruna Torlay. Professora de literatura e filosofia, editora da Revista Esmeril, comentarista da Jovem Pan... Mas talvez a melhor maneira de defini-la seja esta: Bruna, aquela que lava a nossa alma. Em todos os sentidos da expressão.
Este é o Victor Metta. Sabe quando eu falo da inteligência e da sabedoria dos judeus? É do Victor que estou falando.
Este aqui é o Marcos Bellizia, empresário e dileto amigo, autor do inédito Diário do Fim do Mundo, em que ele fala sobre as perseguições que sofreu – e continua sofrendo – por defender um país livre e justo.
Esta aqui é a minha querida amiga Ludmila Lins Grilo, juíza e professora. Se eu te conheço, pai, você vai querer chamá-la de doutora. Mas não precisa. Ela é muito mais que doutora: é um dos nomes da nossa esperança.
E, por falar em esperança, esta aqui é a Thamea Danelon, outra guerreira da justiça e da verdade. Ao lado dela, está o Alan Ghani, o cara que leu todos os livros de economia que eu não li. Sonho com o dia em que o Ministério da Fazenda (eu gosto de usar o nome antigo) seja ocupado por ele. E sim: eles estão namorando. Bonito casal, não?
Este aqui é o cartunista Giorgio Cappelli, autor das True Oustrips e de uma impagável caricatura minha (impagável porque não posso pagar e porque é indescritivelmente engraçada).
Este é o Cláudio Henrique Junqueira Vitório. Lembra dele, o Bigode? Então, pai. Em nome de uma amizade de 40 anos ― isso mesmo: tínhamos 12 quando nos conhecemos ― me deu a alegria de estar aqui com a família.
Este é o Renor Oliver, advogado do Allan dos Santos. Infelizmente, o Allan não pôde estar aqui, mas veio o Renor. Juntos, eles fazem mais pela liberdade de expressão que todos os políticos e burocratas de Brasília.
Este aqui é o Flávio Morgenstern. Eu não iria dizer que ele é um gênio, para ele não ficar se achando. Mas ele é, fazer o quê?
Este aqui é o Marcelo Centenaro, que voltou à Igreja, em parte, graças às minhas crônicas. Existe alegria maior para o escritor que ouvir isso?
Este aqui é o Cláudio Dirani, um jornalista de grande talento. Ele já entrevistou o Paul McCartney e até escreveu um livro sobre ele. Tenho certeza de que você adoraria conversar com o Cláudio. Ah, ele também faz ótimas imitações; minha preferida é a do Pelé.
Este é o Padre Vinicius, da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, que veio do Grajaú para abençoar o lançamento de um ex-ateu.
Ah, pai. É tanta gente que eu queria te apresentar... E de certa forma todos eles te conheceram. Sabe por quê? Na saída da livraria, levei um grande susto, e por um instante pensei que você tinha vindo. Mas era apenas o meu reflexo no espelho.
― Paulo Briguet é escritor, editor-chefe do BSM e filho de Paulo Lourenço.
― O livro "Nossa Senhora dos Ateus" pode ser adquirido na Livraria do BSM.
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