Os espiões também têm coração
A reação dos agentes comunistas chineses diante da publicação dos dados do General Heleno no Twitter
Soam as trombetas na entrada da Sala Imperial do Pretenso Ditador Universal, o Ilustríssimo Sr. Xi Jinping:
— Alteza, uma comitiva de espiões — diz o mensageiro.
Do seu trono de ouro, trono suntuoso adornado com os rostos de Marx, Engels, Lênin, Stálin e Mao, com a flâmula auri-rubra do Partido Comunista às suas costas, o tirano, fazendo um gesto mínimo com a sobrancelha, permite a entrada dos seus súditos.
— Majestade — fala ao mesmo tempo a dupla de espiões, se curvando profundamente em gesto de veneração.
— Falem.
— Majestade — se adiantou o primeiro espião —, o assunto é uma coisa meio embaraçosa...
— É assim, majestade — tentou emendar o segundo —, é que se trata de uma coisa que a gente não costuma tratar, e eu nem sei se no Cânon de Ética Maoísta essa coisa está prevista, mas é que...
— Falem logo, senhores! — disse Xi, engrossando a voz, mas sem alterar em nada suas feições habituais até que simpáticas. Nem precisava fazer careta. O tom da exigência já continha avisos suficientes. Os espiões se entreolharam, nitidamente nervosos.
— Majestade, viemos falar de compaixão — arrematou, de uma vez, o primeiro espião.
O tirano levantou-se, estupefato:
— Compaixão? Como assim, compaixão?
— Compaixão, mestre. Caridade, sabe?
— Vocês não estão vindo aqui clamar perdão a algum membro traidor do Partido? Vocês sabem que a pena é...
— Não, senhor! Por Mao! — corrigiu apressadamente o segundo espião, dobrando-se religiosamente à imagem do criador do Partido.
— Então, seus patifes, digam logo a que vieram — ralhou o tirano, caminhando ameaçadoramente para junto à dupla.