CRÔNICA

Os espiões também têm coração

Fábio Gonçalves · 1 de Abril de 2020 às 19:12 ·

A reação dos agentes comunistas chineses diante da publicação dos dados do General Heleno no Twitter

Soam as trombetas na entrada da Sala Imperial do Pretenso Ditador Universal, o Ilustríssimo Sr. Xi Jinping:

— Alteza, uma comitiva de espiões — diz o mensageiro.

Do seu trono de ouro, trono suntuoso adornado com os rostos de Marx, Engels, Lênin, Stálin e Mao, com a flâmula auri-rubra do Partido Comunista às suas costas, o tirano, fazendo um gesto mínimo com a sobrancelha, permite a entrada dos seus súditos.

— Majestade — fala ao mesmo tempo a dupla de espiões, se curvando profundamente em gesto de veneração.

— Falem.

— Majestade — se adiantou o primeiro espião —, o assunto é uma coisa meio embaraçosa...

— É assim, majestade — tentou emendar o segundo —, é que se trata de uma coisa que a gente não costuma tratar, e eu nem sei se no Cânon de Ética Maoísta essa coisa está prevista, mas é que...

— Falem logo, senhores! — disse Xi, engrossando a voz, mas sem alterar em nada suas feições habituais até que simpáticas. Nem precisava fazer careta. O tom da exigência já continha avisos suficientes. Os espiões se entreolharam, nitidamente nervosos.

— Majestade, viemos falar de compaixão — arrematou, de uma vez, o primeiro espião.

O tirano levantou-se, estupefato:

— Compaixão? Como assim, compaixão?

— Compaixão, mestre. Caridade, sabe?

— Vocês não estão vindo aqui clamar perdão a algum membro traidor do Partido? Vocês sabem que a pena é...

— Não, senhor! Por Mao! — corrigiu apressadamente o segundo espião, dobrando-se religiosamente à imagem do criador do Partido.

— Então, seus patifes, digam logo a que vieram — ralhou o tirano, caminhando ameaçadoramente para junto à dupla.

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