Os entregadores de aplicativo e os conservadores
Sem as amarras ideológicas da esquerda, é preciso compreender o problema real vivido pelo setor
Nos últimos dias vemos a escalada de projetos de lei, decisões judiciais e iniciativas autônomas que tentam encaixar a atividade exercida pelos aplicativos de entrega nos moldes da Consolidação de Leis do Trabalho, a CLT. A precarização sofrida diariamente por esses trabalhadores agora eclode em manifestações que colocam em xeque as supostas facilidades oferecidas por um serviço livre de amarras trabalhistas.
Na última sexta (25), motoristas de aplicativos realizaram uma paralisação nacional (Breque dos Apps) reivindicando melhores condições de trabalho. Segundo o que foi noticiado pela imprensa, parte dos que estiveram presentes já consideram fundar cooperativas para regular a atividade.
Mas o que leva um grupo de trabalhadores autônomos, considerados até como profissionais liberais, a sair do conforto do mercado e pedir os braços opressores do Estado? Primeiro, se faz necessário entender que o individualismo anglo-saxão nunca será incorporado plenamente ao patrimonialismo latino. A nossa tendência de organização social é a coletividade regida por um conjunto de normas. Bem ou mal, fomos formados dessa maneira.
É preciso, caro leitor, se apegar ao problema real vivido por esse setor longe das amarras ideológicas da esquerda — que culpam mais o capitalismo do que a imperfectibilidade humana. É possível ser conservador e entender que empresas, assim como os seres humanos, possuem má índole e defeitos de caráter.
Ser empregado do Uber/Ifood (ou demais aplicativos de entrega) não é “empreender no tempo vago para fazer um extra”. Logo quando chegaram ao Brasil, o discurso de “vou empreender na Uber” tomou conta dos desempregados que mantinham seus carros em casa. Porém, passado todo esse tempo, podemos dizer que essa atividade é apenas para complementar a renda?
