SEGURANÇA PÚBLICA

Os cães de Seligman e os especialistas da derrota

Diego Pessi · 18 de Janeiro de 2020 às 15:58 ·
No último ano, os números da redução da criminalidade falam por si. Mas muita gente ainda insiste em menosprezar o trabalho das forças de segurança

Como explica Debra Niehoff, conceber um mundo completamente desprovido de agressão é algo biologicamente desarrazoado. A agressividade é um parâmetro de atividade presente desde muito cedo no repertório da conduta humana e cumpre a importante função adaptativa de facilitar o ajuste social do indivíduo, afirmando e dirigindo sua capacidade de superar os obstáculos da vida. Dito de outro modo: caso não fosse dotado desse meio de proteção, o homem seria tão indefeso quanto um vegetal. Contudo, adverte a neurocientista, se a agressão “é o seguro de vida da natureza”, o autocontrole constitui um objetivo realista a ser perseguido e a violência injustificada — favorecida por ambientes caóticos e abusivos — representa o colapso dos limites entre a agressão aceitável e a inaceitável.

Ora, se a experiência humana está indissociavelmente ligada à violência, isso não significa que nada possa ser feito para preveni-la ou, pelo menos, reduzi-la. Vale dizer: muito embora todos tenhamos potencial para a prática de atos violentos, somos também capazes de refrear tal ímpeto, na medida em que o autocontrole socialmente inculcado e a modelação dos impulsos de agressividade e crueldade são características do homem civilizado, como já observara o grande Norbert Elias. Nessa senda, Stafford & Gibbs explicam que as disputas violentas são mais prováveis em unidades sociais (tribos, cidades, regiões metropolitanas e países, por exemplo) com menores níveis de controle, concluindo que um controle eficaz reduz a possibilidade de disputas e aumenta a probabilidade de que as disputas surgidas sejam resolvidas de modo não violento. Isso explica, em grande medida, a tremenda variação dos índices de criminalidade entre estados e regiões num mesmo país e entre nações em todo o mundo.

Afinal, em termos práticos, de que forma se dá esse controle, especialmente no que se refere àqueles atos tipificados como criminalidade violenta?

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