CRÔNICA
O preço da verdade é a solidão
Não adianta fingir que não é com você: todo mundo tem que escolher entre a mentira e a verdade
Cada um de nós precisa fazer uma escolha dificílima na vida — a escolha entre a mentira e a verdade. Escolher a mentira traz uma série de vantagens, pois o príncipe deste mundo (o cara que dita as regras por aqui) é ninguém menos do que o pai da mentira. O problema com essa opção está na sua consequência última; pois o salário da mentira é a morte, não a simples morte física, mas a morte da alma.
Resta a verdade. Porém, não é uma opção fácil. O grande problema em escolher a verdade é que ela não traz quase nenhuma vantagem imediata; os que a escolhem são chamados de loucos, traidores, intolerantes e outros nomes menos publicáveis. A verdade é dolorosa, implacável e exigente; não ameniza a vida de ninguém; escolhê-la é sofrê-la. O salário da verdade é a solidão. Seu símbolo máximo e universal é Jesus Cristo abandonado por todos e pregado numa cruz.
E não adianta disfarçar, olhar para o outro lado, fingir que não é com você. Todos nós precisamos escolher entre uma e outra, entre a morte e a solidão. Ficar com um pé em cada canoa não vai ajudar em nada.
Por volta dos 30 anos, descobri que a maior parte da minha vida era uma mentira. As ilusões ideológicas não apenas obscureciam a compreensão da realidade ao meu redor, como me impediam de ver as verdades que, apesar de tudo, eu carregava dentro de mim.
O mundo quer desviar a sua atenção da verdade; e quando digo “mundo”, não me refiro à realidade concreta, mas à opinião da maioria. O que é que os outros vão dizer se eu começar a falar realmente o que penso? Vou perder amigos, ninguém vai me convidar para as festas, não vou mais ganhar curtidas e views no Instagram, não serei mais chamado para nome de turma na universidade, talvez até perca meu emprego! Se o especialista da televisão diz que é assim, então deve ser assim! Se o cara que tem diploma diz que é verdade, então não pode ser mentira!
O caminho da verdade passa pelo sentimento de solidão. Quando você descobre um aspecto da realidade utilizando a sua inteligência e a sua memória, segue-se uma quase insuportável sensação de isolamento. É como se, naquele momento, você fosse uma ilha separada do restante da humanidade. Mas, apesar da angústia de estar só, há no fundo um sentimento libertador: o sentimento de que você parou de mentir para si mesmo. Contemplamos as grandes verdades da vida quando estamos absolutamente sós — tendo apenas Deus por testemunha.
Além da solidão, a verdade tem outra característica importante: ela é antiga. Só pode ser chamada de “nova” na medida em que surpreende e escandaliza a arrogância dos homens (“Eis que faço novas todas as coisas”). Tudo que é verdadeiro já foi testado ao longo do tempo por inúmeras gerações e sociedades. Alguns dizem que a verdade é conservadora; e estão certos. Deve ser por isso que o mundo insiste tanto em impor as novidades, as opiniões modernas, as revoluções comportamentais, as modas ideológicas e os “avanços” que, no fundo, são apenas uma forma de destruir aquilo que é mais valioso dentro de nós: o sentido da vida.
— Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM.
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