O enterro fake e a morte da verdade no jornalismo
O sensacionalismo já foi um problema ético que evocava grandes discussões, mas hoje é a solução adotada por ampla maioria dos jornais que desejam ver a obediência da sociedade aos estímulos midiáticos
Em 2020, o sensacionalismo dos jornais alcançou níveis jamais imaginados antes. Fotos com caixões estamparam capas de jornais, abriram reportagens televisivas e foram expostas em outdoors por todo o país. Manchetes contavam mortos um a um, dia após dia, além do número acumulado de infectados pelo coronavírus, índices que representavam uma cifra irreversível e apocalíptica.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um “enterro fake”. O coveiro, vestido com escafandro branco para proteção, joga areia com a pá dentro de uma cova vazia enquanto é filmado por um cinegrafista de TV. O flagrante foi feito de uma janela por um cidadão que filmou com o celular, fazendo o vídeo viralizar como um exemplo de manipulação jornalística na pandemia, quando a prática de estampar fotos de enterros, cemitérios, sepulturas, se tornou epidêmica no jornalismo. Rapidamente, a agência Aos Fatos, conhecida por falsas checagens e manipulações em defesa da narrativa de agendas internacionais, publicou uma “contextualização”, explicando que “os jornalistas da emissora faziam uma reportagem sobre o dia-a-dia dos coveiros do Cemitério Municipal da Barra do Jucu e, no momento em que foram filmados, gravavam imagens de apoio, um procedimento comum no jornalismo televisivo”. Ah, bom...