DIÁRIO DE UM CRONISTA

O batismo da pequena heroína

Paulo Briguet · 14 de Novembro de 2023 às 15:12 ·

Apesar de não ser religioso, pai de Indi Gregory batizou a filha e recebeu o batismo após ter tido uma visão do inferno no tribunal inglês

Em 1917, quando Nossa Senhora apareceu às crianças em Fátima, ela lhes mostrou uma imagem do Inferno. A visão das almas consumidas pelas chamas impressionou fortemente os pastorinhos portugueses, tanto que a Virgem os ensinou a rezar, após cada dezena do terço:

“Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu e socorrei principalmente as que mais precisarem”.

Dean Gregory, pai da pequena Indi, a bebê de oito meses condenada à morte por médicos e juízes ingleses, também teve uma visão do Inferno quando compareceu ao tribunal que sentenciou sua filhinha.

Diante dos magistrados britânicos, devidamente ornados com suas perucas mui tradicionais, Dean lutou pela vida de Indi como se estivesse sendo arrastado para os abismos infernais.

Durante a gravidez de sua esposa Claire, Dean já havia tido um vislumbre da presença do mal, quando o casal foi pressionado pelos médicos a fazer um aborto, depois que se constataram alguns problemas no desenvolvimento da gestação.

Mas o Inferno só apareceu por completo no tribunal, quando juízes utilizavam uma linguagem melíflua e empática para justificar a morte do bebê, acometido por uma rara doença mitocondrial. As chamas do abismo também se fizeram sentir nos depoimentos de funcionários do hospital, que exageraram sem pudor os sofrimentos da pequena heroína para tentar normalizar o desligamento das máquinas e a pena capital da vítima inocente. Segundos os julgadores do caso, era do “melhor interesse” da criança morrer.

Em contrapartida, os pais de Indy se afeiçoaram a um voluntário cristão que visitava a pequena paciente todos os dias no hospital. Esse voluntário lhes explicou a importância do batismo e de conceder àquele frágil ser a graça santificante de Deus.

Quando Dean viu as ações do tribunal da morte, pensou com terror que estava diante da própria imagem do diabo. “Se o inferno existe, então o Céu também deve existir”, disse ele.

Talvez esteja aí uma explicação relativamente simples para Deus permitir a existência do mal no mundo. O mal, que em si não possui substância, sendo apenas uma ausência do ser, pode trazer à tona, por contraste, a essência do bem. Ao testemunhar a crueldade do sistema de saúde e dos tribunais ingleses, Dean certificou-se de que havia um Deus de bondade, verdade e beleza por trás de tanta malícia, mentira e vaidade.

Mesmo não sendo religioso, Dean pediu que a filha recebesse o sacramento do batismo e foi, ele também, batizado. O batismo de Indi ocorreu no dia 22 de setembro. O veredicto do tribunal foi decretado em 10 de novembro; ela morreu em 13 de novembro, nos braços da mãe.

No Brasil, Maria Guilhermina, filha do ator Juliano Cazarré e de sua esposa Letícia, também depende de um respirador para viver, como Indi. Ela nasceu com uma doença rara e sofreu danos neurológicos. Ainda não consegue ingerir alimentos nem deglutir, mas ninguém concebe a ideia de desligar os aparelhos que a mantêm viva.

Cada criança é uma forma de perdão que Deus concede à humanidade – uma razão para adiar a destruição do mundo. Apenas por existir, o bebê já possui um valor intrínseco desde o momento da concepção. Interromper essa expressão da misericórdia criadora sob alegação de uma suposta ausência de “autonomia” ou “valor comunitário” é abrir caminho para os piores crimes de ódio e terror dos regimes totalitários. A morte de Indi é um sinal de maldição de nosso tempo, assim como a morte dos bebês judeus degolados pelo Hamas. E não há surpresa nenhuma no fato de que são os justificadores de um crime e outro são os mesmos.

Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM. Autor de O Mínimo sobre Distopias.

 


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