Lula defende moeda comum no Brics; veja as principais declarações do petista no evento
O petista chegou na cidade sul-africana por volta das 5h (horário de Brasília) de segunda-feira (21). É a 12ª viagem internacional de Lula desde a posse, em janeiro de 2023
O presidente empossado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta terça-feira (22) a adoção de uma moeda comum entre os países do Brics. A declaração foi feita em Joanesburgo, na África do Sul, durante discurso na no Fórum Empresarial da 15ª Cúpula do Brics (bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
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O petista falou sobre uma série de assuntos, desde a moeda única a críticas ao dólar, reaproximação do Brasil com países africanos e até sobre meio ambiente. Leia abaixo os principais pontos da participação de Lula neste primeiro dia de evento.
Nova moeda comum
“Para que o investimento volte a crescer e gerar desenvolvimento, precisamos garantir mais credibilidade, previsibilidade e estabilidade jurídica para o setor privado. Por essa razão, tenho defendido a ideia de adoção de uma unidade de conta de referência para o comércio, que não substituirá nossas moedas nacionais”, disse.
Lula já defendeu a existência de uma moeda única na América Latina outras vezes. Na visão do petista, o dinamismo da economia global está no Sul Global, e os Brics são sua força motriz.
“Segundo o FMI, enquanto os países industrializados devem desacelerar seu crescimento de 2,7%, em 2022, para 1,4% em 2024, o crescimento previsto para os países em desenvolvimento é de 4% neste ano e no próximo. Isso mostra que o dinamismo da economia está no Sul Global e o Brics é sua força motriz”, afirmou.
A participação de Lula se une à presença do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa; do presidente chinês, Xi Jinping; e do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
No entanto, o presidente russo, Vladimir Putin, se junta à cúpula de forma virtual. Tal decisão é um reflexo da situação complexa que envolve o líder russo, depois que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu, no mês de março, um mandado de prisão contra Putin.
Reaproximação com a África
Ele defendeu a reaproximação com países africanos, dos quais, nas palavras do petista, o Brasil "nunca deveria ter se afastado". Ao falar da relação do Brasil com o continente africano, Lula afirmou que o fluxo comercial do Brasil com a África corresponde a apenas 3,5% do comércio exterior brasileiro.
"É inaceitável que, em 2022, o comércio do Brasil com a África tenha diminuído em um terço com relação a 2013, quando era de quase 30 bilhões de dólares [...]. O Brasil está de volta ao continente de que nunca deveria ter se afastado. A África reúne vastas oportunidades e um enorme potencial de crescimento", disse Lula.
Vale lembrar que o petista, neste ano, já afirmou que tem "profunda gratidão" ao continente africano "por tudo que foi produzido durante os 350 anos de escravidão" no Brasil. Ele deu a declaração ao lado do presidente de Cabo Verde, José Maria Neves. O chefe do Executivo brasileiro parou no país africano no retorno de Bruxelas, onde participou da cúpula UE-Celac. A fala entra para sua coleção de, segundo a oposição, gafes, já que o petista até chegou a agradecer a existência do Coronavírus.
“Quero recuperar a relação com o continente africano. Nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, nossa cor, tamanho, é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus. E nós temos profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”, disse o presidente empossado.
“Neocolonialismo verde”
O petista mais uma vez advogou pela remuneração aos países que conservam suas florestas – medida que ele acredita ser “essencial” para o meio ambiente. Adicionalmente, ele fez críticas ao que chamou de "neocolonialismo verde", sem especificar alvos.
"Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias, sob o pretexto de proteger o meio ambiente", destacou Lula em seu pronunciamento.
A temática ambiental também possui implicações nos acordos comerciais, como o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que permanece estagnado em parte devido às discordâncias em torno das políticas ambientais.
Novo PAC
No ambiente do Fórum Empresarial dos Brics, Lula falou sobre o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), englobando uma gama diversificada de projetos de infraestrutura, como rodovias, ferrovias, moradias, linhas de transmissão e terminais. Um montante colossal de R$ 1,4 trilhão, entre investimentos públicos e privados, é projetado para ser alocado até 2026.
"Apresentei há duas semanas o novo PAC. O plano prevê a retomada de empreendimentos paralisados, aceleração dos que estão em andamento e seleção de novos projetos. Trata-se de um programa amplo, com muitas oportunidades que podem interessar aos investidores dos países do Brics", disse Lula.
O presidente ressaltou sua expectativa de mobilizar cerca de US$ 340 bilhões para o programa, assentando sua base em parcerias com empresários. Além disso, ele destacou um foco prioritário nas energias limpas.
"Também daremos prioridade à geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel. É enorme o nosso potencial de produção de hidrogênio verde", disse.
Brics
Na edição deste ano da cúpula, o destaque central recai sobre os planos de expansão do bloco. Com um empenho notável, China e Rússia estão unindo esforços para atrair novas nações para os Brics.
Os olhares se voltam para a China, que almeja aproveitar essa ampliação como uma plataforma estratégica em sua disputa contra os Estados Unidos. Já a Rússia, busca firmar laços com mais nações aliadas em sua esfera de influência. Especialmente em face das sanções ocidentais pelo conflito na Ucrânia, os russos enxergam na expansão dos Brics uma maneira de fortalecer sua posição geopolítica e diversificar suas conexões internacionais.
A ex-presidente Dilma Rousseff, que atualmente chefia o Novo Banco de Desenvolvimento, o chamado banco do Brics, também participou do fórum.
O encontro desta cúpula, portanto, vai além da discussão de pautas econômicas e de cooperação. Ele reflete os esforços concertados da China e da Rússia para moldar alianças estratégicas que possam redefinir o equilíbrio de poder e a dinâmica geopolítica no cenário mundial.
Assista à declaração na íntegra:
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