Liberdade para Filipe G. Martins!
Ex-assessor presidencial está há 50 dias na prisão por uma viagem que ele não fez — e que nem sequer seria crime
Alguém certamente havia caluniado Filipe G. Martins pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum.
A primeira frase do romance O Processo, de Franz Kafka, aplica-se perfeitamente ao caso do ex-assessor da Presidência da República preso há 50 dias em Curitiba. Em sua obra, o escritor tcheco morto há 100 anos conseguiu prever com exatidão o funcionamento das máquinas totalitárias que vitimariam milhões de pessoas em nosso tempo. Filipe está na cadeia — em uma das mais tenebrosas prisões do país — por ter sido alvo de uma manchete mentirosa, segundo a qual ele teria “evaporado” do país com destino aos Estados Unidos em 31 de dezembro de 2022, juntamente com o ex-presidente Jair Bolsonaro, para “escapar das investigações” sobre os acontecimentos de 8 de janeiro.
Acontece que Filipe G. Martins não viajou para os EUA. Ele e sua noiva tomaram um avião de Brasília para Curitiba e de lá foram para Ponta Grossa, cidade paranaense onde passaram a morar. É bem verdade que não seria crime Filipe ter viajado para o exterior — ele era um cidadão livre —, mas o fato é que a viagem inexistente foi o principal motivo da ordem de prisão contra o ex-assessor, emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Nesta quinta-feira (28), foi divulgado pela Revista Oeste um ofício da companhia aérea Latam atestando que Filipe e sua noiva — cuja família é de Ponta Grossa — embarcaram no voo Brasília-Curitiba em 31 de dezembro de 2022. Até mesmo a Procuradoria Geral da República já havia atestado a fragilidade das evidências contra Filipe e recomendou sua soltura — recomendação ignorada até o momento por Alexandre de Moraes.
Conheci pessoalmente Filipe G. Martins há 7 anos, numa palestra em São Paulo. Na ocasião, quando tive a honra de falar ao lado de um dos mais brilhantes alunos do professor Olavo de Carvalho, observei que todo o poder da esquerda no Brasil tem origem em um crime: o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, então coordenador da campanha presidencial de Lula, em janeiro de 2002. A morte de Celso Daniel é o crime fundador da era petista. Com tal origem, é fundamental para a esquerda inverter ontologicamente a realidade, cuidando para que o crime fique sem castigo e para que o castigo recaia sobre aqueles que não cometeram crime algum. Todo o poder do atual regime PT-STF depende da instauração do crime sem castigo e do castigo sem crime. Não foi por acaso que o sistema tirou um sujeito da cadeia para colocá-lo na cadeira presidencial; não é por acaso que o mesmo sistema persegue obsessivamente aqueles cujo crime consiste em revelar a estrutura da realidade — os alunos de Olavo de Carvalho. Três dos mais destacados intelectuais formados por Olavo são alvos preferenciais do regime: a juíza Ludmila Lins Grilo (exilada), o jornalista Allan dos Santos (exilado) e Filipe G. Martins (preso). Ludmila, Allan e Filipe cometeram crimes de pensamento — o mais hediondo dos crimes para a ditadura PT-STF.
Filipe G. Martins é acusado de outros crimes de pensamento — ou “de cogitação”. É bem verdade que esses crimes não existem no ordenamento jurídico brasileiro, mas todos estão carecas de saber que a lei no Brasil foi para as cucuias. Um crimepensar de Filipe seria ter supostamente participado da elaboração de um parecer sobre a aplicabilidade do artigo constitucional sobre a decretação do Estado de Defesa. A assessoria de imprensa do regime deu um apelido ao texto: minuta do golpe. Veja-se a cadeia de suposições que levou Filipe à cadeia: a suposta minuta (que, na verdade, era um parecer sobre um artigo da Constituição e de qualquer modo jamais foi colocada em prática) de um suposto golpe (que nunca aconteceu nem teria condições de acontecer) que supostamente teria dado ensejo à arruaça dominical de 8 de janeiro, em consequência da qual Filipe supostamente fugiu para os Estados Unidos em 31 de dezembro (releve-se aqui a inversão temporal), que o tornam suposto artífice de uma suposta conspiração para a suposta derrubada supostamente violenta de um suposto Estado Democrático de Direito.
Alguns podem estranhar que eu publique este artigo justamente na Sexta-Feira da Paixão. Como católico, no entanto, creio ser esta a data mais adequada para falar sobre uma vítima da injustiça. Naquela sexta-feira do ano 33, condenou-se não um mero inocente, mas a própria Inocência. Na cruz, Jesus sangrou em decorrência dos pecados do homem. O Cordeiro de Deus — hóstia que salva o gênero humano — é o grande reparador das injustiças de todos os tempos. A Ele eu ousei pedir, por intercessão da Mãe Rainha de Schoenstatt e da serva de Deus Madre Leônia, a liberdade de meu amigo Filipe G. Martins.
Que seja feita a justíssima e amabilíssima vontade de Deus sobre todas as coisas.
— Paulo Briguet é escritor e editor-chefe do BSM.
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