INTERNACIONAL

Jean-Luc Mélenchon: a potencial nova configuração política na França

Luís Batistela · 8 de Julho de 2024 às 10:44 ·

Mélenchon defende a promoção de pautas ambientais e de gênero, bem como o reconhecimento do 'estado palestino'. 

O segundo turno das eleições para a Assembleia Nacional francesa, realizado neste domingo (07), resultou numa vitória surpreendente da Nova Frente Popular (NFP), uma coalizão de esquerda formada às pressas para derrotar o Reagrupamento Nacional (RN), partido da advogada Marine Le Pen, classificado pela oposição como de “extrema-direita”. Com 100% da apuração concluída, a NFP conquistou 182 cadeiras na Câmara Baixa do Parlamento, seguida pelo Juntos, do presidente Emmanuel Macron, com 168 assentos, e o RN, com 143 lugares. Neste cenário, destaca-se a vitória de Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa (LFI), integrante da coalizão NFP.

No primeiro turno das eleições francesas, Le Pen e seus aliados angariaram 33,2% dos votos, o que se traduz em 297 das 557 cadeiras na Casa Baixa. Esse número permitia que a sigla indicasse um nome para o cargo de primeiro-ministro, como, por exemplo, o Eurodeputado Jordan Bardella, favorito e líder do RN. Na sequência estava a NFP; a Europa Ecologia – Os Verdes (EÉLV); o Partido Comunista da França (PCF); e a LFI. A NFP obteve 28,1% dos votos, isto é, 159 assentos na Casa Baixa. Em terceiro lugar, com 21% dos votos, surgiu a coalizão Juntos, que integra o partido Renascimento. O grupo deveria ocupar 70 lugares.

Agora, os resultados mudaram significativamente. Nenhum dos grupos alcançou a maioria absoluta de 289 dos 577 deputados. Este fator deve impulsionar a formação de uma aliança entre a NFP, liderada por Mélenchon, e a coalizão de Macron. Este novo cenário destaca que a aposta do presidente francês de convocar novas eleições legislativas, após o crescimento da direita no Parlamento Europeu, foi um sucesso, pois a aliança entre centro e esquerda foi crucial para barrar o progresso do RN neste domingo. Mesmo diante de um cenário de tensões políticas, os franceses demonstraram grande interesse em participar do pleito. De acordo com o Ministério do Interior da França, 59,7% dos eleitores participaram do 2º turno das eleições legislativas.

No entanto, a possível aliança entre os grupos parece ser viável apenas depois de Macron admitir sua derrota e o fim do 'reinado' político do Juntos. “A derrota do presidente da República e de sua coalizão está claramente confirmada. O presidente deve se curvar e admitir essa derrota sem tentar contorná-la”, disse Mélenchon. Com 72 anos, o líder da LFI coleciona uma série de campanhas presidências, avançando significativamente em cada disputa: obteve 11% dos votos em 2012; 19% em 2017; e 21% em 2022. Ao comentar o resultado do pleito deste domingo, Le Pen destacou que “a situação é insustentável. Jean-Luc Mélenchon se tornará o primeiro-ministro?”.

Mélenchon nasceu em Tânger, Marrocos, no ano de 1951, e possui formação acadêmica em Filosofia e Letras Modernas. Ele se destacou como militante socialista, alcançando o posto de senador mais jovem da França em 1986. Como líder da LFI, Mélenchon defende políticas como aumento de impostos para os mais ricos, nacionalização de antigas empresas públicas, aumento do salário mínimo, promoção de questões ambientais, raciais e identitárias, além do reconhecimento do 'estado palestino'. "No nível internacional, teremos que concordar em reconhecer o Estado da Palestina", declarou o político.

Em entrevista ao The New York Times, ele também defendeu a transferência do poder do presidente para o povo. “Atualmente vivemos em um país, a França, a sétima economia do mundo, com nove milhões de pessoas pobres; seis milhões que não conseguem alimentar seus filhos. Isso nunca foi a França”. Em 2018, seu comportamento explosivo chocou até mesmo os apoiadores. Durante uma operação de busca da polícia francesa na sede do LFI, Mélenchon gritou algo como “eu sou a lei”. Seis anos antes, em 2012, o militante esclareceu sua estratégia de conquistar o poder, baseada a revolução bolivariana: “A hegemonia política tem um pré-requisito: tudo deve estar em conflito para transformar um povo rebelde em um povo revolucionário”.

 


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