Investigado por ameaças a filho de desembargador, Appio seguirá afastado da 13ª Vara de Curitiba
O juiz Eduardo Appio, que comandava a Lava-Jato, teria ameaçado o filho do desembargador, Marcelo Malucelli, depois de uma decisão que restabelecia a prisão do advogado Tacla Duran, ex-operador financeiro da Odebrecht
De acordo com decisão do corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, o juiz Eduardo Appio seguirá afastado do cargo de titular da 13ª Vara Federal de Curitiba até que seja concluída a investigação sobre supostas ameaças ao filho do desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Marcelo Malucelli.
Appio, que comandava a Lava-Jato, foi afastado em maio deste ano, depois que o desembargador Marcelo Malucelli o denunciou o caso ao TRF-4. Segundo o desembargador, Appio ligou para o seu filho depois de uma decisão que restabelecia a prisão do advogado Tacla Duran, ex-operador financeiro da Odebrecht que agora acusa o ex-juiz Sergio Moro de extorsão e Deltan Dallagnol de perseguição. O filho de Malucelli é sócio e genro de Moro.
Alegando evidências de parcialidade envolvendo o TRF-4, a defesa de Appio solicitou que o caso fosse apurado pelo CNJ e não pela Corregedoria do TRF-4. Salomão, no entanto, disse não enxergar quebra de imparcialidade nesse caso.
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"A conduta do magistrado investigado aparenta configurar possível ameaça a desembargador, havendo ainda elementos que apontam que o investigado se utilizou de dados e informações constantes do sistema eletrônico da Justiça Federal para aquela finalidade, passando-se por servidor do tribunal. A utilização dessas informações representa, por si só, em tese, conduta gravíssima apta a justificar o afastamento provisório e cautela do magistrado sob investigação", afirmou o corregedor na decisão.
Ao conversar com a revista eletrônica Consultor Jurídico, o advogado de defesa de Appio, Pedro Serrano, demonstrou inconformismo com a decisão.
"Respeitamos a decisão do corregedor, mas estamos inconformados com seus fundamentos. Assim, iremos recorrer a todas as instâncias necessárias", afirmou.
Confira a íntegra da decisão.
Outras polêmicas
No início de março deste ano, a procuradora do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná, Carolina Bonfadini de Sá, pediu à Justiça Federal a suspeição de Eduardo Appio. De acordo com o MPF, Appio tem demonstrado apoio político a investigados pela operação, o que configuraria “quebra da imparcialidade” por parte do juiz.
O MPF cita um pedido de abertura de inquérito feito por deputados para que a Polícia Federal apure uma suposta doação feita por Appio para a campanha do presidente empossado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O juiz nega as doações.
Também são citadas denúncias de que o juiz assinou eletronicamente como “LUL22” em alguns dos processos no sistema oficial da Justiça Federal.
Na última segunda-feira (22), em entrevista à GloboNews, Appio admitiu ter usado as iniciais “LUL22” para acessar o sistema da justiça como forma de um protesto individual contra a prisão do petista, que considera ter sido ilegal.
Neste mês de maio, Appio extinguiu a condenação de Sérgio Cabral imposta pelo ex-juiz Sérgio Moro em 2017 e acatou uma denúncia do doleiro Alberto Youssef contra Moro. Cabral havia sido condenado a 14 anos e 2 meses de prisão sob acusação de receber R$ 2,7 milhões em propina nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Alberto Youssef, foi um dos primeiros delatores da Lava Jato e peça-chave para o desenvolvimento da operação.
Appio também havia intimado o ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, para prestar depoimento como testemunha em procedimento que envolve o advogado Rodrigo Tacla Duran - ex-operador financeiro da Odebrecht que agora acusa Moro de extorsão e Deltan de perseguição.
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