Há 19 anos ganhávamos um intercessor
"Somos peregrinos nessa terra (...). Não sabemos até quando! Devemos encarar a vida. Não com tristeza, mas com seriedade e esperança" — São João Paulo II.
Em 2 de abril de 2005, a Igreja comemorava a Páscoa de Karol Józef Wojtyła, o Papa São João Paulo II. O peregrino polonês, que exerceu o pontificado por 26 anos e 5 meses, é lembrado como um grande defensor das famílias, da juventude e da Fé, tornando-se um forte oponente da Teologia da Libertação e dos movimentos revolucionários. O Pontífice também protagonizou um dos episódios mais traumáticos do século XX, quando em 13 de maio de 1981 foi gravemente ferido por um disparo na Praça de São Pedro, em Roma.
Wojtyła nasceu em 18 de maio de 1920 na pequena cidade de Wadowice, a 50 quilômetros da metrópole polonesa Cracóvia. Ele era o caçula dos três filhos de Karol Wojtyła e Emília Kaczorowska. Sua mãe faleceu em 1929; seu irmão mais velho, Edmundo, em 1932; e seu pai, um suboficial do exército, em 1941. Sua irmã Olga faleceu antes mesmo de seu nascimento.
Já em sua mocidade, após completar o ensino superior, Karol obteve doutorado em teologia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, em Roma, no ano de 1948, com uma tese sobre a Fé nas obras de São João da Cruz. Em 1953, obteve também em filosofia pela Universidade Católica de Lublin, na Polônia, com a tese “Avaliação da possibilidade de fundar uma ética católica sobre a base do sistema ético de Max Scheler”.
Em 16 de outubro de 1978 foi eleito para comandar a Santa Igreja Católica. Teve o terceiro maior pontificado da história – 26 anos, 5 meses e 17 dias –, perdendo apenas para São Pedro, cujo pontificado durou aproximadamente entre 34 a 37 anos, e Pio IX, que comandou a Igreja por 31 anos. Em outubro daquele mesmo ano, em sua primeira missa como Bispo de Roma, proferiu a frase que marcaria seu papado: “Não tenhais medo!”
“Quando, em 22 de outubro de 1978, eu disse as palavras: ‘Não tenhais medo!’ na Praça de São Pedro, eu não poderia saber bem até onde elas iriam me levar e toda a Igreja. Seu significado veio mais do Espírito Santo, o Consolador prometido pelo Senhor Jesus aos Seus discípulos, do que do homem que os falou”, comentou Wojtyła em seu livro – “Cruzando o Limiar da Esperança”.
Sua dedicação aos jovens fê-lo amado no mundo inteiro; no Brasil, em especial, tornou-se o “João de Deus”, um apelido empregado pelos fiéis em espontânea homenagem ao seu testemunho de Fé, alegria e esperança. Reuniu milhões de jovens nas 19 edições das Jornadas Mundiais das Juventudes (JMJs) criadas em seu pontificado. Tamanho era seu ímpeto evangelizador que percorreu por 129 países. Ordenou 1.340 beatificações e 483 canonizações.
Salvaguardando a integridade das famílias e da liberdade religiosa contra o comunismo ateu, foi classificado por Moscou como um “inimigo” imediato do regime soviético. “Os russos teriam preferido ver Soljenitsin tornar-se Secretário Geral da ONU a ver um polaco tornar-se Papa”, disse o jornalista Alberto Roncai em “La Stampa” de 17/10/78. “Trata-se de um terremoto psicológico para todo o Leste”, destacou o Arcebispo emérito de Viena, o Cardeal Franz Konig.
Denunciou inúmeras vezes – Gniezno (1979), Paris (1980), Compostela (1982), Viena (1983) – a divisão europeia estabelecida pelo movimento revolucionário e a construção do muro de Berlim. Na Carta Encíclica “Centesimus Annus”, assinada em maio de 1991, São João Paulo II condenou a “ditadura comunista” aplicada pelos soviéticos e o materialismo perpetuado pela filosofia marxista:
“É verdade que, desde 1945, as armas silenciam no Continente europeu; mas a verdadeira paz — deve-se lembrar — nunca é o resultado da vitória militar, mas implica a superação das causas da guerra e a autêntica reconciliação entre os povos. Durante muitos anos, de fato, houve, na Europa e no mundo, mais uma situação de não-guerra do que de paz verdadeira.”
“Metade do Continente caiu sob o domínio da ditadura comunista, enquanto a outra metade se organizava para se defender contra tal perigo. Muitos povos perdem o poder de dispor de si próprios, veem-se encerrados nos limites sufocantes de um império, enquanto se procura destruir a sua memória histórica e a raiz secular da sua cultura. Multidões enormes são forçadas a abandonar a sua terra e violentamente deportadas.”
“No fim da II Guerra Mundial, porém, um tal desenvolvimento está ainda em formação nas consciências, e o dado mais saliente é o estender-se do totalitarismo comunista sobre mais de metade da Europa e parte do mundo. A guerra, que deveria restituir a liberdade aos indivíduos e restaurar os direitos dos povos, terminou sem ter conseguido estes fins; pelo contrário, acabou de um modo que, para muitos povos, especialmente para aqueles que mais tinham sofrido, abertamente os contradiz. Pode-se dizer que a situação criada deu lugar a diversas respostas.”
“Em alguns Países, e sob alguns aspectos, assiste-se a um esforço positivo para reconstruir, depois das destruições da guerra, uma sociedade democrática e inspirada na justiça social, a qual priva o comunismo do potencial revolucionário, constituído por multidões exploradas e oprimidas. Estas tentativas procuram em geral preservar os mecanismos do livre mercado, assegurando através da estabilidade da moeda e da firmeza das relações sociais, as condições de um crescimento económico estável e sadio, no qual as pessoas, com o seu trabalho, podem construir um futuro melhor para si e para os próprios filhos.”
“Simultaneamente, estes países procuram evitar que os mecanismos de mercado sejam o único termo de referência da vida associada e tendem a submetê-los a um controle público que faça valer o princípio do destino comum dos bens da terra. Uma certa abundância de ofertas de trabalho, um sólido sistema de segurança social e de acesso profissional, a liberdade de associação e a ação incisiva do sindicato, a previdência em caso de desemprego, os instrumentos de participação democrática na vida social, neste contexto, deveriam subtrair o trabalho da condição de «mercadoria» e garantir a possibilidade de realizá-lo com dignidade.”
“Existem, depois, outras forças sociais e movimentos de ideias que se opõem ao marxismo com a construção de sistemas de «segurança nacional», visando controlar de modo capilar toda a sociedade, para tornar impossível a infiltração marxista. Exaltando e aumentando o poder do Estado, elas pretendem preservar o seu povo do comunismo; mas, fazendo isso, correm o grave risco de destruir aquela liberdade e aqueles valores da pessoa, em nome dos quais é preciso opor-se àquele.”
“Outra forma de resposta prática, enfim, está representada pela sociedade do bem-estar, ou sociedade do consumo. Ela tende a derrotar o marxismo no terreno de um puro materialismo, mostrando como uma sociedade de livre mercado pode conseguir uma satisfação mais plena das necessidades materiais humanas que a defendida pelo comunismo, e excluindo igualmente os valores espirituais. Na verdade, se por um lado é certo que este modelo social mostra a falência do marxismo ao construir uma sociedade nova e melhor, por outro lado, negando a existência autónoma e o valor da moral, do direito, da cultura e da religião, coincide com ele na total redução do homem à esfera do económico e da satisfação das necessidades materiais.”
A carta fora escrita quase dez anos após o pontífice protagonizar um dos episódios mais terríveis do século XX. Em 13 de maio de 1981, João Paulo II percorria a Praça de São Pedro em seu papamóvel, quando fora subitamente atingido por um disparo de arma de fogo – empreendido pelo turco Alí Agca – caindo gravemente ferido. Enquanto se recuperava no hospital, São João Paulo II solicitou todas as informações disponíveis sobre Nossa Senhora de Fátima. Posteriormente, o Papa empenhou-se em cumprir o segundo segredo de Fátima, no qual a Mãe de Deus solicitava a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração.
Uma imagem de Nossa Senhora de Fátima foi levada ao Papa em Castel Gandolfo, e ele solicitou à Virgem que fosse erguida uma pequena igreja na fronteira entre a Polônia e a então União Soviética. Na construção, a imagem foi posicionada de modo a voltar-se para a Rússia.
Em 13 de maio de 1982, um ano após o atentado, o papa realizou sua primeira peregrinação à Fátima: “Desejo manifestar minha gratidão à Virgem pelo seu papel intercessor, por preservar minha vida e por minha restauração à saúde”. No ano seguinte, o pontífice expressou sua devoção à Virgem Maria ao oferecer ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima a bala que fora removida de seu corpo. Essa mesma bala agora faz parte da coroa da imagem mariana no santuário.
Enfim, após longos anos de batalhas travadas contra o movimento revolucionário e os ‘espíritos malignos espalhados pelos ares’, João Paulo II teve sua Páscoa em 2 de abril de 2005, às 21h37, na noite anterior ao Domingo da Misericórdia. O então substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, dom Leonardi Sandri, anunciou seu falecimento para milhares de pessoas na Praça de São Pedro. Mais de três milhões de peregrinos estiveram presentes em suas exéquias, realizadas desde sua Páscoa até o dia 8 de abril.
O seu sucessor, o Papa Bento XVI, em 28 de abril, iniciou a causa de sua beatificação e canonização. Bento XVI o beatificou em 1º de maio de 2011 e ele foi canonizado pelo papa Francisco em 27 de abril de 2014, junto com são João XXIII.
São João Paulo II, rogai por nós!
"Por apenas R$ 12/mês você acessa o conteúdo exclusivo do Brasil Sem Medo e financia o jornalismo sério, independente e alinhado com os seus valores. Torne-se membro assinante agora mesmo!"