Exilado político grava mensagem de Dia dos Pais para Alexandre de Moraes
Corretor catarinense Gilberto Ackermann afirma em vídeo: “A nossa justiça não é daqui. Eu não tenho estudo, eu não tenho nada, eu não tenho a minha liberdade, eu não tenho mais o solo do meu país”
O exilado político Gilberto Ackermann, de 51 anos, gravou neste domingo (11), Dia dos Pais, um vídeo dirigido ao ministro Alexandre de Moraes. Beto, um corretor de seguros e pai de família catarinense, que jamais tivera problemas com a Justiça, foi condenado a 16 anos de prisão pelos falsos crimes atribuídos aos manifestantes de 8 de janeiro: associação criminosa armada, tentativa de golpe de estado, abolição do “estado democrático de direito”, sem que se tenha colhido uma prova contra ele.
Distante do seu país e da sua família, Beto deixou uma mensagem de Dia dos Pais ao ministro supremo. Na mensagem, ele destaca de que ambos – Ackermann e Moraes – têm algo em comum: é a primeira vez que passaram o segundo domingo de agosto sem os seus pais. Jens Ackermann morreu em Curitiba, no dia 15 de abril, aos 77 anos. León Lima de Moraes morreu em São Paulo, no dia 28 de maio, aos 80 anos.
Leia a seguir a transcrição do vídeo:
“Boa tarde, ministro Alexandre de Moraes. Como está o senhor? Como está o seu Dia dos Pais? Hoje é o meu primeiro Dia dos Pais sem a presença do meu pai. Temos algo em comum, né? Também é o segundo domingo Dia dos Pais sem a presença do meu filho, da minha família, por injustiça.
Sabe por quê? Porque quando o senhor veio nos visitar lá na Papuda, o senhor falou assim: ‘O preso que quiser ser transferido para o seu Estado, pode falar com o seu advogado, pode pedir para o seu advogado peticionar, que eu assino’.
Eu sou de uma cidadezinha do interior de Santa Catarina. Benedito Novo, sou um capiauzinho; para o senhor, eu sou um capiauzinho, um merda, um bosta da sociedade...
Mas meu pai – que hoje não está mais aqui – me ensinou a ter palavra. O senhor falou, a minha advogada peticionou, o senhor sabe, e o senhor nunca nem leu, assim como o senhor nunca leu a minha defesa e a defesa de nenhum preso do 8 de janeiro.
Eu penso que realmente a nossa semelhança para por aí – porque o meu pai morreu com orgulho de mim. Eu sou um sujeito que sempre honrou os preceitos, os ensinamentos, a parte bíblica.
O senhor sempre fala dos salmos, né? Lembra quando o senhor visitou a gente lá, que um pastor falou para o senhor de um salmo? Salmo 58. É... Eu vejo um horizonte. Hoje eu sou um foragido da justiça, de crimes que a mim foram imputados, que nunca foram provados. Golpe de Estado? Quem é Gilberto? Golpe de Estado não cola. Associação criminosa armada? Eu não conhecia ninguém do 8 de janeiro. Criminosa. Não cola, sou réu primário. Armado? Armado com a bandeira do meu país.
Hoje eu entendo porque o senhor têm um peso na consciência. Nos tiraram o devido direito de defesa, a ampla defesa. Nos tiraram da mídia e colocaram tudo para o virtual. Só foram aqueles três primeiros processos que foram ali (presenciais). Vocês viram que não iam se sustentar, e aí tiraram tudo. Mas eu deixo aqui um feliz Dias dos Pais pro senhor. Seu pai não tem culpa da excrescência que o senhor se tornou. Um grande abraço – e que a sua consciência pese. A nossa justiça não é daqui. Eu não tenho estudo, eu não tenho nada, eu não tenho a minha liberdade, eu não tenho mais o solo do meu país. Mas uma coisa eu tenho: eu deito a minha cabeça no travesseiro, por pior que seja a minha dor hoje, eu deito a minha cabeça no travesseiro e durmo. E o senhor? Até quando o senhor vai conseguir dormir? Abraço”.
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