Doria, o governador-ator, e a tragédia de São Paulo
A encenação teatral de João Doria para anunciar novas medidas de trancamento e justificar o fracasso do combate à pandemia em seu estado
João Doria e sua equipe devem ter passado a última madrugada ajustando cada detalhe do novo espetáculo. Hoje o palco seria especial, mais alto, de maior alcance. O governador-artista finalmente teria a chance de dar tudo de si.
Pois assim o fez. Às 12h45, em ponto, Doria escalou a montanha de defuntos, ficou alto o suficiente para, mesmo que baixinho, ser visto por toda a nação, e, como ator shakespeariano, começou o seu monólogo: uma peça de retórica clássica com retoques de PNL mui moderna.
Já logo no começo, ameaça de lágrimas e voz embargada:
“Tivemos o pior dia da pandemia, desde março do ano passado”.
E então foi lançando sua retórica. Disse do sofrimento das famílias, dos filhos que cresceriam sem seus pais, das viúvas precoces. Reclamou:
“Não podemos banalizar a morte”.
Jurou, ainda com olhos úmidos, que cada morte lhe doía, que não aguentava mais assistir a tanta desgraça.
Sempre com jeito de choro.
Belo exórdio, apelando ao sentimento da plateia, deixando todos de coração e miolo mole, entorpecendo suas inteligências antes de dar o bote.
Seguiu a narração:
Estabeleceu a premissa de que havia um culpado pela situação terrível que acabara de lamentar: Bolsonaro...