Coronavírus: vida e morte sob o cerco de Wuhan

No dia 1º de janeiro de 2020, as autoridades chinesas detiveram oito residentes de Wuhan, acusados de disseminar fake news nas redes sociais a respeito de um misterioso vírus que teria surgido na cidade em meados de dezembro. A fim de conter os rumores que ameaçavam a estabilidade social de Wuhan, os censores virtuais conduziram uma varredura na internet chinesa, em vista de eliminar por completo os resquícios da informação. O aparente golpe final contra a teoria da conspiração foi dado pelos especialistas das agências de checagem de fato e pela mídia do Partido Comunista, que, em uníssono, desmentiram o perigoso boato.
Apesar da campanha promovida pelo governo, o burburinho não cessou, principalmente entre aqueles que presenciavam o número crescente de casos de pneumonia entre funcionários e clientes do Mercado Huanan de Frutos do Mar. No Weibo (equivalente ao Twitter), alguns usuários, mesmo sob ameaça de prisão, divulgaram relatos de pacientes e enfermeiros anônimos a respeito de um vírus extremamente resistente a medicamentos e que causava uma febre imune a antitérmicos.
Nos primeiros 19 dias do ano, apenas os jovens conectados às postagens do Weibo (antes que fossem excluídas pelos censores) e aos VPNs sabiam a gravidade da situação, e tentavam, em vão, alertar seus pais e amigos. Mesmo com a pressão do Ocidente e dos dissidentes internos, a imprensa chinesa demorou a obter a autorização para alertar o povo com a intensidade devida. Finalmente, no dia 19 de janeiro, quase um mês depois dos primeiros relatos, a população começou a ser orientada pela imprensa a utilizar máscaras de proteção e evitar aglomerações públicas. A situação havia saído do controle.